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BENJAMIN STEINBRUCH
Mediocridade e medo
Na economia, quando se tem
medo, atua-se na defensiva,
perde-se o atrevimento e
compromete-se o futuro
FOI PÉSSIMA a decisão tomada
pelo governo no início deste
mês de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)
e a CSLL (Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido) dos bancos para
compensar uma parte das perdas
sofridas com o fim da CPMF. Melhor seria ter encarado o revés com
firme convicção de cortar gastos supérfluos e aumentar a eficiência da
arrecadação para recompor o superávit primário do Orçamento após a
perda de R$ 40 bilhões.
Apesar disso, vale comentar o efeito colateral importante desse ato,
que é a contenção do aumento do
consumo. Ao elevar a alíquota do
IOF em 0,38% e dobrar a taxação
desse imposto nos empréstimos para pessoas físicas, o governo promoveu aumento considerável nos custos do crédito direto ao consumidor.
A elevação desses custos terá efeitos óbvios na contenção da demanda. Ficarão mais caras praticamente
todas as linhas de crédito, com impacto direto nas vendas de automóveis, por exemplo, que cresciam em
ritmo acelerado no fim do ano passado, e nas linhas de crédito consignado, outro pilar da recuperação da
atividade econômica.
Simulações feitas pela Quest Investimentos (Folha, 6/1/08, pág.
B3) indicam que a alta do IOF encarece o crédito na mesma proporção de uma elevação da taxa básica
de juros (Selic) em 0,95 ponto percentual no caso dos veículos e de
2,03 pontos no do consignado.
Está claro, portanto, que o pacotinho tributário do pós-Réveillon
abre espaço para que o Banco Central adote uma política monetária
menos conservadora. Antes do pacotinho, o mercado esperava que,
na próxima reunião do dia 23, o BC
manteria os juros em 11,25% ao
ano ou até promoveria um aumento da taxa básica. Agora, naturalmente, se prevalecer o bom senso,
poderá haver uma redução da taxa.
Embora seja lógica, é difícil acreditar que o BC tomará essa decisão,
em razão do comportamento pregresso da autoridade monetária.
Infelizmente, grassa nas mentes
ortodoxas a avaliação de que a economia sofre de excesso de demanda, que estaria provocando a elevação da inflação. A demanda, obviamente, está em alta, mas analistas
menos conservadores observam
que o risco inflacionário, no médio
prazo, é muito pequeno por duas
razões. Primeiro porque os investimentos crescem a uma taxa anual
de 10%, o dobro da variação do PIB,
indicando que a economia vai aumentar a oferta de produtos no futuro próximo em nível superior ao
do crescimento da demanda. Segundo porque a bolha inflacionária
do fim de ano decorreu de pressões
de preços de alguns alimentos que
já estão praticamente dissolvidas.
O grande risco que corre o país
neste momento advém do medo.
Se prevalecer outra vez o comportamento medroso da autoridade
monetária e houver uma ilógica
elevação dos juros, o crescimento
ressurgido em 2007 poderá ser
abortado pela overdose de medicamentos. Já vimos esse filme no início de 2005.
Vencer a globalização do medo,
numa época de inúmeras ações criminosas e atentados terroristas, é
um dos desafios do momento. Na
economia, tanto quanto em outras
áreas, quando se tem medo, atua-se na defensiva, perde-se o atrevimento e compromete-se o futuro.
Não é assim que agem países emergentes como China, Índia e Rússia.
O escritor canadense Joseph
Murphy diz que o medo normal é
bom, mas o anormal é destrutivo,
porque acarreta obsessões, complexos, pânico e terror. Temer e vigiar a inflação, principalmente em
um país de passado hiperinflacionário, é apropriado e construtivo.
Mas aterrorizar-se com ela só pode
levar à mediocridade e ao fracasso.
BENJAMIN STEINBRUCH, 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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