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Brasil vai à OMC contra a "farm bill" americana
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil vai contestar na OMC
(Organização Mundial do Comércio) as perdas que a nova lei
agrícola americana ("farm bill")
pode causar à produção brasileira
de soja, disse ontem o ministro
Celso Lafer (Relações Exteriores).
Segundo o chanceler, não se pode contestar a lei toda, apenas as
perdas potenciais para o país. Por
isso, o governo ainda trabalha para levantar os prejuízos que podem resultar do texto final da nova lei agrícola dos EUA, sancionada anteontem pela Casa Branca.
O processo, portanto, deverá ser
contra os subsídios americanos à
produção de soja. A nova "farm
bill" aumentou em cerca de US$
60 bilhões os subsídios à produção agrícola nos EUA nos próximos dez anos.
Lafer não disse quando a OMC
será acionada para julgar os subsídios que, segundo o Itamaraty,
prejudicam as exportações brasileiras e deprimem o preço da soja
no mercado internacional.
A Folha apurou que o medo de
possíveis retaliações comerciais
dos EUA por causa da pirataria e
da Lei de Patentes brasileira levou
o Itamaraty a adiar o início do
questionamento aos subsídios.
O governo já havia concluído
estudos técnicos que sustentarão
os argumentos do Brasil, mas,
após falar por telefone com o representante de Comércio dos
EUA, Robert Zoellick, na semana
passada, Lafer decidiu esperar.
O Itamaraty vem recebendo
pressões do setor agrícola para
iniciar o processo, mas quer evitar
que a briga da soja gere prejuízos
a outros setores. Segundo diplomatas, o Itamaraty tem sido informado que há pressões nos EUA
para que a Casa Branca reaja contra a pirataria e a Lei de Patentes.
Os americanos afirmam que
perdem US$ 700 milhões por ano
por causa da pirataria de CDs, fitas de vídeo e softwares no Brasil.
Os EUA também reclamam de
uma emenda à Lei de Patentes,
aprovada no ano passado, que teria dificultado a obtenção de registros de patentes no Brasil.
Segundo diplomatas, o governo
interpretou a inclusão do Brasil
na Priority Watch List (lista de
países que requerem observação
prioritária) do relatório 301 do
Departamento de Comércio dos
EUA como um recado.
O relatório 301 divulga anualmente a lista de países que não
cumprem regras de comércio.
Neste ano, os americanos rebaixaram a classificação do Brasil
sob a acusação de que o país não
observa regras internacionais para concessão de patentes e não
combate a pirataria.
O governo teme que, como resposta ao processo contra a soja, os
americanos contestem a lei sobre
propriedade intelectual na OMC,
o que poderia afastar investimentos, e retire o Brasil do Sistema
Geral de Preferência (SGP).
O SGP é uma lista de produtos
de países em desenvolvimento
que entram nos EUA com redução da tarifa de importação. No
ano passado, 14% das exportações, de US$ 14 bilhões, para os
EUA tiveram esse benefício.
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