São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Merkel rechaça ataques franceses ao euro

Em entrevista ao "Le Monde", chanceler alemã defende independência do BCE e que moeda fique de fora da política

Defesa da moeda única ocorre após políticos franceses em campanha presidencial e premiê italiano reclamarem do BC

JON BOYLE
DA REUTERS

A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, disse estar preocupada com o debate na França que culpa o euro pelo aumento de preços e piora das condições de vida. E defendeu que a moeda fique de fora da arena política.
Em entrevista publicada no final de semana pelo jornal francês "Le Monde", Merkel disse que o BCE (Banco Central Europeu) deve se manter independente e que é um equívoco atacar a moeda única européia, que trouxe imensos benefícios a países do continente.
Questionada se o euro era culpado pela inflação e queda nas condições de vida, Merkel disse: "Francamente, esse debate na França me preocupa muito".
"Temos de ter cuidado para que nossas dificuldades [...] não sejam injustamente atribuídas ao euro. É uma moeda muito dura, pois revela de forma muito clara onde um país é competitivo e onde pode ter problemas", disse a chanceler alemã ao jornal francês.
A França terá eleições presidenciais em abril e maio, e alguns candidatos culpam a moeda única por uma aparente alta do custo de vida quando de sua introdução, em janeiro de 2002. Alemanha e França são as duas maiores economias entre os 13 países da União Européia que adotaram o euro até aqui.
Políticos franceses de todas as matizes têm, nos últimos meses, acusado o guardião do euro, o BCE, de estar focado demais na inflação, em detrimento do crescimento e da criação de empregos.
O premiê francês, Dominique de Villepin, pediu recentemente ao BCE que coordene mais suas políticas com os ministros das Finanças dos países da zona do euro.
Já o premiê italiano, Romano Prodi, disse na sexta-feira que seria melhor que o BCE parasse de subir sua taxa de juros. Em dezembro, já havia dito que elevar demais os juros poderia comprometer a recuperação econômica italiana.
O BCE manteve a taxa de juros em 3,5% na semana passada, após elevação de 0,25 ponto percentual em dezembro, o que a alçou ao nível mais alto em cinco anos. Analistas esperam ao menos mais uma elevação dos juros neste ano, provavelmente em fevereiro ou março, para fazer frente à pressão inflacionária gerada pelo aumento de liquidez e do crédito na zona do euro.

Reformas
Merkel disse achar errado culpar a moeda única pelas dificuldades econômicas de um dos países que a adota, ressaltando que a Alemanha, maior exportador global, "não foi especialmente sortuda" em termos do valor do euro.
A moeda hoje vale US$ 1,29, dificultando as exportações de países que a adotam para fora da zona do euro.
O crescimento alemão foi construído com o estímulo de reformas duras, disse Merkel, como a trabalhista. "Hoje estamos sendo recompensados por esses esforços. Não quero dar lições a nenhum país, mas penso que, ao confrontar a globalização, seja difícil escapar desse caminho [de reformas]", disse a chanceler ao "Monde".
"O euro não deve ser desacreditado porque a moeda traz imensos benefícios aos países europeus", acrescentou.
Líderes do pós-guerra perceberam, explicou a alemã, que países com a mesma moeda não entrariam mais em grandes disputas. "Naquela época, era um sonho. Realizamos o sonho e não temos o direito de colocar o euro em perigo", disse Merkel.


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