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Lula contesta sinalização do BC de elevar os juros
Para presidente, Selic já está em nível suficientemente alto para evitar repique da inflação
Órgão aventou mexer nos juros básicos em sua última
reunião; desde o 1º mandato há tensão entre presidente
e BC por conta das taxas
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos bastidores, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reagiu
com contrariedade à sinalização do Banco Central de que
poderá elevar a taxa básica de
juros, a Selic -hoje em 11,25%
ao ano. Se o BC subir os juros,
haverá pressão política contra a
instituição, segundo ouviu a
Folha no Palácio do Planalto.
Na opinião de Lula e da maioria de seus principais auxiliares, a Selic já está num patamar
suficientemente alto para evitar alta da inflação. Logo, o
principal argumento do Banco
Central para eventual elevação
dos juros é contestado na cúpula do governo.
Desde o primeiro mandato,
há tensão entre Lula e o BC por
conta dos juros. No segundo
governo do petista, o ministro
Guido Mantega (Fazenda), de
linha desenvolvimentista, para
recorrer a uma simplificação,
tem criticado nos bastidores o
conservadorismo da equipe do
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
As divergências entre Ministério da Fazenda e Banco Central vinham em banho-maria
até a recente queda do dólar para o patamar de R$ 1,70. A partir dela, Lula passou a ficar
preocupado com os efeitos futuros sobre setores exportadores de um real tão valorizado.
Lula fez uma reunião para
discutir o câmbio na quinta-feira da semana passada com
Mantega, Meirelles e três conselheiros -o senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), o ex-deputado federal Delfim Netto
(PMDB-SP) e o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo.
No encontro, com exceção de
Meirelles, todos avaliaram que
a Selic, uma das taxas mais altas
do planeta, era a principal causa da valorização do real. Cobrado a reduzir os juros, o presidente do BC chegou a dizer no
encontro que não controlava o
Copom (Comitê de Política
Monetária). Lula não gostou.
Afinal, Meirelles escolheu toda
a diretoria. O Copom é órgão
composto por diretores do BC
que se reúne a cada 45 dias para
fixar a Selic.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é outro economista que critica o suposto conservadorismo do BC. Mantega,
Coutinho, Mercadante, Delfim
e Belluzzo avaliam que, se a Selic estivesse três ou quatro pontos percentuais abaixo da taxa
atual, os efeitos seriam mais
positivos para a economia e não
haveria risco de repique inflacionário.
Meirelles pensa diferente.
Perante Lula, conta a favor dele
a taxa robusta de crescimento
em 2007 -5,4% de aumento do
PIB (Produto Interno Bruto)
na comparação com 2006.
Déficit
Lula, porém, começa a temer
uma eventual crise em seu
mandato na hipótese de a balança comercial piorar nos próximos anos devido ao real valorizado. Os críticos do BC dizem
que a instituição perdeu oportunidade de reduzir a Selic e
que, agora, com a crise nos
EUA, ela pode ser obrigada a
dar sinais de conservadorismo.
Leia-se: elevar os juros.
Na avaliação do presidente,
foi o que aconteceu com a divulgação da ata da última reunião do Copom. No documento, o comitê informou que cogitou elevar a Selic recentemente. Esse movimento fez com
que o mercado já elevasse suas
projeções sobre os juros futuros. A Selic é apenas uma taxa
de referência para os bancos,
que, na prática, cobram bem
mais dos que os juros básicos
do Banco Central.
Segundo um auxiliar de Lula,
o BC deu um recado ao dizer
que cogitou aumentar os juros:
teria deixado claro para os empresários que não aceitaria aumento de preço. Se o BC ficar
apenas no recado, a tendência
de crise com Lula diminuiu. Se
elevar a Selic, haverá conflito
com o presidente.
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