São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Lula contesta sinalização do BC de elevar os juros

Para presidente, Selic já está em nível suficientemente alto para evitar repique da inflação

Órgão aventou mexer nos juros básicos em sua última reunião; desde o 1º mandato há tensão entre presidente e BC por conta das taxas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos bastidores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com contrariedade à sinalização do Banco Central de que poderá elevar a taxa básica de juros, a Selic -hoje em 11,25% ao ano. Se o BC subir os juros, haverá pressão política contra a instituição, segundo ouviu a Folha no Palácio do Planalto.
Na opinião de Lula e da maioria de seus principais auxiliares, a Selic já está num patamar suficientemente alto para evitar alta da inflação. Logo, o principal argumento do Banco Central para eventual elevação dos juros é contestado na cúpula do governo.
Desde o primeiro mandato, há tensão entre Lula e o BC por conta dos juros. No segundo governo do petista, o ministro Guido Mantega (Fazenda), de linha desenvolvimentista, para recorrer a uma simplificação, tem criticado nos bastidores o conservadorismo da equipe do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
As divergências entre Ministério da Fazenda e Banco Central vinham em banho-maria até a recente queda do dólar para o patamar de R$ 1,70. A partir dela, Lula passou a ficar preocupado com os efeitos futuros sobre setores exportadores de um real tão valorizado.
Lula fez uma reunião para discutir o câmbio na quinta-feira da semana passada com Mantega, Meirelles e três conselheiros -o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o ex-deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP) e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
No encontro, com exceção de Meirelles, todos avaliaram que a Selic, uma das taxas mais altas do planeta, era a principal causa da valorização do real. Cobrado a reduzir os juros, o presidente do BC chegou a dizer no encontro que não controlava o Copom (Comitê de Política Monetária). Lula não gostou. Afinal, Meirelles escolheu toda a diretoria. O Copom é órgão composto por diretores do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar a Selic.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é outro economista que critica o suposto conservadorismo do BC. Mantega, Coutinho, Mercadante, Delfim e Belluzzo avaliam que, se a Selic estivesse três ou quatro pontos percentuais abaixo da taxa atual, os efeitos seriam mais positivos para a economia e não haveria risco de repique inflacionário.
Meirelles pensa diferente. Perante Lula, conta a favor dele a taxa robusta de crescimento em 2007 -5,4% de aumento do PIB (Produto Interno Bruto) na comparação com 2006.

Déficit
Lula, porém, começa a temer uma eventual crise em seu mandato na hipótese de a balança comercial piorar nos próximos anos devido ao real valorizado. Os críticos do BC dizem que a instituição perdeu oportunidade de reduzir a Selic e que, agora, com a crise nos EUA, ela pode ser obrigada a dar sinais de conservadorismo. Leia-se: elevar os juros.
Na avaliação do presidente, foi o que aconteceu com a divulgação da ata da última reunião do Copom. No documento, o comitê informou que cogitou elevar a Selic recentemente. Esse movimento fez com que o mercado já elevasse suas projeções sobre os juros futuros. A Selic é apenas uma taxa de referência para os bancos, que, na prática, cobram bem mais dos que os juros básicos do Banco Central.
Segundo um auxiliar de Lula, o BC deu um recado ao dizer que cogitou aumentar os juros: teria deixado claro para os empresários que não aceitaria aumento de preço. Se o BC ficar apenas no recado, a tendência de crise com Lula diminuiu. Se elevar a Selic, haverá conflito com o presidente.


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