São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Debate focado no combate à inflação é "primitivo", diz Ipea

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O debate econômico focado só no combate à inflação é "primitivo", na avaliação de Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao governo. "É um debate primitivo ficar prisioneiro da questão inflacionária. Aprendi, quando fiz graduação, que o objetivo da política econômica é o bem-estar do povo. A inflação é um condicionante ao bem-estar da população, mas é preciso ter visão mais ampla", disse.
Com a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), cresceram as expectativas do mercado de aumento na taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano. O BC chegou a discutir a possibilidade de elevação da Selic na última reunião do Copom, realizada na semana passada.
Para Pochmann, um eventual aumento dos juros agora seria sinônimo de redução de postos de trabalho e desaceleração do investimento. O economista avalia que é justamente o crescimento do investimento o motor de expansão da economia, capaz de criar oferta futura e de impedir o surgimento de pressões inflacionárias. "A economia brasileira cresceu 5,4%. Os juros estão o dobro disso. Esse é o problema da decisão de investimento."
Pochmann ressaltou que o Federal Reserve (BC dos EUA) leva em conta não só os índices de inflação como também o impacto no mercado de trabalho.
"O Banco Central é um produto do contexto que estamos vivendo, com foco no curto prazo. Estamos olhando o nosso umbigo. Ficamos achando que 5% [de crescimento da economia] é fantástico, mas é fantástico se a gente olhar a mediocridade dos anos anteriores. É pouco diante da potencialidade brasileira e ao que está ocorrendo em outros países", disse.
Para o presidente do Ipea, se a política de combate à inflação se resumir ao aumento dos juros, o país corre o risco de "matar" a expansão sustentável da economia.


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