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LUÍS NASSIF
A contabilidade da União
Em dezembro, a Secretaria
Executiva do Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado teve um gasto de R$ 12,5 milhões. Desse
total, R$ 2,9 milhões corresponderam à folha de salários,
R$ 3,3 milhões, a serviços de
processamento de dados e R$
3,3 milhões, a serviços bancários.
Qualquer empresário sabe
que é impossível administrar
uma empresa sem uma contabilidade gerencial competente,
que permita levantar o nível
de custos e receita de cada
unidade. A maior empresa do
Brasil, e uma das maiores do
mundo -o Estado brasileiro-,
não dispunha desses indicadores. Só a partir de outubro
essas informações passaram a
ser levantadas pela União.
Os dois principais sistemas
de informação da União são o
Siaf (Sistema Integrado de
Administração Financeira) e
o Siap (Sistema Integrado de
Administração de Recursos
Humanos). Ambos representaram avanços fundamentais
para o controle do Estado.
Mas apresentavam dados gerais de cada ministério, sem
distinção entre os diversos órgãos, entre tipos de despesas e
sem nem sequer identificar
funcionários emprestados ou
despesas cruzadas.
Ao longo de 1997, equipe
composta por duas secretarias
do Mare -a da Reforma do
Estado e a de Recursos Humanos- e duas da Fazenda -a
do Tesouro e a Federal de
Controle- passou a trabalhar
na integração dos dois sistemas e na definição de um modelo de informações contábeis.
Na primeira rodada, decidiu-se criar unidades contábeis em nível de secretarias de
cada ministério, num total de
350 unidades. Em cada ministério a entrada de dados foi
acrescida de informações que
permitem apropriar corretamente as despesas em cada
unidade, de acordo com 20
elementos de gastos -pessoal,
alimentação, benefícios previdenciários, consultorias e assessorias, material de consumo, viagens etc. Em outubro
foi feito o primeiro relatório
geral.
Gradativamente vão ser
abertas novas unidades nos
escalões de baixo.
Próximas etapas
A próxima etapa será aprimorar os relatórios gerenciais, permitindo sua disponibilização na
Internet, e incluir outros sistemas
de informação do governo -como o Sidor, de informações orçamentárias, e o Siorg, de dados
organizacionais.
O objetivo final será permitir
avaliar quanto custa cada unidade, qual a estrutura de pessoal,
o que produz, quais os contratos
e o orçamento.
Ter-se-á, então, o primeiro elemento consistente para uma reforma profunda do Estado, podendo avaliar a relação custo/benefício de cada serviço prestado
pela União.
Caso paranaense
No ano passado foi divulgado
parecer da Secretaria do Tesouro
informando que o Paraná não
teria condições de suportar novos
financiamentos externos.
O técnico do Tesouro fez o seguinte raciocínio:
1) Em 1997, o Estado teve cem
adicionais de receita, com a venda de ativos estaduais;
2) Também teve cem adicionais
de despesa;
3) As novas despesas foram
projetadas para os próximos
anos;
4) As novas receitas não, já que
ocorrem apenas no ano da venda
dos ativos. Portanto, a partir desses dados, definiu um déficit adicional correspondente ao total do
que o Estado obteve com a venda
de ativos.
O governo do Estado rebateu o
estudo explicando que gastou
cem a mais em 1997 porque arrecadou cem a mais. Em 1998, como não vai ter essa receita adicional, também não vai repetir a
despesa correspondente. Logo, o
técnico não poderia tê-la extrapolado para os próximos anos.
A explicação tem lógica. É necessário apenas conferir se é verdadeira. Se o governo criou despesas continuadas (aumentos de
folha, criação de novos serviços
etc.), o técnico do Tesouro está
certo. Se criou despesas restritas
ao exercício de 97, o parecer do
Tesouro está errado, e o Paraná
continua sendo um Estado com
boa condição financeira.
O que não se pode é continuar
aferrado ao parecer da Secretaria
do Tesouro, como se as explicações não tivessem sido dadas.
Posto que foram dadas, podem
ser rebatidas ou aceitas. Jamais,
ignoradas.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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