São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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COMÉRCIO EXTERIOR

Governo prioriza América Latina, e vendas para mundo industrializado avançam menos que a média

Exportação para países ricos cresce menos

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O destaque para a comemoração da alta das exportações para novos mercados, especialmente para a América Latina, mascara a perda de fôlego das vendas externas brasileiras para mercados importantes, como os EUA e a UE.
Um balanço do desempenho do comércio exterior em três anos de governo Lula mostra que a taxa de crescimento das exportações para as economias mais ricas do planeta está abaixo da média total.
Entre 2003 e 2005, as exportações brasileiras cresceram, em média, 25,1%. No mesmo período, o total exportado para o G7 (grupo dos sete países dos mais ricos do mundo) cresceu 18,6%. Já para a América Latina, prioridade confessa da política comercial do governo, essa expansão foi de 37,5%, segundo o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Quando o recorte é feito sob a ótica do "quantum" (quantidade exportada), os números mostram a mesma tendência. Segundo análise da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), entre 2002 e 2005, houve um incremento de volume total exportado pelo Brasil de 50%. Nesse mesmo período, para os EUA, a alta foi de 18%, para a UE, 30%, e, para o Mercosul, 181%.
Entre 2003 e 2005, os países em desenvolvimento contribuíram com 57,7% para o aumento das exportações brasileiras. A fatia dos ricos do G7 para esse incremento foi de 26,5%. Mais do que os méritos da ofensiva comercial do Brasil entre seus pares, analistas ouvidos pela Folha argumentam que o deslocamento do crescimento das exportações para os mercados de países em desenvolvimento é, em boa medida, reflexo da perda de competitividade de produtos brasileiros nos mercados dos países ricos.
"Especialmente no caso dos EUA, há um problema forte de concorrência com México e China. O câmbio valorizado no Brasil prejudicou, mas há problemas estruturais de competitividade em setores da indústria brasileira", diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Os manufaturados, que têm maior valor agregado que as commodities, são a maior fatia da exportação para os EUA.
As alternâncias de posição no ranking dos principais destinos de exportação do Brasil não são algo anormal no comércio internacional. A possibilidade de perda de espaço no mercado norte-americano, entretanto, é vista com preocupação. Em 2005, a contribuição das vendas para os EUA para o crescimento da exportação brasileira foi de 11,1%. Em 2004, havia sido de 14,3%.
A médio e longo prazos, setores como o de carros, o de siderurgia e os de bens de capital podem ser os mais ameaçados. "Há risco real de os asiáticos empurrarem os produtos brasileiros para fora do mercado americano", diz Ribeiro.
Para José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), há um componente político na desaceleração das vendas para os norte-americanos. "Acredito que tenha sido erro de ideologia. Os EUA são o maior mercado consumidor do mundo, mas claramente não foi a prioridade desse governo."
"O Brasil está sendo excluído do centro exportador mundial. Estamos conseguindo crescer nos países do Sul e nas franjas dos países ricos", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
O crescimento mais lento das exportações para a UE pode ser creditado a um problema conjuntural do próprio bloco. A magra taxa de crescimento -1,7% em 2005- explicaria a desaceleração das importações dos europeus.


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