|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Wall Street Xepa Week
Bancos anunciam perdas de 2007, demissões de 2008 e o quanto terão de vender de seus negócios para China e cia.
COMEÇA HOJE a temporada outono-inverno de más notícias
Wall Street: quedas brutais
de lucros, alguns prejuízos, anúncios de demissões e de liquidação de
ativos. A expectativa é especialmente grande no que diz respeito à venda de ativos. Bancões americanos
devem contar o quanto conseguiram vender de suas ações ou de negócios agregados. A xepa tem por
objetivo compensar perdas com certos derivativos de crédito, aqueles
cujo rendimento dependia do pagamento de prestações imobiliárias e
da confiança do mercado nesses instrumentos financeiros.
A imprensa anglo-saxã passou o
final de semana a investigar e a especular se os fundos estatais chineses
teriam esnobado uma oferta de negócio do Citigroup e o quanto os países árabes petrolíferos estariam dispostos a investir em Wall Street.
Dada a inadimplência dos compradores da casa própria e a crise de
confiança no preço e na solidez dos
derivativos de crédito imobiliário, os
bancos tiveram de admitir oficialmente que tais papéis perderam até
80%, 90% do seu valor. Tiveram de
separar dinheiro para cobrir tais
perdas (e há outras). Assim, as reservas dos bancos baixaram, ainda que
se mantenham acima do exigido pelas autoridades dos EUA. Mas, de
qualquer modo, caiu o capital disponível dos bancos para negócios, empréstimos, compras de títulos etc.
Desse modo, tende a cair a oferta
de crédito e os juros sobem. A economia real esfria, a rentabilidade
dos bancos diminui. Menos crédito
e bancos mais frágeis ajudam a derrubar o preço das ações, não só de
bancos, e nas Bolsas está parte importante da poupança do americano. O consumidor, já endividado, vê
sua poupança ameaçada, o risco de
perder o emprego e tende a gastar
menos. A crise dos bancos é um dos
canais por onde pode se propagar
uma recessão. O que se discute agora é o tamanho dessa bola de neve.
Hoje, o Citi anuncia seu balanço
(prejuízo provável no trimestre),
perdas com crédito imobiliário (de
US$ 19 bilhões a US$ 24 bilhões), demissões (até 20 mil pessoas) e se
conseguiu novos sócios, segundo o
"Wall Street Journal". Desde meados de 2007, os bancos americanos
têm recorrido a fundos estatais,
bancos estatais e grandes investidores de alguns países que acumularam grandes reservas em moeda
forte. Trata-se, por exemplo, de China, Cingapura e países árabes petrolíferos, que mantêm enormes reservas devido a seus superávits comerciais, em especial com os EUA, os
grandes devedores do universo.
Segundo a Bloomberg, Citi, Bank
of America e Merrill Lynch podem
admitir nesta semana perdas de US$
35 bilhões. Para compensá-las, em
parte, Citi e Merrill estariam à procura de US$ 13 bilhões de investidores estrangeiros.
Dada a crise nos bancos, o aumento do desemprego, a alta (ainda modesta) na inadimplência de cartões
de crédito, de prestações do carro e
de empresas menores, além de um
início de ano fraco no varejo, o BC
dos EUA já admitiu que inflação não
é o maior dos problemas, mas sim o
risco de recessão. Os juros vão cair
bem nos EUA. O dólar tende a seguir
na mesma toada. É aí que o rolo sobra para nós, periféricos: quanto
menos os EUA comprarão do resto
do mundo e quanto mais venderão.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Mediocridade e medo Próximo Texto: Lula nega apagão e diz que haverá energia para expansão Índice
|