São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Mais jovens buscam emprego nos EUA

Com o agravamento da crise, adolescentes procuram trabalho para tentar compensar perda na mesada

LISA FODERARO
DO "NEW YORK TIMES"

Jodi Hamilton começou seu último ano de colégio em Woodcliff Lake (Nova Jersey) com a habitual prosperidade. Recebia US$ 100 semanais dos seus pais e aulas particulares de pilates, além de um professor de física que comparecia uma vez a cada sete dias à casa de 372 metros quadrados.
Mas, em outubro, a mãe dela perdeu o emprego dirigindo um grande consultório odontológico, conseguindo um mais perto de casa, que exige mais horas de trabalho por menos dinheiro. À aula de pilates deu adeus, assim como às saídas para comer sushi. A mesada, que ela usa para pagar o almoço durante a semana, caiu para US$ 60. Em vez de ter um tutor, Jodi se tornou uma, ganhando US$ 150 semanais -por isso e pelo trabalho de babá.
"Eu só achei que a coisa responsável a ser feita era conseguir um trabalho e ter meu próprio dinheiro, para que meus pais não tivessem que pagar por tudo", disse Jodi, 17. "Eu sempre gostei de economizar para algo que me interessasse: um anel, um colar, uma bolsa."
É impossível quantificar quantos pais reduziram mesadas nos últimos meses ou quantos filhos procuraram trabalho, formal ou informal nos EUA. Mas entrevistas com dezenas de adolescentes, pais, professores e empregadores indicam que muitos jovens de famílias bem estabelecidas parecem ter encontrado uma nova ética de trabalho à medida que a crise econômica, que colocou em risco os empregos e os investimentos dos pais, também resultou em menos dinheiro a ser gasto em lojas e no cinema.
Após priorizarem nos últimos anos os estudos e as atividades extracurriculares, esses adolescentes estão procurando trabalho na pior época possível, com o emprego de jovens de 16 a 19 anos no seu menor nível em 61 anos, já que estão tendo que competir com adultos por postos de baixa remuneração.
Julia Stark, aluna do último ano de uma escola particular de Nova York, afirmou que ela e seus amigos estão "todos tentando trabalhar o máximo que podem" para conseguirem pagar as saídas para jantar nos finais de semana.
Um site da internet que põe em contato alunos do ensino médio e empresas locais com oportunidades de trabalho disse que, a partir de setembro (quando a crise piorou), recebeu cem interessados mensais, ante 40 a 60 por mês no ano passado. "Eu não queria incomodar meus pais por mais dinheiro para o final de semana", disse o estudante Christian Rosier, que conseguiu US$ 50 por algumas horas trabalhando com mudança. "Eu gosto desse tipo de trabalho porque posso fazê-lo em uma tarde de sexta-feira e ainda tenho tempo para curtir o final de semana com os meus amigos."
Adolescentes de famílias das classes média e trabalhadora, é claro, estão sentindo a mesma, senão maior, pressão. Sumit Pal, 17, conta que seus pais cortaram há dois meses os US$ 5 semanais, depois que o restaurante onde o pai é empregado começou a perder trabalho. No fim do mês passado, Pal fez uma entrevista de emprego com uma empresa que patrocina bandas de rock.
"Eu não me importo de perder a mesada", afirmou. "Esse dinheiro vai para outras coisas, como alimentos."
A participação de adolescentes no mercado de trabalho dos EUA tem caído constantemente desde 1979, quando 49% de jovens de 16 e 17 anos tinham algum emprego. No ano passado, esse número era de 30%.
Um estudo recente da Universidade Northeastern mostrou que o emprego de jovens aumentou de 2005 a 2007 entre aqueles que vêm de lares que ganham até US$ 150 mil por ano: 14% dos adolescentes de famílias que recebem menos de US$ 20 mil anuais trabalham; no caso das famílias que ganham até US$ 60 mil, o percentual chegou a 26%; para as que recebem até US$ 80 mil, ficou em 32%; e é de 33% entre aquelas que ganham entre US$ 120 mil e US$ 150 mil.
Nas famílias que ganham acima de US$ 150 mil, a taxa cai para 28%. "A pesquisa mostra que, quanto maior a mesada que você ganha dos seus pais, menor será a probabilidade de trabalhar", afirmou Andrew Sum, diretor do centro de pesquisas da Northeastern.
A partir dos anos 90, vários filhos de famílias abastadas que tentam entrar na universidade têm sido desencorajados a buscar trabalho, priorizando trabalhos voluntários. Ajudar na reconstrução de casas em Nova Orleans ou ensinar inglês em países em desenvolvimento parecia melhor para o currículo que servir sorvete em um trabalho de verão.
Para Brent Neiser, de um grupo que oferece programas de conhecimento financeiro, os pais tendem a "subvalorizar os benefícios de um trabalho rotineiro". Ele diz que trabalhos modestos podem até ser valiosos -e impressionar os responsáveis pela admissão nas universidades.
"Regras de vestimenta, normas e pontualidade são enriquecedores por si só", afirmou Neiser. "Você está contribuindo para a economia, está contribuindo para a sua economia pessoal e está obtendo habilidades e hábitos que vão lhe preparar para um emprego de tempo integral", disse.


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