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IMAGEM EXTERNA
Standard & Poor's rebaixa a classificação; Merrill Lynch recomenda venda de parte dos títulos da dívida
Agência de investimento rebaixa Brasil
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Os investidores estrangeiros
foram aconselhados a reduzir
seus investimentos no Brasil, ontem. A
agência de classificação de risco norte-americana
Standard & Poor's rebaixou a classificação de risco do Brasil, alertando que se tornou mais perigoso
investir no país. Ao mesmo tempo,
a Merrill Lynch, uma das principais corretoras do planeta, recomendou aos seus clientes que vendam parte de seus títulos de dívida
externa brasileira.
A Standard & Poor's já havia dado sinais em setembro de que poderia vir a rebaixar o Brasil.
Segundo a diretora da S&P em
Nova York, Lacey Gallagher, a mudança da política cambial, que levou à desvalorização de 8,26% do
real, foi a gota d'água para que a
classificação de risco fosse revista.
"A mudança aumentou as incertezas. Os investidores ficaram mais
receosos para investir no Brasil,
pois, se o câmbio mudou uma vez,
pode mudar novamente", disse.
A dívida do governo federal brasileiro em moeda estrangeira teve
seu "rating" rebaixado de "BB-"
para "B+". Isso inclui todas as captações em moeda estrangeira feitas
pelo governo, como os bônus da
República e os títulos da dívida renegociada. A dívida do governo
em reais também foi rebaixada, de
"BB+" para "BB-".
Em setembro de 98, a S&P determinou um "outlook" negativo para o Brasil, ou seja, as perspectivas
eram negativas e poderia haver redução da nota. "A pergunta a fazer
era: a mudança no câmbio vai acelerar a melhora do déficit público?
A resposta é não. Não achamos
que isso vá derrubar os juros mais
rapidamente. Ficou mais difícil para os setores públicos e privados
captarem no exterior e isso afetará
o crescimento econômico, afetando, por sua vez, a arrecadação."
Ela ponderou que no longo prazo
a agência considera que o câmbio
mais flexível é positivo.
Em consequência da redução da
nota do país, a agência cortou também o "rating" de bancos e governos estaduais do Brasil. Os estados
do Ceará e Bahia e a cidade do Rio
de Janeiro tiveram suas notas cortadas de "BB-" para "B+". Os bancos Citibank, HSBC Bamerindus e
Unibanco tiveram seu "rating" reduzido de "BB-" para "B+".
Bradesco, Itaú, Real e Safra também tiveram suas notas cortadas
de "BBpi" para "Bpi". Esses bancos
têm uma nota diferente, a sigla
"pi" que os acompanha significa
"informação pública", ou seja, a
nota foi dada com base em informações de domínio público e não a
partir de informações fornecidas
pela própria instituição.
Já a recomendação da Merrill
Lynch está no boletim "Emerging
Markets Daily", distribuído a
clientes da corretora. A classificação dada aos títulos do Brasil caiu
da posição "market weight" (peso
de mercado) para "underweight"
(abaixo do peso).
Quando um papel tem recomendação "underweight" é melhor ter
menos títulos do que normalmente seria recomendável, considerando-se a aparente vantagem que
o devedor oferece.
Por causa da crise, os títulos brasileiros passaram a ser vendidos
por um preço mais baixo no mercado secundário. Como o juro é
pago pelo valor de face dos papéis,
isso resulta numa alta remuneração para quem quiser se arriscar.
De 44 títulos brasileiros cotados
pela Merrill Lynch anteontem, 41
pagavam mais de 10 pontos percentuais acima do juro de papéis
com prazos equivalentes emitidos
pelo Tesouro dos EUA.
Apesar da alta rentabilidade, a
Merrill Lynch disse aos investidores que "esses ganhos ocorrem por
causa do alto grau de incerteza".
No lugar de papéis brasileiros, a
Merrill Lynch sugere aos seus
clientes que procurem se refugiar
em títulos mexicanos, se a intenção é investir na América Latina.
A opinião da Merrill Lynch é importante porque reflete informações muito próximas às que tem a
equipe econômica. Essa corretora
tem muitos negócios no Brasil.
Além disso, contratou o ex-ministro da Fazenda brasileiro Marcílio
Marques Moreira, conhecido pelo
comedimento de suas opiniões.
Sem fazer previsões do que poderá acontecer com a economia do
país, a Merrill Lynch diz no seu boletim de ontem que o mercado especula sobre várias saídas alternativas que o governo brasileiro poderia trilhar, como controle de capitais, taxa de câmbio flutuante,
reestruturação da dívida interna,
por exemplo.
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