São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mantega promete R$ 110 bi para o BNDES

Banco já tem R$ 50 bi, e outros R$ 60 bi "virão", afirma ministro; plano de estímulo foca em habitação e infra-estrutura

Governo discute aumento de subsídios para casas populares, prazos mais longos e mais crédito para imóveis de preço mais alto

DOS COLUNISTAS DA FOLHA

O BNDES já tem garantidos R$ 50 bilhões para 2009. "Outros R$ 60 bilhões virão", disse o Guido Mantega à Folha. O ministro diz que não pode adiantar as fontes de financiamento, algumas delas ainda em discussão. Mas indica que o dinheiro pode vir do Tesouro, de instituições financeiras multilaterais (como Banco Mundial ou BID), do FGTS e talvez até do Fundo Soberano do Brasil, embora tais recursos devam também ser empregados no financiamento de investimentos da Petrobras, por exemplo.
Neste ano, o governo já repassou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social recursos do FGTS, subsidiados pelo Tesouro. Também reforçou o caixa da instituição com recursos extras do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Outra medida foi autorizar bancos a reduzir o recolhimento compulsório ao Banco Central caso emprestem ao BNDES (comprem títulos do banco estatal).
O ministro também enfatizou que as duas linhas principais do programa de estímulo à economia no ano que vem devem ser o aumento da construção de moradias e novos projetos de infra-estrutura. A seguir, trechos da entrevista. (VINICIUS TORRES FREIRE E GUILHERME BARROS)

 


CRESCIMENTO DO PIB
As projeções dos economistas da Fazenda são de crescimento de 3,5% no último trimestre, em relação ao mesmo trimestre de 2007. Isso é apenas uma projeção. Em relação ao terceiro trimestre, pode haver uma queda. Mas, para o último trimestre de 2008, se ficarmos em 3,5%, depois aceleramos um pouco e dá os 4% que esperamos para 2009.

RECEITA CRESCE
A arrecadação cresceu menos do que o projetado em novembro, mas deve ter crescido uns 7%. Até agora, em dezembro, a projeção foi cumprida, até com uma pequena sobra -tenho os dados dia a dia, são termômetro importante da atividade, que está se recompondo. Mas esses números flutuam. Quer dizer, até pode haver alguma frustração no dia 15 ou 20, não dá para garantir.

MELHORA NO CRÉDITO
Os setores que são diretamente afetados pelo crédito sofreram uma forte desaceleração, caso do setor automobilístico. O crédito ficou muito caro e escasso. Houve um choque de confiança grande. Mas muitos setores estão aquecidos, como no caso de varejo, supermercados. Na reunião com os empresários [na quinta-feira, com o presidente e ministros], o Pão de Açúcar, o Wal-Mart, a Nestlé disseram que continuam vendendo muito bem.
O financiamento para veículos está melhor em dezembro. Só não voltou mais ao normal o financiamento de carros usados, que era praticado pelos bancos médios e pequenos, que não voltaram ao mercado. Eles são fundamentais para viabilizar tais vendas. Também o custo de financiamento está diminuindo, começa a voltar ao nível de setembro.

CASA PRÓPRIA
O plano é [aumentar] o número de casas financiadas de 600 mil, que deve ser o deste ano, para 900 mil, em 2009. A Caixa é sempre o principal "player", mas vamos começar a discutir detalhes na semana que vem [nesta]. Depois vamos chamar o setor privado para definir [o que fazer]. O setor privado tem reivindicações como permitir financiamentos [de moradias] mais caros [pelo FGTS].

SUBSÍDIO
Estamos discutindo também o PSH [Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social, linha de crédito para famílias com renda inferior a R$ 1.140, que subsidia a construção de casas ou conjuntos habitacionais, bancado por dinheiro do Orçamento da União, de Estados e municípios]. Vamos ver se o subsídio vai aumentar. Habitação de pequeno valor você tem que subsidiar. Além disso, podemos aumentar o prazo de financiamento. Então, tudo isso nós vamos fazer. Vai ser um belo programa habitacional. Provavelmente, deverá ser lançado em janeiro, ao lado de um programa de reforço de investimento em infra-estrutura.

PLANO ANTICRISE
Os dois pontos importantes [do plano de estímulo à economia] vão ser habitação e infra-estrutura. São setores que imprimem grande dinamismo à economia, que são fortemente empregadores. E impulsionam os setores de bens não-comercializáveis, que não afetam a balança. É preciso tomar cuidado quando se diz: "Olha, se você tiver um crescimento forte, você pode afetar o balanço de pagamentos". Depende do crescimento. Um crescimento baseado em construção civil praticamente não afeta [o saldo da balança comercial] pois produzimos aço, cimento etc.

ANTICRÍTICO
Olha, vamos comparar as projeções do [economista Afonso Celso] Pastore nos últimos três anos, para ver se ele tinha razão. Por favor, façam isso, porque é dura a vida. Vocês me vêm com Pastore, Armínio Fraga, Mailson da Nóbrega. Pega as projeções desse pessoal. Vê se eles acertaram alguma [o ministro comenta as críticas de que o excessivo estímulo à economia em 2009 pode prejudicar as contas externas].
É claro que não se pode crescer muito agora, pois há menos recursos externos, pode haver dificuldades. Mas mudaram as variáveis. Vai mudar a balança comercial. O item que mais pressionou a queda do saldo comercial foi combustíveis. Isso mudou. A remessa de lucros e dividendos vai diminuir. A despesa com viagens internacionais vai cair. O novo câmbio vai reduzir a importação de vários itens, vai favorecer a exportação de outros. Vamos ter um outro patamar de câmbio, mais favorável às contas externas.

PREJUDICADOS
Temos que andar rápido para começar o ano já estimulando a economia em certos setores, aqueles que devem se desacelerar, o que é inevitável, por exemplo, naqueles voltados para exportação, como o siderúrgico, para citar um caso. O estímulo à construção civil vai dar impulso ao setor siderúrgico.

CORTE DE IMPOSTOS
No começo do ano, tomamos várias medidas [de redução de impostos sobre] investimento. Aceleramos bastante. Se for necessário, podemos fazer mais, mas não está na pauta agora. Agora, a preocupação principal é a demanda, o custo financeiro, o custo do capital de giro para as empresas.


Texto Anterior: Mohamed El-Erian: Para salvar a economia mundial
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.