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GLOBALIZAÇÃO
Bloco falaria com uma só voz, diz idealizador
Empresário quer "Mr. Mercosul" para ressuscitar o bloco comercial
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O Mercosul chega à sua segunda
reunião de cúpula com a União
Européia (sexta-feira, em Madri)
tão esfrangalhado que um dos
principais empresários brasileiros, Luiz Fernando Furlan (grupo
Sadia), sugere a criação da figura
de "Mr. Mercosul", para que o
bloco fale com um só voz.
"Do lado europeu, fala um só,
mas, do lado de cá, são quatro as
vozes, às vezes cinco ou seis, se se
considerar Chile e Bolívia associados ao Mercosul", diz Furlan.
Completa: "Talvez valesse a pena o Brasil bancar um "Mr. Mercosul", em vez de ficar nesse tiroteio".
O argumento de Furlan tem um
peso que vai além da força da Sadia, uma das raras empresas brasileiras que está presente em mercados os mais diversificados. Em
Madri, ele será eleito co-presidente do Fórum Empresarial Mercosul/União Européia, um conglomerado que faz a sua quarta reunião desde 1999, sempre dias antes da cúpula oficial.
Furlan acha que "falta liderança
política" ao Mercosul, o que é
uma forma velada de criticar a diplomacia brasileira, a única que
poderia assumir tal liderança, não
só pelo peso do país (representa
cerca de 70% da economia do bloco) como pelo fato de que é o que
enfrenta menos dificuldades econômicas no momento.
Diante da falta da liderança política reivindicada por Furlan, a
cúpula Mercosul/União Européia
não irá muito longe, em matéria
de progresso, na negociação para
formar uma zona de livre comércio entre os dois blocos, que seria
a maior do mundo.
Decisões nessa área foram remetidas para uma reunião ministerial, no segundo semestre, quando o Brasil assume a presidência de turno do Mercosul, no
lugar de uma Argentina paralisada pela crise.
Apoio à Argentina
É pouco provável que a Argentina saia das reuniões de Madri menos abandonada do que se sente hoje. Dizem os empresários europeus, no documento que prepararam para seu encontro com os colegas do Mercosul: "As companhias européias querem manifestar seu compromisso de ajudar a
Argentina a recuperar o crescimento econômico por meio de
suas atividades produtivas em
uma moldura de políticas estáveis, abertas, favoráveis aos negócios, em um ambiente não-discriminatório".
Tradução: seguir a ortodoxia,
recomendada pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional), e nada
de impor medidas que prejudiquem as empresas européias, notadamente as espanholas, que fizeram pesados investimentos na
Argentina até que o modelo de
câmbio fixo revelou-se insustentável.
A partir daí, o que houve foi
"desinvestimento". Só no ano
passado as empresas espanholas
tiraram da Argentina 923 milhões mais do que puseram (cerca
de US$ 830 milhões).
Acordo com o Chile
Se os empresários recomendam
a ortodoxia, é impensável que os
governantes europeus sejam mais
benevolentes e se disponham a
ajudar a Argentina antes de um
entendimento com o FMI, por
mais que o governo brasileiro deva insistir nessa hipótese, como o
presidente Fernando Henrique
Cardoso tem feito uma e outra
vez.
Ao contrário, os europeus vão
usar a cúpula para a assinatura
formal de um acordo de livre comércio com o Chile, como sinal
de que tipo de política esperam
dos latino-americanos em geral e
do Mercosul em particular.
O Chile é tido como o principal
modelo de abertura comercial e
de políticas pró-mercado da
América Latina, ao lado do México.
Pascal Lamy, comissário (espécie de ministro) europeu para o
Comércio, diz que o acordo com
o Chile é "ambicioso e inovador",
por incluir, além da eliminação de
tarifas para trocar bens, a liberalização também em serviços, propriedade intelectual, investimentos e políticas de concorrência.
Alguns desses temas (propriedade intelectual e investimentos)
são vistos com reservas no Brasil,
ainda mais em uma fase eleitoral
em que não há um só candidato
que se diga disposto a manter incólumes as políticas adotadas durante o período Fernando Henrique Cardoso.
A eleição no Brasil, aliás, é outro
elemento a fazer o Mercosul passar por uma fase de "amortecimento", como diz Furlan.
"O que ocorrer nas próximas
eleições brasileiras será determinante para todo o continente latino-americano", chega a supor a
revista espanhola "La Clave", no
editorial de seu número desta semana.
Suspeita de bomba
A polícia espanhola prendeu
ontem duas pessoas acusadas de
pertencer ao grupo separatista
basco ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade).
O ministro do Interior, Mariano
Rajoy, disse que as duas talvez estivessem preparando um atentado durante a cúpula União Européia-América Latina e Caribe, que
se realiza sexta-feira e sábado (a
cúpula UE-Mercosul se dá à parte
dessa reunião maior).
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