São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Homens são 80% dos demitidos

Salário de até R$ 1.245 predomina entre as 798 mil vagas fechadas em três meses

Empresas com mais de 500 funcionários respondem por 34% do saldo total de demissões entre novembro e janeiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após três meses seguidos de baixas, o mercado de trabalho formal delineou o perfil do trabalhador brasileiro demitido pela crise econômica que varre o planeta. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) obtidos pela Folha mostram que o maior número de empregos eliminados ocorreu entre pessoas com renda de 1 a 3 salários mínimos.
Entre novembro de 2008 e janeiro deste ano, o mercado perdeu 797.515 postos de trabalho. Desse total, 79% são trabalhadores com ganhos entre R$ 415 e R$ 1.245 à época.
Os homens foram os principais afetados pelo encolhimento do emprego formal e respondem por 8 a cada 10 vagas fechadas no período -especialistas atribuem a tendência ao fato de que os setores que mais demitiram no período foram a construção civil e a indústria, atividades dominadas pelo sexo masculino.
Além disso, os números do cadastro revelam que as grandes empresas foram as que mais cortaram empregos com carteira assinada por conta da crise. Os estabelecimentos com mais de 500 funcionários responderam por 34% do saldo total de demissões. No período, essas empresas fecharam 271.015 postos de trabalho.
Especialistas consultados pela Folha avaliam que os sinais apontados por esse conjunto de informações são preocupantes e levam a crer que a crise no mercado de trabalho pode estar só no começo e, diferentemente de outras ocasiões, desta vez chegou mais rápido do que se esperava.
"Todos os dias estamos vendo nos jornais que são as grandes empresas que demitem mais, como é o caso da Embraer. Isso tem um efeito "bola-de-neve". Agora, são as grandes. Depois, os provedores delas começarão a demitir. Pode ser só o começo da crise no mercado de trabalho", afirma Janine Berg, especialista de emprego da OIT (Organização Internacional do Trabalho) no Brasil.
Apesar de considerar o efeito "bola-de-neve" uma tendência, o professor da Unicamp José Dari Krein ressalta que muitos elos da cadeia produtiva já fizeram seus ajustes. "No setor automotivo, o segmento de autopeças já demitiu. O que é preocupante em relação a grandes empresas demitindo é que isso vai resultar em uma desestruturação do mercado de trabalho, como a que ocorreu nos anos 90."

Baixa qualificação
Na avaliação de Krein, já era de esperar que o contingente de renda mais baixa fosse mais afetado pela crise. Historicamente essa é a parcela que mais entra e sai do mercado. "Há uma elevada rotatividade de mão-de-obra devido à baixa qualificação. Todos os anos, 40% dos trabalhadores são demitidos e recontratados."
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, pondera que, proporcionalmente, a crise teve efeitos mais devastadores entre os trabalhadores com renda acima de 20 salários mínimos. "Para os que ganham menos, há um impacto maior por conta do volume. Mas, se olharmos a proporção de admitidos e desligados no período, para a faixa acima de 20 salários, as demissões ficaram 118% acima das contratações."
Segundo ele, isso é reflexo das fusões ocorridas na economia recentemente e, agora, da necessidade de enxugamento.
Pelos dados detalhados do Caged, o número de trabalhadores demitidos é maior entre aqueles com idade entre 25 e 39 anos. Eles representam mais da metade (57%) das vagas fechadas nos três meses analisados.
Cerca de 70% dos postos de trabalho eliminados atingiram pessoas entre a quinta série incompleta e o ensino fundamental completo.
(JULIANNA SOFIA)


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