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A fórmula Chico Lopes
O Banco Central tinha duas
saídas para flexibilizar o câmbio. A primeira, dar um reajuste grande e deixar o câmbio flutuar. A segunda, dar um reajuste menor e tentar manter o controle sobre as bandas. Em qualquer hipótese, BC e Fazenda deveriam preparar um plano de
divulgação não apenas nacional, mas mundial. O plano não
existiu.
Defensores da primeira hipótese invocavam o princípio de
Maquiavel, segundo o qual o
mal se faz de uma vez e o bem,
aos poucos. Dando um reajuste
próximo ao que o mercado esperava -entre 20% e 30%- as
pressões adicionais por novos
reajustes seriam aliviadas, e
poderia ocorrer até uma apreciação posterior do câmbio.
Além disso -sustentam esses
analistas-, se o movimento é
sempre para cima, a troco de
que manter uma banda. Com a
banda, seja qual for o teto dado,
o mercado vai buscá-lo.
Risco havia em qualquer alternativa. A fórmula imaginada por Francisco Lopes antecipou os reajustes cambiais. Depois faria o câmbio desvalorizar-se mais lentamente, permitindo com isso uma redução nas
taxas de juros praticadas pelo
Banco Central -já que o componente de desvalorização futura poderia cair de 7% para
algo em torno de 3%.
A nova fórmula de bandas
cambiais "endógenas" prevê a
mudança do teto e do piso a cada três dias úteis, de acordo
com fórmulas matemáticas pré-
definidas.
A fórmula proposta por Chico
Lopes é de aumentar o teto da
banda cambial sempre que o
dólar estiver no piso; e de aumentar o piso sempre que o dólar estiver no teto. Se o dólar está no piso, significa mercado
calmo: então amplie-se o teto.
Se estiver no teto, mercado nervoso: então amplie-se o piso.
Simulações matemáticas com
a fórmula indicam a seguinte
situação.
1) Se a taxa permanecer no teto durante todo o ano (243 dias,
ou 80 viradas), no final do ano
o dólar estará em R$ 1,3542, representando uma desvalorização de 12,04% em relação a 30
de dezembro passado.
2) Se a taxa permanecer no
meio, o dólar estará em R$
1,2943, uma desvalorização de
7,08% -o mesmo que se teria
com a política cambial anterior.
3) Na hipótese improvável da
taxa permanecer no piso, a desvalorização será de 2,11%.
Portanto o ritmo de reajustes
foi apenas antecipado, não significando ruptura forte com o
ritmo anterior. Mas, para um
mercado que se guia pelo cheiro, a fórmula exige um tempo
maior para ser assimilada.
Homem da política monetária, Lopes pensou na melhor
fórmula para dar previsibilidade aos juros. Mas faltava a previsibilidade no câmbio. Na Bolsa de Chicago, o dólar estava
cotado ontem a R$ 1,42 para fevereiro, porque não se acreditava, em sã consciência, na capacidade do BC de segurar um
reajuste modesto.
No Brasil, foi um dia de corrida intensa à procura de hedge.
O mercado amanheceu relativamente tranquilo, mas andando sobre o fio da navalha.
Durante o dia, boatos de dificuldades de um pequeno banco
carioca e a saída do diretor de
fiscalização, Gustavo Mauch,
precipitaram o segundo round
do ataque.
Como os mercados de câmbio
futuros não operaram a contento -devido aos ajustes de preços feitos pela BM&F- o hedge
ou foi com dólar pronto ou com
depósitos interbancários. A visão do operador é que, se o câmbio desandasse, o BC teria de
qualquer modo que elevar substancialmente as taxas de juros.
Isso fez o futuro DI projetar taxas de 70% este mês.
O dia terminou com pessimismo generalizado entre os bancos estrangeiros e com as avaliações internacionais indicando que o país perdeu o primeiro
roud da mudança de expectativas.
De qualquer modo, há mais
fumaça do que fogo, por enquanto. A saída de dólares foi
inferior ao que se temia e os
bancos estrangeiros não exibem a velha vitalidade para
produzir os maremotos causados em outras economias.
Os próximos dias serão de incerteza. Não existe mais a âncora cambial, já que o nível de reservas é baixo. E não existe por
enquanto a âncora política, situação agravada pelo estresse
do presidente, que se retirou
para sua fazenda em Buritis.
O fim-de-semana vai ser crucial para refazer as expectativas. Será importante que governadores, lideranças políticas e o
círculo próximo de amigos do
presidente se unam neste momento, visando preparar a estratégia para segunda-feira.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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