|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRASH GLOBAL
Relatório confidencial do Fundo aponta desestabilização causada pela instituição
FMI admite ter criado pânico na Ásia
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Em meio a uma das maiores tempestades de ataques em 52 anos de
história, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sofreu ontem
outro revés de imagem com a divulgação de uma avaliação interna
de que uma de suas decisões recentes ajudou a criar pânico no
sistema bancário de países da Ásia.
Cópia do relatório reservado foi
obtida pelo jornal "The New York
Times", o mais influente dos EUA,
que publicou sua súmula na edição de ontem. Em Jacarta, Indonésia, o diretor-gerente do Fundo,
Michel Camdessus, disse que o
FMI não pode ser responsabilizado pelos recentes acontecimentos
na Ásia e que a culpa deve ser atribuída aos governos locais.
O FMI tem um Escritório de Auditagem e Inspeção Internas, que
analisa rotineiramente para uso
interno os programas executados
pelo Fundo. São em torno de dez
economistas, dirigidos pelo alemão Eduard Brau. Seus estudos
circulam apenas na diretoria executiva do FMI, composta por 24
pessoas (entre elas, o brasileiro
Alexandre Kafka). Em geral, são
feitas cem cópias desses estudos.
As sugestões desse escritório
costumam ser aceitas pela diretoria e têm o objetivo de que sejam
tomadas medidas corretivas para
impedir a repetição de erros em
programas futuros. É raro que esses estudos vazem para jornalistas
e não há precedente nos últimos
dez anos de um vazamento capaz
de provocar efeitos tão explosivos.
O "Times" revela que, de acordo
com o estudo interno, o Fundo
avaliou mal a possível reação da
população da Indonésia ao fechamento, em novembro de 1997, de
16 bancos locais em insolvência.
O FMI forçou a medida por acreditar que ela iria gerar confiança
no público. Ao contrário, seu efeito foi jogar todo o sistema bancário da Indonésia e de países vizinhos à beira do colapso total e provocar corridas de clientes até a instituições muito saudáveis.
Nos últimos dias, o Fundo tem
recebido uma saraivada de críticas, inclusive de setores e personalidades que foram seus tradicionais aliados. O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, por exemplo, disse que as
medidas do FMI para a Ásia chegaram com três anos de atraso.
O empresário e pré-candidato à
Presidência dos EUA Steve Forbes
enviou carta a todos os congressistas norte-americanos pedindo que
eles mantenham o bloqueio dos
US$ 18 bilhões que os EUA deveriam mandar ao Fundo para ajudar a tapar o buraco em suas reservas provocado pelos recentes empréstimos a países da Ásia.
Manifestações de protesto contra o FMI, comuns em ruas de países em desenvolvimento nos anos
80, agora passam a ocorrer em salões de executivos nos EUA. Na semana passada, o presidente do
Fed, Alan Greenspan, foi alvo de
uma delas em Los Angeles. Um
manifestante chegou a ser preso.
O deputado republicano Jim
Saxton disse ontem que vai solicitar uma CPI para estudar a política
do Fundo para a Ásia.
As acusações não vêm só dos
EUA. Um dirigente do Banco Central da Alemanha, Helmut Hesse,
disse que o FMI "parece ter se enganado por muito tempo" no que
se refere à Ásia.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|