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Brasil mostra moderado otimismo sobre o fim dos subsídios agrícolas
DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Está muito longe de ser o paraíso, mas, pela primeira vez, o governo brasileiro enxerga uma luz
no fim do túnel em matéria de negociações para liberalizar o comércio agrícola, sua principal reivindicação.
Trata-se da proposta apresentada por Stuart Harbinson (Hong
Kong), chefe do Comitê de Negociações Agrícolas da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Ela prevê reduzir os subsídios às
exportações pela metade em seis
anos e eliminá-los em dez; reduzir
as tarifas de importação entre
40% e 60% em cinco anos; e reduzir o suporte financeiro doméstico aos produtores agrícolas, sempre que distorçam o comércio.
"Não é o ponto de chegada, mas
é um ponto de partida", diz o
chanceler Celso Amorim.
A "partida" está dada pelo fato
de que a proposta fala em eliminar os subsídios à exportação,
embora em dez anos. Faltam, para a chegada, medidas mais concretas para reduzir tanto o apoio
interno como as tarifas de importação.
Antes, no entanto, de atingir a
linha de chegada, será preciso não
apenas melhorar a proposta Harbinson, mas vencer fortíssimas
resistências. Além dos europeus,
que sempre resistiram à derrubada do protecionismo agrícola, o
Japão está adotando posições cada vez mais duras.
"Os cortes de tarifas propostos
são muito amplos e muito agressivos. Não podemos aceitá-los",
disse ontem o ministro japonês
da Agricultura, Tadamori Oshima, a seu colega canadense, Lyle
Vanclief.
A resistência japonesa e européia não impede que o chanceler
brasileiro veja outro aspecto, bem
mais político e sutil, para comemorar no relatório Harbinson: ele
contempla tratamento diferenciado para os países em desenvolvimento, que poderão levar bem
mais tempo para reduzir o protecionismo à área agrícola.
"O tratamento deveria ser o
mesmo na área industrial", diz
Amorim. Traduzindo: o Brasil,
como país em desenvolvimento,
poderia ter mais tempo que os
países ricos para abrir seu mercado de bens industriais, o que será
certamente pedido pelos desenvolvidos se resolverem fazer alguma concessão em outras áreas.
Agricultura é o ponto central
em discussão na chamada reunião miniministerial de Tóquio,
que reúne 21 países mais a União
Européia. Foi convocada para
tentar fazer avançar as negociações da Rodada Doha de Desenvolvimento, bloqueadas até agora, 15 meses após seu lançamento.
Foi em Doha (Qatar) que o Brasil conseguiu emplacar sua tese de
que o respeito às patentes não pode servir de empecilho para a produção de remédios desrespeitando as patentes, em caso de crise na
saúde.
Os EUA estão tentando rever essa decisão. Mas Amorim avisa por
antecipação: "A questão foi pilar
essencial da barganha que permitiu Doha".
(CR)
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