São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Com crise, BB ganha depósitos no exterior

Volume captado nas agências do banco fora do país salta de US$ 1,2 bilhão para US$ 4 bilhões, incremento de 233%

Por estar fora do epicentro da crise, banco se tornou "marca segura" diante das turbulências no sistema financeiro global, diz diretor

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco do Brasil está conseguindo tirar proveito da crise de confiança que atingiu o setor financeiro no mundo todo. De setembro até hoje, a instituição controlada pelo governo federal aumentou em mais de 200% o volume de depósitos nas contas de empresas abertas nas agências no exterior e viu crescer em 20% a quantidade de clientes pessoas físicas lá fora.
Para o diretor da área internacional do BB, Sandro Marcondes, como tem uma presença forte no financiamento do comércio brasileiro com o exterior e estava fora do epicentro da crise -marcada pela quebra de grandes e tradicionais instituições de investimento, como o Lehman Brothers-, o banco ficou identificado como uma "marca segura".
"Não tivemos problemas de liquidez, e a maior parte do aumento nas captações veio do medo [das pessoas e empresas] de problemas com outras instituições. O fluxo começou a crescer a partir de setembro."
O novo quadro, porém, não deve se traduzir em crescimento expressivo do lucro da instituição no último trimestre deste ano, porque a participação das operações externas é pequena diante dos negócios no Brasil. Em 2007, a área externa respondeu por 8% do lucro do BB. "A participação no resultado final é pouco significativa. O melhor é que isso ajuda na liquidez porque tem dinheiro entrando e demonstra confiança na marca", diz Marcondes.
Além do receio ante a quebradeira no mercado financeiro internacional, contou a favor do BB a trajetória de desvalorização do real. Na expectativa de que a moeda americana ficasse mais forte em relação ao real, muitos empresários adiaram a conversão dos dólares para a divisa brasileira.
Normalmente, as empresas que movimentam dinheiro lá fora operam com mais de um banco. Nos últimos dois anos, segundo Marcondes, o BB intensificou os esforços para ganhar clientela, sobretudo em Nova York e Londres, centros financeiros mundiais.
Depois que o Banco Central autorizou os exportadores e importadores a manterem receitas em dólares no exterior, o BB conseguiu alcançar 200 contas de pessoas jurídicas. Segundo Marcondes, juntas, essas empresas representam 80% da corrente de comércio brasileira, mas o volume movimentado nas contas delas no BB era de apenas US$ 1,2 bilhão.
A partir do auge da crise, em 15 de setembro, o volume captado pulou para US$ 4 bilhões, alta de 233%. São todas empresas brasileiras ou filiais de grupos estrangeiros instalados no país. Segundo o diretor, o maior desafio para o banco, agora, é sustentar esse novo patamar, já que são recursos voláteis que podem sair da conta das empresas de acordo com a necessidade de dinheiro em caixa.

Pessoas físicas
A situação dos correntistas pessoas físicas é oposta à das empresas. O BB aumentou de 1.000 para 1.200 a quantidade de clientes no exterior, mas a movimentação desses novos correntistas foi praticamente anulada pelas remessas para o Brasil dos clientes antigos. Com isso, o volume movimentado nesse segmento, que é concentrado nas agências de Miami e Paris, não cresceu.
"A grande maioria dos novos clientes é formada por brasileiros que vivem no exterior, e o motivo da migração é medo mesmo de ter problema no banco em que tinham recursos antes", afirma o diretor do Banco do Brasil.
No caso específico das empresas, diz, o banco tem a seu favor o fato de ser participante direto do sistema de pagamentos nas regiões onde opera. Isso reduz o risco para o cliente, já que suas operações não são liquidadas com a intermediação de uma outra instituição.
A reportagem da Folha procurou outros bancos brasileiros com presença internacional, como Bradesco e Itaú, para saber como estão as captações externas com a crise, mas as instituições não quiseram se manifestar sobre o assunto.


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