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Entidade do setor de cana diz que não recebeu denúncias
Organização de plantadores afirma que acusações sobre suposta existência de cartel de usinas não refletem realidade
Dirigente diz que, "se há
cartel em alguma região, isso tem de ser apurado'; segundo ele, sistema de remuneração já existe há 12 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
A Orplana (Organização de
Plantadores de Cana da Região
Centro-Sul do Brasil), que representa 30 associações de produtores de cana-de-açúcar nos
Estados de SP, MG, GO e MT,
informa que não recebeu queixas sobre suposta existência de
prática de cartel de usinas, que
as denúncias feitas à Folha por
plantadores das regiões de Jaú
e Araçatuba (SP) são localizadas e não refletem o que ocorre
em todo o setor.
Em reportagem publicada na
terça-feira, agricultores das
duas regiões afirmaram que
usineiros adotam práticas irregulares na compra da cana (ao
exigirem exclusividade de fornecimento), no preço pago pela
matéria-prima e na divisão
geográfica dos fornecedores.
Ismael Perina, diretor-presidente da Orplana, que reúne 14
mil produtores, afirma que, há
12 anos, o setor adota um sistema para remunerar os plantadores que foi desenvolvido por
produtores e usineiros, por
meio do Consecana-SP (Conselho dos Produtores de Cana
de Açúcar, Açúcar e Álcool do
Estado de São Paulo).
Esse conselho criou um sistema de pagamento da matéria-prima que considera o volume de açúcar na cana -o
chamado ATR (Açúcar Total
Recuperável). Desde 2005, para pagar aos plantadores, algumas usinas se baseiam em uma
média do teor de açúcar constatado em plantações próprias
e do volume de açúcar da cana
dos agricultores. "Esse sistema
é voluntário. Ninguém é obrigado a adotá-lo", afirma.
FOLHA - Produtores afirmam que
quem fornece para uma usina está
impedido de vender para outra. Isso
ocorre no setor?
ISMAEL PERINA - Saímos, em
1998, de um regime controlado
[pelo governo] para um regime
livre. Na transição, há ainda
uma série de problemas para
obter conquistas. Isso faz parte
do livre mercado. O setor, por
meio da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) e
da Orplana, criou um modelo
de apuração de qualidade e de
preços médios da cana no Estado de SP. O sistema Consecana
vem sendo usado desde 1999 e a
cada cinco anos tem passado
por adaptação. É um modelo
que não agrada a todo mundo
porque está vinculado a preços.
Quando o preço do açúcar e do
álcool é bom, e o preço da cana
é bom, o modelo serve. Quando
não é, não serve.
FOLHA - A Orplana recebeu queixas sobre cartel no setor?
PERINA - Não. A queixa que
existe é que o preço pago pela
cana está baixo porque os preços do etanol e do açúcar estão
baixos.
FOLHA - Uma das reclamações dos
agricultores é que, a partir de 2005,
as usinas fazem contratos por cinco
anos e exigem exclusividade.
PERINA - Quando planto cana,
tem de ter alguém para vender.
Cabe a mim querer um contrato desse ou não. Como temos
cinco anos de condução de uma
lavoura, vou tentar fazer um
contrato por esse período. É
uma garantia para as duas partes ter um contrato desde que
seja benfeito e transparente. Se
planto e não tenho a quem entregar, o risco é todo meu.
FOLHA - O que o sr. acha das reclamações feitas por plantadores de
Jaú e de Araçatuba?
PERINA - Se tem cartel localizado em alguma região, isso tem
de ser apurado. Eu sou produtor na região de Jaboticabal. Se
sinto que vendo cana para malandro, não planto mais. Planto
outra coisa ou vendo a fazenda.
FOLHA - Os produtores estão sendo remunerados de forma justa?
PERINA - Não. Porque o mercado de etanol ficou solto, de maneira que deprimiu os preços
assustadoramente. O custo da
tonelada da cana é de R$ 53 [para o produtor], e estamos recebendo R$ 46, em média, por tonelada. Não estamos contentes.
Outro problema que enfrentamos foram as chuvas, que impediram muita cana de ser moída. O excesso de chuva também
piorou a qualidade da cana [o
volume de açúcar é baixo].
FOLHA - Por que os agricultores reclamam do modelo do Consecana?
PERINA - Reclamação sempre
existe. Desde o início do modelo, está prevista a aplicação do
ATR relativo [média entre o volume de açúcar da cana no início, meio e fim da safra]. No início da safra a cana tem baixa
qualidade [e vale menos]. No
meio, tem alta. E, no final, tem
baixa de novo. Como o sistema
foi desenvolvido a partir da entrega linear, quando isso não
ocorre, há um instrumento,
que é o ATR relativo, para não
prejudicar nem o produtor que
entregou cana em épocas ruins
nem a usina, que precisa moer a
cana em toda a safra.
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