São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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C-Bond rende o dobro de título dos EUA

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O investimento nos papéis da dívida brasileira mais negociados, os C-Bonds, asseguraram desde o seu lançamento, em 15 de abril de 1994, até hoje um rendimento médio anual pelo menos duas vezes maior que o de títulos do governo dos EUA, segundo um levantamento do JP Morgan.
Outro estudo, do FMI (Fundo Monetário Internacional), mostra que, no período de 30 anos, entre 1970 e 2000, os papéis dos países emergentes renderam o mesmo que os títulos norte-americanos, cerca de 9% ao ano.
Em comum, os levantamentos reafirmam que, dada a vulnerabilidade dos emergentes, os papéis desses países oscilam entre picos de valorização e de depreciação.
Os dados de Drausio Giacomelli, estrategista do JP Morgan para mercados emergentes, mostram que, se o investidor tivesse comprado o C-Bond a US$ 100 em 1994, teria US$ 611 em 27 de janeiro passado, quando o papel atingiu recorde histórico. ""Acontece que a volatilidade desse negócio é uma maravilha. A vantagem de um papel norte-americano, para além do chamado risco zero, é a volatilidade muito menor", argumenta Giacomelli.
Em maio de 1998, no período que antecedeu a quebradeira do real, o C-Bond equivalia a US$ 282. Ao final de janeiro de 1999 (após a desvalorização), recuou para US$ 185. Em abril de 2001, pré-racionamento de energia, já havia se recuperado e estava em US$ 370. No último dia de outubro, passada a necessidade de racionamento, não superava US$ 320. Em 2002, atingiu pico de US$ 420 em abril. Mas em 27 de setembro, com o temor da vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais, o título não passava de US$ 277. Quando o temor passou, o papel voltou a recuperar valor, até se situar nos hipotéticos US$ 600.
Pelos cálculos do banco, o retorno anual médio dos C-Bonds na última década foi de 17,5%. Já o dos papéis americanos não superou o patamar de 6% a 7%.
Os efeitos da volatilidade sobre o desempenho dos papéis dos emergentes são evidentes também no estudo do FMI. Ele mostra que o investimento em dívida de emergentes entre 1970 e 2000 pode ser dividido em três ciclos. No primeiro, entre 1970 e 1989, os "spreads" (rentabilidade acima da do papel dos EUA exigida pelos investidores para adquirir um título de emergente) são negativos ou pouco superiores a zero. Depois, até 1993, os rendimentos são de 23% em média e, a partir de 1994, caem para 5% ao ano -sempre acima da dos EUA.
Não por acaso, os maiores "spreads" são exigidos pelos investidores em períodos posteriores a pacotes econômicos ou crises de solvência que implicam reestruturação de dívida. Tome-se o exemplo do Brasil. No período 1989-92, o "spread" médio ficou em 20%, resquício direto da moratória decretada em 1987 pelo então presidente José Sarney e pelos efeitos do confisco no Plano Collor, em 1990.
Quando da crise do México, em 1995, o "spread" brasileiro tampouco cedeu: oscilaram 26,6%, entre 1992 e 1995. Recuaram somente quando do aparente êxito do Plano Real, entre 1996 e 1999. Naquele intervalo, o "spread" médio exigido pelos investidores nos títulos brasileiros não superava 1,5%.
""Existe uma volatilidade muito grande nas taxas dos países emergentes, motivada por uma sucessão de "defaults" nos últimos anos. Assim, em períodos de problemas, as taxas sobem; nos de calmaria, tendem a cair", explica Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central. ""Numa média a longo prazo, no entanto, é normal que as taxas convirjam para as do Tesouro norte-americano."
O ex-presidente do BC argumenta que a pesquisa demonstra o alto grau de mobilidade do capital. ""Quando há um fluxo muito positivo de recursos, os retornos oferecidos pelos ativos, obviamente, caem, assim como os "spreads"", completa Langoni.



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