São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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AJUSTE FISCAL

País vai crescer menos que o previsto, mas não fazer nada seria muito pior, avaliam especialistas
Cortes do governo seguram economia

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cortes de gastos anunciados ontem pelo governo devem fazer a economia brasileira crescer menos do que o previsto. O impacto, no entanto, será pequeno, segundo analistas ouvidos pela Folha.
Para os analistas, o custo de não fazer o ajuste seria ainda maior, já que poderia levar a uma crise de confiança, com alta do dólar, expectativa de inflação e uma inevitável alta da taxa de juros.
"O descontrole fiscal que a interrupção do pagamento da CPMF poderia causar deixou o mercado ansioso. Isto poderia disparar uma onda de pessimismo com a alta do dólar e dos juros, que teria efeitos muito mais negativos na economia", avalia o economista Otaviano Canuto, da Unicamp.
Ele lembra que o ajuste fiscal feito pelo governo ainda é frágil. Sem a reforma tributária, o ajuste foi feito com o aumento da arrecadação, por meio da criação de novos impostos.
"Não há nada que permita dizer que está tudo garantido. Não alcançamos uma situação de estabilidade e um descontrole agora poderia comprometer toda a credibilidade da política econômica."
Os analistas da consultoria Tendências avaliam que o impacto da redução dos gastos do governo no PIB deve ser muito pequeno, e mantiveram a previsão de crescimento de 2,5% para este ano. "Há uma melhora das expectativas, porque o ajuste assegura o cumprimento das metas fiscais", diz Juan Pedro Jensen.
A redução de gastos do governo tem impacto negativo porque diminui, além do investimento do governo, a procura por bens e serviços na economia. Por outro lado, esse impacto será compensado, em parte, pelo aumento da renda dos consumidores, que deixarão de pagar a CPMF.
"O impacto dependerá da propensão das pessoas para gastar essa renda extra", diz Carlos Kawall, economista do Citibank. O provável, diz ele, é que nem todo o impacto negativo seja compensado pela alta do consumo. Mas ele avalia que o impacto sobre o crescimento será pequeno.
Ele também diz que o preço de não fazer o ajuste seria muito maior, já que poderia custar ao país uma queda mais significativa na atividade econômica.
Kawall diz que o anúncio dos cortes pode melhorar o humor dos mercados, mas não deve ter impacto muito grande sobre as expectativas em relação ao desempenho econômico. "O ajuste apenas assegura o cumprimento da meta fiscal já programada."



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