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ROBERTO RODRIGUES
Ramos e Páscoa
Foram a agricultura, a pecuária, o agronegócio que trouxeram o progresso para qualquer rincão deste imenso país
AMANHÃ É Domingo de Ramos. E na semana que vem
tem Páscoa. Não dá para esquecer a comemoração pascal há
60 anos, quando vivíamos numa fazenda, no norte de São Paulo, e um
tio era diretor da Gardano, fabricante de chocolates.
Aquele era outro tempo. O telefone era na parede, de manivela, e, a
telefonista "morava" na central. As
estradas, de terra, ficavam intransitáveis durante o período de chuvas
e insuportavelmente poeirentas na
seca. Uma viagem para Ribeirão
Preto, a 50 quilômetros de distância, precisava ser muito bem planejada, para não ficar no caminho.
Nas fazendas, fazia-se de tudo: toda
a comida, inclusive massas, roupas,
brinquedos, móveis.
Chocolate era um pitéu raro. Não
havia. Mas, na semana da Páscoa,
meu tio mandava de São Paulo, de
trem, um caixotinho de madeira
com ovos e bombons. Era uma festa! No Domingo de Ramos, marcado pela ida à missa com folhas de
palmeira, começava a espera, e a
molecada ia todo dia com a charrete, esperar o correio na estação de
trem, a poucos quilômetros, só para
ver o caixote; só ver, nem pensar
em abrir. Depois vinha toda a solenidade de esconder os ovos, procurar, achar e disputar os bombons
preferidos, no Domingo de Páscoa.
E hoje? Ora, hoje a gente pega o
telefone e fala em Tóquio como se
estivesse conversando na sala de visitas. Vai a Ribeirão Preto para ver
um filme e volta, mais depressa do
que ir a um cinema em São Paulo.
Naquele tempo, quando quebrava
um rolamento de um trator, a máquina ficava três ou quatro dias parada, esperando vir a peça, de jardineira, encomendada por telegrama
à capital. Hoje, em três horas está
tudo funcionando.
E o que fez essa mudança? Como esse progresso formidável começou, fazendo de Ribeirão Preto uma cidade com magníficos
hospitais e universidades, com
todos os serviços da melhor qualidade? O que fez o progresso de
Londrina, Maringá e Cascavel, no
Paraná? De Chapecó, em Santa
Catarina? De Uberaba, Uberlândia, Montes Claros, em Minas Gerais? De Rio Verde, Itumbiara,
Quirinópolis, em Goiás? De Rondonópolis e Cáceres, em Mato
Grosso? De Campo Grande e
Dourados, em Mato Grosso do
Sul? De Passo Fundo e Não me
Toque, no Rio Grande do Sul? De
Luiz Eduardo, na Bahia? De Balsas, no Maranhão? De todo esse
interiorzão brasileiro?
Foram os produtos da agropecuária. Os fazendeiros precisaram de estradas para trazer insumos e escoar a produção. De serviços para financiá-la, comercializá-la, armazená-la, de indústrias para transformá-la, de energia para tocar as indústrias, de comunicação para modernizar os
processos de gestão, da tecnologia
para competir, de equipamentos,
de faculdades de agronomia e escolas técnicas.
Foram a agricultura, a pecuária,
o agronegócio que trouxeram o
progresso para qualquer rincão
deste imenso e generoso país. Depois da produção rural, e por causa
dela, vieram as indústrias -tanto
de insumos como de transformação- e todos os serviços. Para servir à agricultura e dela se servirem.
Para, em simbiose, crescerem juntos e fazerem crescer o país.
Amanhã é Domingo de Ramos. E
no outro será a Páscoa. Com chocolates. E, graças aos produtores
de cacau, de leite, de açúcar, de
amêndoas diversas, vamos, mais
uma vez, celebrar docemente a
Ressurreição...
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do
Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias,
nesta coluna.
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