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Com crise, BB ganha depósitos no exterior
Volume captado nas agências do banco fora do país salta de US$ 1,2 bilhão para US$ 4 bilhões, incremento de 233%
Por estar fora do epicentro da crise, banco se tornou "marca segura" diante das turbulências no sistema financeiro global, diz diretor
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco do Brasil está conseguindo tirar proveito da crise
de confiança que atingiu o setor
financeiro no mundo todo. De
setembro até hoje, a instituição
controlada pelo governo federal aumentou em mais de 200%
o volume de depósitos nas contas de empresas abertas nas
agências no exterior e viu crescer em 20% a quantidade de
clientes pessoas físicas lá fora.
Para o diretor da área internacional do BB, Sandro Marcondes, como tem uma presença forte no financiamento do
comércio brasileiro com o exterior e estava fora do epicentro
da crise -marcada pela quebra
de grandes e tradicionais instituições de investimento, como
o Lehman Brothers-, o banco
ficou identificado como uma
"marca segura".
"Não tivemos problemas de
liquidez, e a maior parte do aumento nas captações veio do
medo [das pessoas e empresas]
de problemas com outras instituições. O fluxo começou a
crescer a partir de setembro."
O novo quadro, porém, não
deve se traduzir em crescimento expressivo do lucro da instituição no último trimestre deste ano, porque a participação
das operações externas é pequena diante dos negócios no
Brasil. Em 2007, a área externa
respondeu por 8% do lucro do
BB. "A participação no resultado final é pouco significativa. O
melhor é que isso ajuda na liquidez porque tem dinheiro
entrando e demonstra confiança na marca", diz Marcondes.
Além do receio ante a quebradeira no mercado financeiro internacional, contou a favor
do BB a trajetória de desvalorização do real. Na expectativa de
que a moeda americana ficasse
mais forte em relação ao real,
muitos empresários adiaram a
conversão dos dólares para a
divisa brasileira.
Normalmente, as empresas
que movimentam dinheiro lá
fora operam com mais de um
banco. Nos últimos dois anos,
segundo Marcondes, o BB intensificou os esforços para ganhar clientela, sobretudo em
Nova York e Londres, centros
financeiros mundiais.
Depois que o Banco Central
autorizou os exportadores e
importadores a manterem receitas em dólares no exterior, o
BB conseguiu alcançar 200
contas de pessoas jurídicas. Segundo Marcondes, juntas, essas empresas representam 80%
da corrente de comércio brasileira, mas o volume movimentado nas contas delas no BB era
de apenas US$ 1,2 bilhão.
A partir do auge da crise, em
15 de setembro, o volume captado pulou para US$ 4 bilhões,
alta de 233%. São todas empresas brasileiras ou filiais de grupos estrangeiros instalados no
país. Segundo o diretor, o maior
desafio para o banco, agora, é
sustentar esse novo patamar, já
que são recursos voláteis que
podem sair da conta das empresas de acordo com a necessidade de dinheiro em caixa.
Pessoas físicas
A situação dos correntistas
pessoas físicas é oposta à das
empresas. O BB aumentou de
1.000 para 1.200 a quantidade
de clientes no exterior, mas a
movimentação desses novos
correntistas foi praticamente
anulada pelas remessas para o
Brasil dos clientes antigos.
Com isso, o volume movimentado nesse segmento, que é
concentrado nas agências de
Miami e Paris, não cresceu.
"A grande maioria dos novos
clientes é formada por brasileiros que vivem no exterior, e o
motivo da migração é medo
mesmo de ter problema no
banco em que tinham recursos
antes", afirma o diretor do Banco do Brasil.
No caso específico das empresas, diz, o banco tem a seu
favor o fato de ser participante
direto do sistema de pagamentos nas regiões onde opera. Isso
reduz o risco para o cliente, já
que suas operações não são liquidadas com a intermediação
de uma outra instituição.
A reportagem da Folha procurou outros bancos brasileiros com presença internacional, como Bradesco e Itaú, para
saber como estão as captações
externas com a crise, mas as
instituições não quiseram se
manifestar sobre o assunto.
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