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LUÍS NASSIF
O homem só
Para a superação da crise, é
fundamental que se rompa o
isolamento a que FHC se impôs,
após as mortes de Luiz Eduardo
Magalhães e de Sérgio Motta. O
presidente é um homem só, imobilizado pelo estresse decorrente
do conjunto de problemas que
precisa administrar simultaneamente.
Especialmente a doença e
morte de Sérgio Motta tiraram-
lhe o eixo. Motta tinha papel
agregador importante, junto ao
círculo de amigos e aliados do
presidente. Era ele quem permanentemente alertava FHC para
as ações visando manter a coesão do grupo e tomava as iniciativas em lugar do chefe.
Mesmo antes de sua morte, a
influência de Motta sobre FHC
reduzira-se substancialmente.
Aparentemente o chamamento
permanente à ação incomodava
FHC. Em vez disso, o presidente
optou por uma linha de alianças
políticas, procurando privilegiar
os críticos potencialmente mais
ferozes. Criou um ministério onde ele próprio era um estranho
no ninho. Aliados e amigos de
primeira hora sentiram-se desprestigiados e passaram a abandonar o barco. O presidente se
isolou cada vez mais dentro do
seu próprio governo, e seu círculo íntimo reduziu-se ao mínimo.
Colocou na linha de frente o
chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, para administrar os conflitos com os ministros e praticamente isolou-se do ministério.
Foi só a partir da crise da Ásia,
em fins de 1997, que começou a
se esboçar um novo grupo, constituído pelos irmãos Mendonça
de Barros e por André Lara Rezende, capaz de romper com o
isolamento e o imobilismo de
FHC. Esse grupo trabalhava a
flexibilização da política cambial.
O plano cambial
Conforme o "Guia Financeiro" antecipou em março do ano
passado, a estratégia estava sendo montada para logo após as
eleições, dependendo da ocorrência de uma série de fatores
positivos. O primeiro, a força política conferida pela vitória no
primeiro turno. O segundo, um
bom volume de reservas cambiais. O terceiro, um ambiente
internacional mais favorável. A
fórmula, sugerida inicialmente
por Edmar Bacha, consistia em
abrir o teto da banda cambial,
quatro dias após as eleições, permitindo ao câmbio deslizar até
ele.
O avanço de Lula nas pesquisas, em meados do ano, assustou
um pouco os formuladores do
plano. Logo depois FHC recobrou o favoritismo, mas, a esta
altura, a moratória russa mudara completamente o mercado internacional.
Mesmo assim, o grupo insistiu
que não se poderia fugir à flexibilização cambial por muito
tempo. Nas discussões internas,
havia a resistência pesada de
Gustavo Franco às mudanças
cambiais, e de Chico Lopes, à redução dos juros. A posição de
Luiz Carlos Mendonça de Barros era centralizar o câmbio antes que as reservas se esvaíssem.
Acabou se chegando a um
acordo, que resultou numa segunda linha estratégica. No curto prazo, tratar-se-ia de obter o
mais rapidamente acordo com o
Fundo Monetário Internacional
(FMI), garantindo o colchão de
liquidez necessário para repor
as reservas.
Ao mesmo tempo, se avançaria na proposta de ajuste fiscal
que permitisse ao FMI sair de
sua ortodoxia e acelerar os repasses e que recuperasse a imagem do país no mercado internacional. Nesse ínterim, seria
constituído o Ministério da Produção, conferindo um desenho
mais orgânico ao grupo.
Na discussão do plano, as arestas foram sendo gradativamente
aparadas e tinha-se o desenho
certo de uma equipe ampliada e
enriquecida por novos membros.
A idéia era esperar a troca de
governo, provavelmente a substituição de Gustavo Franco por
Chico Lopes, no BC, e lá para fevereiro ou março proceder à flexibilização cambial.
Arrasado
O episódio do "grampo telefônico" provocou a demissão do
grupo, desmontou a estratégia e
arrasou psicologicamente com
FHC. Em dezembro via-se um
presidente completamente isolado, queixando-se dos amigos
que o abandonaram e tentando
atrai-los novamente para o governo.
Interlocutores seus no período
assustaram-se com o que julgavam a incapacidade do presidente de entender o agravamento do quadro econômico. Amigos próximos chegaram a ser
duros com ele na descrição do
quadro econômico. Mas a tudo
FHC respondia com uma visão
inexplicavelmente otimista da
crise.
A recomposição da governabilidade passa, agora, pela capacidade do presidente de remontar
não apenas seu núcleo de aliança, em outras bases, mas também seu núcleo de amigos. E, do
lado dos governadores, a articulação coesa, levando em conta
de que são co-síndicos do condomínio Brasil.
Agora que os fatos romperam
com a inércia da política cambial, e que se tem um período
duro pela frente, o momento é
de coesão em torno do país, mesmo da parte daqueles que não
gostam de FHC. O que está em
jogo não é apenas o destino de
FHC, mas a segurança do país.
O segundo governo FHC ainda
está por começar.
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