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VINICIUS TORRES FREIRE
A fome na demagogia neocon
Álcool vira bode expiatório da fome na demagogia de Banco Mundial e ONU, que escondem danos de subsídios de país rico
UMA DAS cenas candidatas ao
Oscar de demagogia repulsiva deste ano é a imagem de
Roberto Zoellick segurando de braços abertos um pão e um pacote de
arroz em um encontro do Banco
Mundial, organização que preside.
Zoellick deu impulso ao recente
carnaval midiático e hipócrita a respeito do aumento da fome devido à
inflação de alimentos. O Banco
Mundial e penduricalhos da ONU
estão em campanha dita contra a fome, mas com ênfase no dano que os
biocombustíveis fariam aos pobres.
Tão repulsivo quanto a súbita piedade de Zoellick pelos famélicos da
terra é o relatório do Banco Mundial
a respeito do assunto. O primeiro
parágrafo do texto é sobre a inflação
global. O segundo, sobre a culpa dos
biocombustíveis. Não há praticamente palavra sobre subsídios agrícolas dos países ricos, que detonaram durante décadas a produção de
alimentos em países pobres. Nem
sobre subsídios americanos à produção do ineficiente álcool de milho.
Mas há uma palavrinha sobre a devastação de florestas para a produção de álcool no Brasil.
Receita do Banco Mundial para a
crise? Primeira: esmolas focadas
nos mais pobres (a solução para tudo no Banco Mundial enquanto não
chegar a era de ouro em que todas as
"reformas" estarão completas). Segunda: redução de tarifas de importação de comida em país pobre. Só a
terceira é o aumento da produção
alimentos, "no médio prazo".
Mas até a caridade do Banco Mundial é um fracasso. A fatia dos empréstimos do banco para projetos
agrícolas em 2007 foi pouco mais de
um terço do que era em 1980. Nos
últimos anos, emprestou em média
US$ 450 milhões anuais para esses
programas na África. O subsídio direto para agricultores da União Européia foi de US$ 96 bilhões em
2006. Nos EUA, US$ 24 bilhões.
No mais recente relatório do International Food Policy Research
Institute (IFPRI) sobre o tema, obviamente se reconhece a necessidade de medidas emergenciais. Mas as
prioridades de política são outras.
Primeiro: reduzir subsídios e barreiras comerciais em país rico. Segundo: melhorar a infra-estrutura e
o mercado agrícola em países pobres. Terceiro, dar condições tecnológicas para os pobres produzirem
mais comida. "Um regime comercial
mais aberto na agricultura beneficiaria os países em desenvolvimento
em geral (embora não reduza a pobreza em certo casos)", diz o texto.
O IFPRI é resultado da associação
de 47 países, fundações privadas e
órgãos da ONU, e também do Banco
Mundial. Seu relatório deveria ser lido pelo demagogo neoconservador
Zoellick, que foi uma espécie de ministro do Comércio de Bush. Disse
certa vez que "ou o Brasil aceita a Alca ou venderá suas mercadorias para a Antártida", evidenciando assim
a fineza diplomática do bushismo e
seu apreço pelo livre comércio negociado em bases razoáveis.
Bobagem do colunista
Na coluna de domingo, comparou-se o lucro de 3.900 empresas americanas listadas em Bolsa no quarto
trimestre de 2007 contra o lucro do
quarto trimestre de 2006 -a queda
foi de 56%. O colunista escreveu
"quarto trimestre de 2008 (contra
o mesmo trimestre de 2007)". Perdão aos leitores pela bobagem.
vinit@uol.com.br
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