São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

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IMAGEM EXTERNA
Standard & Poor's rebaixa a classificação; Merrill Lynch recomenda venda de parte dos títulos da dívida
Agência de investimento rebaixa Brasil

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Os investidores estrangeiros foram aconselhados a reduzir seus investimentos no Brasil, ontem. A agência de classificação de risco norte-americana Standard & Poor's rebaixou a classificação de risco do Brasil, alertando que se tornou mais perigoso investir no país. Ao mesmo tempo, a Merrill Lynch, uma das principais corretoras do planeta, recomendou aos seus clientes que vendam parte de seus títulos de dívida externa brasileira.
A Standard & Poor's já havia dado sinais em setembro de que poderia vir a rebaixar o Brasil.
Segundo a diretora da S&P em Nova York, Lacey Gallagher, a mudança da política cambial, que levou à desvalorização de 8,26% do real, foi a gota d'água para que a classificação de risco fosse revista.
"A mudança aumentou as incertezas. Os investidores ficaram mais receosos para investir no Brasil, pois, se o câmbio mudou uma vez, pode mudar novamente", disse.
A dívida do governo federal brasileiro em moeda estrangeira teve seu "rating" rebaixado de "BB-" para "B+". Isso inclui todas as captações em moeda estrangeira feitas pelo governo, como os bônus da República e os títulos da dívida renegociada. A dívida do governo em reais também foi rebaixada, de "BB+" para "BB-".
Em setembro de 98, a S&P determinou um "outlook" negativo para o Brasil, ou seja, as perspectivas eram negativas e poderia haver redução da nota. "A pergunta a fazer era: a mudança no câmbio vai acelerar a melhora do déficit público? A resposta é não. Não achamos que isso vá derrubar os juros mais rapidamente. Ficou mais difícil para os setores públicos e privados captarem no exterior e isso afetará o crescimento econômico, afetando, por sua vez, a arrecadação."
Ela ponderou que no longo prazo a agência considera que o câmbio mais flexível é positivo.
Em consequência da redução da nota do país, a agência cortou também o "rating" de bancos e governos estaduais do Brasil. Os estados do Ceará e Bahia e a cidade do Rio de Janeiro tiveram suas notas cortadas de "BB-" para "B+". Os bancos Citibank, HSBC Bamerindus e Unibanco tiveram seu "rating" reduzido de "BB-" para "B+".
Bradesco, Itaú, Real e Safra também tiveram suas notas cortadas de "BBpi" para "Bpi". Esses bancos têm uma nota diferente, a sigla "pi" que os acompanha significa "informação pública", ou seja, a nota foi dada com base em informações de domínio público e não a partir de informações fornecidas pela própria instituição.
Já a recomendação da Merrill Lynch está no boletim "Emerging Markets Daily", distribuído a clientes da corretora. A classificação dada aos títulos do Brasil caiu da posição "market weight" (peso de mercado) para "underweight" (abaixo do peso).
Quando um papel tem recomendação "underweight" é melhor ter menos títulos do que normalmente seria recomendável, considerando-se a aparente vantagem que o devedor oferece.
Por causa da crise, os títulos brasileiros passaram a ser vendidos por um preço mais baixo no mercado secundário. Como o juro é pago pelo valor de face dos papéis, isso resulta numa alta remuneração para quem quiser se arriscar.
De 44 títulos brasileiros cotados pela Merrill Lynch anteontem, 41 pagavam mais de 10 pontos percentuais acima do juro de papéis com prazos equivalentes emitidos pelo Tesouro dos EUA.
Apesar da alta rentabilidade, a Merrill Lynch disse aos investidores que "esses ganhos ocorrem por causa do alto grau de incerteza".
No lugar de papéis brasileiros, a Merrill Lynch sugere aos seus clientes que procurem se refugiar em títulos mexicanos, se a intenção é investir na América Latina.
A opinião da Merrill Lynch é importante porque reflete informações muito próximas às que tem a equipe econômica. Essa corretora tem muitos negócios no Brasil. Além disso, contratou o ex-ministro da Fazenda brasileiro Marcílio Marques Moreira, conhecido pelo comedimento de suas opiniões.
Sem fazer previsões do que poderá acontecer com a economia do país, a Merrill Lynch diz no seu boletim de ontem que o mercado especula sobre várias saídas alternativas que o governo brasileiro poderia trilhar, como controle de capitais, taxa de câmbio flutuante, reestruturação da dívida interna, por exemplo.



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