São Paulo, quinta, 15 de janeiro de 1998.



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CRASH GLOBAL
Relatório confidencial do Fundo aponta desestabilização causada pela instituição
FMI admite ter criado pânico na Ásia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Em meio a uma das maiores tempestades de ataques em 52 anos de história, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sofreu ontem outro revés de imagem com a divulgação de uma avaliação interna de que uma de suas decisões recentes ajudou a criar pânico no sistema bancário de países da Ásia.
Cópia do relatório reservado foi obtida pelo jornal "The New York Times", o mais influente dos EUA, que publicou sua súmula na edição de ontem. Em Jacarta, Indonésia, o diretor-gerente do Fundo, Michel Camdessus, disse que o FMI não pode ser responsabilizado pelos recentes acontecimentos na Ásia e que a culpa deve ser atribuída aos governos locais.
O FMI tem um Escritório de Auditagem e Inspeção Internas, que analisa rotineiramente para uso interno os programas executados pelo Fundo. São em torno de dez economistas, dirigidos pelo alemão Eduard Brau. Seus estudos circulam apenas na diretoria executiva do FMI, composta por 24 pessoas (entre elas, o brasileiro Alexandre Kafka). Em geral, são feitas cem cópias desses estudos.
As sugestões desse escritório costumam ser aceitas pela diretoria e têm o objetivo de que sejam tomadas medidas corretivas para impedir a repetição de erros em programas futuros. É raro que esses estudos vazem para jornalistas e não há precedente nos últimos dez anos de um vazamento capaz de provocar efeitos tão explosivos.
O "Times" revela que, de acordo com o estudo interno, o Fundo avaliou mal a possível reação da população da Indonésia ao fechamento, em novembro de 1997, de 16 bancos locais em insolvência.
O FMI forçou a medida por acreditar que ela iria gerar confiança no público. Ao contrário, seu efeito foi jogar todo o sistema bancário da Indonésia e de países vizinhos à beira do colapso total e provocar corridas de clientes até a instituições muito saudáveis.
Nos últimos dias, o Fundo tem recebido uma saraivada de críticas, inclusive de setores e personalidades que foram seus tradicionais aliados. O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, por exemplo, disse que as medidas do FMI para a Ásia chegaram com três anos de atraso.
O empresário e pré-candidato à Presidência dos EUA Steve Forbes enviou carta a todos os congressistas norte-americanos pedindo que eles mantenham o bloqueio dos US$ 18 bilhões que os EUA deveriam mandar ao Fundo para ajudar a tapar o buraco em suas reservas provocado pelos recentes empréstimos a países da Ásia.
Manifestações de protesto contra o FMI, comuns em ruas de países em desenvolvimento nos anos 80, agora passam a ocorrer em salões de executivos nos EUA. Na semana passada, o presidente do Fed, Alan Greenspan, foi alvo de uma delas em Los Angeles. Um manifestante chegou a ser preso.
O deputado republicano Jim Saxton disse ontem que vai solicitar uma CPI para estudar a política do Fundo para a Ásia.
As acusações não vêm só dos EUA. Um dirigente do Banco Central da Alemanha, Helmut Hesse, disse que o FMI "parece ter se enganado por muito tempo" no que se refere à Ásia.



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