|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Homens são 80% dos demitidos
Salário de até R$ 1.245 predomina entre as 798 mil vagas fechadas em três meses
Empresas com mais
de 500 funcionários
respondem por 34% do
saldo total de demissões
entre novembro e janeiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após três meses seguidos de
baixas, o mercado de trabalho
formal delineou o perfil do trabalhador brasileiro demitido
pela crise econômica que varre
o planeta. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados) obtidos pela
Folha mostram que o maior
número de empregos eliminados ocorreu entre pessoas com
renda de 1 a 3 salários mínimos.
Entre novembro de 2008 e
janeiro deste ano, o mercado
perdeu 797.515 postos de trabalho. Desse total, 79% são trabalhadores com ganhos entre
R$ 415 e R$ 1.245 à época.
Os homens foram os principais afetados pelo encolhimento do emprego formal e respondem por 8 a cada 10 vagas fechadas no período -especialistas atribuem a tendência ao fato de que os setores que mais
demitiram no período foram a
construção civil e a indústria,
atividades dominadas pelo sexo masculino.
Além disso, os números do
cadastro revelam que as grandes empresas foram as que
mais cortaram empregos com
carteira assinada por conta da
crise. Os estabelecimentos com
mais de 500 funcionários responderam por 34% do saldo total de demissões. No período,
essas empresas fecharam
271.015 postos de trabalho.
Especialistas consultados
pela Folha avaliam que os sinais apontados por esse conjunto de informações são preocupantes e levam a crer que a
crise no mercado de trabalho
pode estar só no começo e, diferentemente de outras ocasiões, desta vez chegou mais rápido do que se esperava.
"Todos os dias estamos vendo nos jornais que são as grandes empresas que demitem
mais, como é o caso da Embraer. Isso tem um efeito "bola-de-neve". Agora, são as grandes.
Depois, os provedores delas começarão a demitir. Pode ser só
o começo da crise no mercado
de trabalho", afirma Janine
Berg, especialista de emprego
da OIT (Organização Internacional do Trabalho) no Brasil.
Apesar de considerar o efeito
"bola-de-neve" uma tendência,
o professor da Unicamp José
Dari Krein ressalta que muitos
elos da cadeia produtiva já fizeram seus ajustes. "No setor automotivo, o segmento de autopeças já demitiu. O que é preocupante em relação a grandes
empresas demitindo é que isso
vai resultar em uma desestruturação do mercado de trabalho, como a que ocorreu nos
anos 90."
Baixa qualificação
Na avaliação de Krein, já era
de esperar que o contingente
de renda mais baixa fosse mais
afetado pela crise. Historicamente essa é a parcela que mais
entra e sai do mercado. "Há
uma elevada rotatividade de
mão-de-obra devido à baixa
qualificação. Todos os anos,
40% dos trabalhadores são demitidos e recontratados."
Fábio Romão, economista da
LCA Consultores, pondera que,
proporcionalmente, a crise teve efeitos mais devastadores
entre os trabalhadores com
renda acima de 20 salários mínimos. "Para os que ganham
menos, há um impacto maior
por conta do volume. Mas, se
olharmos a proporção de admitidos e desligados no período,
para a faixa acima de 20 salários, as demissões ficaram 118%
acima das contratações."
Segundo ele, isso é reflexo
das fusões ocorridas na economia recentemente e, agora, da
necessidade de enxugamento.
Pelos dados detalhados do
Caged, o número de trabalhadores demitidos é maior entre
aqueles com idade entre 25 e 39
anos. Eles representam mais da
metade (57%) das vagas fechadas nos três meses analisados.
Cerca de 70% dos postos de
trabalho eliminados atingiram
pessoas entre a quinta série incompleta e o ensino fundamental completo.
(JULIANNA SOFIA)
Texto Anterior: Gasto com seguro-desemprego é recorde Próximo Texto: Frase Índice
|