São Paulo, sábado, 15 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Com liquidação do Aerus, aposentados receberão só parte da poupança; atuais funcionários perderão todo o investimento

Fundo da Varig deixa rombo de R$ 1,66 bi

ELVIRA LOBATO
JANAINA LAGE

DA SUCURSAL DO RIO

Os funcionários da Varig perderão toda a poupança que acumularam para a aposentadoria no fundo de pensão Aerus, se a liquidação for mantida.
O tamanho do rombo nos planos da Varig é de R$ 1,663 bilhão. Quase metade do patrimônio do fundo está aplicada em ativos como imóveis e ações, o que pode atrasar ainda mais o pagamento de aposentados e pensionistas.
Segundo dados obtidos pela Folha, os 8.289 empregados ativos colocaram R$ 447 milhões no fundo de pensão, recursos que pretendiam usar para salvar a empresa. Com a liquidação, o dinheiro será distribuído entre os aposentados e pensionistas, que têm preferência no recebimento, de acordo com a lei que rege a previdência complementar.
Os técnicos do Aerus acreditam que os funcionários ainda não se deram conta da tragédia. ""A ficha ainda não caiu", disse um integrante da administração que não quis se identificar.
O comando do fundo teme pelo que possa ocorrer na segunda-feira e já reforçou a segurança para proteger o pessoal do atendimento. A expectativa é que haja corrida, principalmente de aposentados, em busca de informações.
A liquidação expôs um conflito de gerações entre aposentados e funcionários da Varig. Os aposentados pediram a intervenção à SPC (Secretaria de Previdência Complementar), na tentativa de impedir que os funcionários resgatassem suas poupanças no Aerus para salvar a empresa.
Os funcionários buscavam salvar seus empregos. Os aposentados, salvar as aposentadorias.
O governo acabou decretando não só a intervenção no fundo de pensão como também a liquidação dos dois planos de aposentadoria dos empregados da Varig, o que descontentou aos dois lados.
Os aposentados também serão muito prejudicados. As perdas atingem mais severamente os 4.419 beneficiários do plano 1, o mais antigo, que reúne os que foram enquadrados até 1995. Esse plano tem R$ 170 milhões de patrimônio, quando seria necessário R$ 1,45 bilhão para pagar as aposentadorias.
No plano 2, mais recente, que conta com 2.373 aposentados e pensionistas, o patrimônio, de R$ 567 milhões, cobre apenas 43% do que seria necessário para assegurar os benefícios prometidos (R$ 950 milhões).

Desconhecimento
A extensão do problema não foi percebida ainda nem por empregados nem por aposentados. O piloto João Stepanski, presidente do conselho deliberativo da Associação dos Aposentados do Aerus, insistia ontem em que seu filho, também piloto, não perderia as economias por estar na ativa e que as contribuições do pessoal da ativa não se misturavam com o dinheiro dos aposentados.
Foi Stepanski quem pediu à SPC que fizesse a intervenção no fundo Aerus. Ele é contra a liquidação dos planos e qualifica a decisão como ""um desastre".
Segundo especialistas, a poupança acumulada pelos funcionários e a dos aposentados passam a formar um bolo só, com a liquidação. Como o bolo é inferior ao dinheiro necessário para cobrir as obrigações perante os aposentados, os da ativa não têm chances de recuperar suas contribuições.
O aeroviário aposentado Demóstenes Magalhães, 60, é um dos que irão ao Aerus para saber o que será de seu futuro. ""Dizem que meu plano tem 43% do que deveria ter. Não sei se isso quer dizer que receberei 43% do que saldo a que teria direito."

Rateio
Pela lei nš 109, que rege os fundos de pensão, a liquidação interrompe a contribuição dos ativos e o pagamento das aposentadorias. O processo, segundo especialistas, é igual ao das liquidações de instituições financeiras. Os aposentados têm assegurado o recebimento de 11 dias do mês de abril, mas, a partir daí, tudo vai depender do ritmo da liquidação.
O liquidante, Dionísio Brentano, fará o levantamento dos ativos e a relação dos credores, que receberão à medida em que forem sendo vendidos os bens. Em fevereiro, o patrimônio do Aerus era de R$ 1,3 bilhão, mas, desse total, cerca de 30% referem-se a planos de aposentadorias de outras empresas patrocinadoras, que não foram afetados pela liquidação.
Quase metade do patrimônio (48,6%) está aplicada em títulos de renda fixa; 13,7% estão em imóveis e o restante, em ações.
Segundo a lei, a liquidação poderá ser levantada desde que haja um fato novo que viabilize a recuperação da entidade.
Segundo técnicos do Aerus, se o governo liberasse o dinheiro da ação indenizatória movida pela Varig (julgada favoravelmente pelo STJ), de cerca de R$ 4,5 bilhões, ela poderia quitar sua dívida de R$ 2,1 bilhões com o fundo.


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