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OPINIÃO ECONÔMICA
A questão da produtividade
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Um estudo da Consultoria
Tendências, coordenado por
Guilherme Maia, indica uma queda em 2003-2005 da taxa de crescimento da produtividade no Brasil.
Cálculos de aumento de produtividade em períodos curtos são notoriamente imprecisos, mas os números não deixam de preocupar.
Nos cálculos mais simples do aumento de produtividade, mede-se
o crescimento do estoque de capital
no país que resulta dos investimentos e o acréscimo no número de horas trabalhadas. O crescimento do
produto que não pode ser atribuído a esses dois fatores é imputado
ao aumento da produtividade.
Embora o crescimento da produtividade seja calculado como um
resíduo, ele sintetiza fatores cruciais para o desenvolvimento: O
aumento da qualidade da força de
trabalho, a adoção de novas tecnologias e a melhoria da qualidade
do ambiente produtivo. Com o investimento, esses componentes são
responsáveis pelo enriquecimento
das nações.
Examinando um período mais
longo, a produtividade no Brasil
cresceu 2,7% ao ano em 1999-2005.
Essa taxa é aproximadamente a
mesma que prevalece desde o Plano Real e representa uma melhoria
sobre o desempenho em 1981-1993,
quando o crescimento da produtividade foi nulo. Mas é ainda baixa
levando em conta o quadro mundial. Nos EUA, a produtividade
aumentou mais de 3% ao ano no
século 21 e, como o país cria boa
parte da fronteira tecnológica, espera-se que a produtividade cresça
aí menos do que em nações como o
Brasil, que podem beneficiar-se da
transferência de tecnologias. De fato, em muitos países emergentes a
produtividade está crescendo a taxas superiores à americana.
Há várias razões para o mau desempenho da produtividade no
Brasil, mas quero aqui destacar
três que são da maior importância:
1) A crescente informalização da
nossa economia. A evidência mostra que empresas informais, por serem pequenas, não conseguem
aproveitar ganhos de escala e por
isso são menos produtivas. Essas
firmas só sobrevivem porque escapam à pesada carga tributária.
2) A baixa taxa de investimento
em infra-estrutura. Na computação da produtividade, considera-se
o aumento do estoque de capital
em geral, mas estudos demonstram que os investimentos em infra-estrutura têm um papel essencial no crescimento. A taxa de investimento no Brasil já é baixa,
mas a regulamentação precária
para setores como o de energia elétrica e a falta de investimentos do
setor público resultaram em uma
infra-estrutura extremamente inadequada.
3) A pouca importação de bens
de capital. Estudos microeconômicos demonstram que o crescimento
de produtividade americana concentrou-se em setores que fabricam
ou que usam intensamente as novas tecnologias de informação. O
nível ainda alto de proteção à indústria nacional priva o país de se
favorecer plenamente desses avanços.
Nenhum desses problemas é insolúvel. A informalidade diminuirá quando tivermos menos burocracia e um sistema tributário
mais racional. Os investimentos
privados em infra-estrutura responderão a uma definição favorável do ambiente regulatório. Um
governo que gasta, não contando
os juros, quase um terço do PIB
tem a capacidade de fazer mais investimentos públicos sem aumentar impostos. E, apesar das dificuldades que temos enfrentado para
obter concessões dos países ricos na
agricultura, não podemos adiar
para sempre a diminuição das alíquotas de importação nos produtos industriais.
É provável que os números de
2003-2005 sejam revistos no futuro,
mas a questão da produtividade
no Brasil permanece. O melhor seria que governo e oposição decidissem, apesar das eleições, que o Brasil não pode adiar por mais um
ano as medidas necessárias.
José Alexandre Scheinkman, 57, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos
domingos nesta coluna.
E-mail -
jose.scheinkman@gmail.com
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