São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Wall Street Xepa Week

Bancos anunciam perdas de 2007, demissões de 2008 e o quanto terão de vender de seus negócios para China e cia.

COMEÇA HOJE a temporada outono-inverno de más notícias Wall Street: quedas brutais de lucros, alguns prejuízos, anúncios de demissões e de liquidação de ativos. A expectativa é especialmente grande no que diz respeito à venda de ativos. Bancões americanos devem contar o quanto conseguiram vender de suas ações ou de negócios agregados. A xepa tem por objetivo compensar perdas com certos derivativos de crédito, aqueles cujo rendimento dependia do pagamento de prestações imobiliárias e da confiança do mercado nesses instrumentos financeiros.
A imprensa anglo-saxã passou o final de semana a investigar e a especular se os fundos estatais chineses teriam esnobado uma oferta de negócio do Citigroup e o quanto os países árabes petrolíferos estariam dispostos a investir em Wall Street.
Dada a inadimplência dos compradores da casa própria e a crise de confiança no preço e na solidez dos derivativos de crédito imobiliário, os bancos tiveram de admitir oficialmente que tais papéis perderam até 80%, 90% do seu valor. Tiveram de separar dinheiro para cobrir tais perdas (e há outras). Assim, as reservas dos bancos baixaram, ainda que se mantenham acima do exigido pelas autoridades dos EUA. Mas, de qualquer modo, caiu o capital disponível dos bancos para negócios, empréstimos, compras de títulos etc.
Desse modo, tende a cair a oferta de crédito e os juros sobem. A economia real esfria, a rentabilidade dos bancos diminui. Menos crédito e bancos mais frágeis ajudam a derrubar o preço das ações, não só de bancos, e nas Bolsas está parte importante da poupança do americano. O consumidor, já endividado, vê sua poupança ameaçada, o risco de perder o emprego e tende a gastar menos. A crise dos bancos é um dos canais por onde pode se propagar uma recessão. O que se discute agora é o tamanho dessa bola de neve.
Hoje, o Citi anuncia seu balanço (prejuízo provável no trimestre), perdas com crédito imobiliário (de US$ 19 bilhões a US$ 24 bilhões), demissões (até 20 mil pessoas) e se conseguiu novos sócios, segundo o "Wall Street Journal". Desde meados de 2007, os bancos americanos têm recorrido a fundos estatais, bancos estatais e grandes investidores de alguns países que acumularam grandes reservas em moeda forte. Trata-se, por exemplo, de China, Cingapura e países árabes petrolíferos, que mantêm enormes reservas devido a seus superávits comerciais, em especial com os EUA, os grandes devedores do universo.
Segundo a Bloomberg, Citi, Bank of America e Merrill Lynch podem admitir nesta semana perdas de US$ 35 bilhões. Para compensá-las, em parte, Citi e Merrill estariam à procura de US$ 13 bilhões de investidores estrangeiros.
Dada a crise nos bancos, o aumento do desemprego, a alta (ainda modesta) na inadimplência de cartões de crédito, de prestações do carro e de empresas menores, além de um início de ano fraco no varejo, o BC dos EUA já admitiu que inflação não é o maior dos problemas, mas sim o risco de recessão. Os juros vão cair bem nos EUA. O dólar tende a seguir na mesma toada. É aí que o rolo sobra para nós, periféricos: quanto menos os EUA comprarão do resto do mundo e quanto mais venderão.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Mediocridade e medo
Próximo Texto: Lula nega apagão e diz que haverá energia para expansão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.