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AJUSTE FISCAL
País vai crescer menos que o previsto, mas não fazer nada seria muito pior, avaliam especialistas
Cortes do governo seguram economia
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cortes de gastos anunciados ontem pelo governo devem fazer
a economia brasileira crescer menos do que o previsto. O impacto,
no entanto, será pequeno, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Para os analistas, o custo de não
fazer o ajuste seria ainda maior, já
que poderia levar a uma crise de
confiança, com alta do dólar, expectativa de inflação e uma inevitável alta da taxa de juros.
"O descontrole fiscal que a interrupção do pagamento da
CPMF poderia causar deixou o
mercado ansioso. Isto poderia
disparar uma onda de pessimismo com a alta do dólar e dos juros, que teria efeitos muito mais
negativos na economia", avalia o
economista Otaviano Canuto, da
Unicamp.
Ele lembra que o ajuste fiscal feito pelo governo ainda é frágil.
Sem a reforma tributária, o ajuste
foi feito com o aumento da arrecadação, por meio da criação de
novos impostos.
"Não há nada que permita dizer
que está tudo garantido. Não alcançamos uma situação de estabilidade e um descontrole agora poderia comprometer toda a credibilidade da política econômica."
Os analistas da consultoria Tendências avaliam que o impacto da
redução dos gastos do governo no
PIB deve ser muito pequeno, e
mantiveram a previsão de crescimento de 2,5% para este ano. "Há
uma melhora das expectativas,
porque o ajuste assegura o cumprimento das metas fiscais", diz
Juan Pedro Jensen.
A redução de gastos do governo
tem impacto negativo porque diminui, além do investimento do
governo, a procura por bens e serviços na economia. Por outro lado, esse impacto será compensado, em parte, pelo aumento da
renda dos consumidores, que deixarão de pagar a CPMF.
"O impacto dependerá da propensão das pessoas para gastar essa renda extra", diz Carlos Kawall,
economista do Citibank. O provável, diz ele, é que nem todo o impacto negativo seja compensado
pela alta do consumo. Mas ele
avalia que o impacto sobre o crescimento será pequeno.
Ele também diz que o preço de
não fazer o ajuste seria muito
maior, já que poderia custar ao
país uma queda mais significativa
na atividade econômica.
Kawall diz que o anúncio dos
cortes pode melhorar o humor
dos mercados, mas não deve ter
impacto muito grande sobre as
expectativas em relação ao desempenho econômico. "O ajuste
apenas assegura o cumprimento
da meta fiscal já programada."
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