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Alta dos juros afetará crescimento, diz Ipea
Ligado ao governo, instituto aponta "temor excessivo do BC" e prevê contração nos investimentos caso Selic tenha alta
Para um dos autores do estudo, divergências de opiniões com o Banco Central refletem "heterogeneidade"
existente no governo Lula
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Estudo divulgado ontem pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo, diz que um
aumento dos juros básicos pode comprometer o crescimento
sustentado da economia. O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne a partir de hoje,
e a alta dos juros é dada como
certa pelo mercado. Hoje, a taxa está em 11,25% ao ano.
De acordo com a nota técnica, o BC já indicou claramente
que pretende realizar uma alta
preventiva na Selic com a justificativa de que, dessa forma,
poderia minimizar os custos da
estabilidade de preços.
"Uma contração monetária
seria um tremendo banho de
água fria no espírito empresarial, o que pode reduzir drasticamente a sustentabilidade do
atual ciclo de crescimento. Ainda que uma elevação da Selic
não interrompa os investimentos já em curso, ela certamente
inibiria novos investimentos.
Aí, sim, a expansão da demanda
poderia comprometer a estabilidade dos preços", diz o estudo
do Ipea, órgão dirigido por
Marcio Pochmann, contumaz
crítico da política monetária.
Para os autores da nota técnica, Miguel Bruno, Salvador
Vianna e André Modenesi, o cenário atual requer cautela, mas
o Banco Central deveria optar
pela manutenção da taxa. Vianna atribui o comportamento do
BC ao medo de errar. "O que se
observa é um temor excessivo
do BC, um grande conservadorismo. O presidente do banco
reclamou dos grupos de interesse, como Fiesp e CNI, mas
não menciona os interesses do
mercado financeiro", disse.
A divulgação do estudo na semana do Copom é polêmica,
dado que o Ipea é um órgão ligado ao governo. Segundo
Vianna, a divergência sobre a
condução da política monetária é uma realidade no atual governo. "Reflete a heterogeneidade presente no governo Lula.
Ele arbitra esses conflitos."
Para Miguel Bruno, não há
nenhum tipo de evidência empírica que mostre a necessidade de alta da taxa, e o BC deveria apresentar à sociedade dados que comprovem a necessidade de subir os juros. Questionados sobre a possibilidade de
um único aumento na taxa causar impacto negativo sobre os
investimentos, os pesquisadores afirmaram que, caso o Banco Central opte por elevar a taxa, o movimento não deve se
restringir a um único aumento.
Segundo Bruno, o BC interpreta processos de recomposição de custos e recuperação de
margens como sinais de descontrole inflacionário. "O investimento no Brasil é muito
sensível porque há 25 anos tem
taxas baixas de expansão."
O impacto da alta seria ainda
mais expressivo para os exportadores. "Se a Selic subir ainda
mais, esse diferencial se ampliará, anulando o efeito do
IOF sobre as entradas de capitais de curto prazo. Aí, sim, o
dólar vai derreter, sepultando
de vez a ilusão da eliminação da
vulnerabilidade externa da
economia brasileira."
Um dos fatores que permitiriam a manutenção da taxa é o
aumento de produtividade. Segundo o Ipea, a indústria de
transformação obteve ganhos
de produtividade acumulados
em 12 meses da ordem de 4,5%
no mês de janeiro. O custo unitário do trabalho acumulou
queda de 1,2% no período.
Além disso, ressalta que a
massa salarial ficou estável em
relação ao PIB. O Ipea destaca
ainda que o aumento da utilização da capacidade tem sido
acompanhado pela alta do investimento. "Se a produtividade cresce proporcionalmente
mais que a utilização da capacidade, é possível atender ao
crescimento da demanda sem
gerar pressões por aumento de
preços", diz o estudo.
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