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COMÉRCIO EXTERIOR
Governo prioriza América Latina, e vendas para mundo industrializado avançam menos que a média
Exportação para países ricos cresce menos
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O destaque para a comemoração da alta das exportações para
novos mercados, especialmente
para a América Latina, mascara a
perda de fôlego das vendas externas brasileiras para mercados importantes, como os EUA e a UE.
Um balanço do desempenho do
comércio exterior em três anos de
governo Lula mostra que a taxa de
crescimento das exportações para
as economias mais ricas do planeta está abaixo da média total.
Entre 2003 e 2005, as exportações brasileiras cresceram, em
média, 25,1%. No mesmo período, o total exportado para o G7
(grupo dos sete países dos mais ricos do mundo) cresceu 18,6%. Já
para a América Latina, prioridade
confessa da política comercial do
governo, essa expansão foi de
37,5%, segundo o Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Quando o recorte é feito sob a
ótica do "quantum" (quantidade
exportada), os números mostram
a mesma tendência. Segundo
análise da Funcex (Fundação
Centro de Estudos de Comércio
Exterior), entre 2002 e 2005, houve um incremento de volume total exportado pelo Brasil de 50%.
Nesse mesmo período, para os
EUA, a alta foi de 18%, para a UE,
30%, e, para o Mercosul, 181%.
Entre 2003 e 2005, os países em
desenvolvimento contribuíram
com 57,7% para o aumento das
exportações brasileiras. A fatia
dos ricos do G7 para esse incremento foi de 26,5%. Mais do que
os méritos da ofensiva comercial
do Brasil entre seus pares, analistas ouvidos pela Folha argumentam que o deslocamento do crescimento das exportações para os
mercados de países em desenvolvimento é, em boa medida, reflexo da perda de competitividade
de produtos brasileiros nos mercados dos países ricos.
"Especialmente no caso dos
EUA, há um problema forte de
concorrência com México e China. O câmbio valorizado no Brasil
prejudicou, mas há problemas estruturais de competitividade em
setores da indústria brasileira",
diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Os manufaturados,
que têm maior valor agregado
que as commodities, são a maior
fatia da exportação para os EUA.
As alternâncias de posição no
ranking dos principais destinos
de exportação do Brasil não são
algo anormal no comércio internacional. A possibilidade de perda de espaço no mercado norte-americano, entretanto, é vista
com preocupação. Em 2005, a
contribuição das vendas para os
EUA para o crescimento da exportação brasileira foi de 11,1%.
Em 2004, havia sido de 14,3%.
A médio e longo prazos, setores
como o de carros, o de siderurgia
e os de bens de capital podem ser
os mais ameaçados. "Há risco real
de os asiáticos empurrarem os
produtos brasileiros para fora do
mercado americano", diz Ribeiro.
Para José Augusto de Castro, da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil), há um componente político na desaceleração
das vendas para os norte-americanos. "Acredito que tenha sido
erro de ideologia. Os EUA são o
maior mercado consumidor do
mundo, mas claramente não foi a
prioridade desse governo."
"O Brasil está sendo excluído do
centro exportador mundial. Estamos conseguindo crescer nos países do Sul e nas franjas dos países
ricos", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
O crescimento mais lento das
exportações para a UE pode ser
creditado a um problema conjuntural do próprio bloco. A magra
taxa de crescimento -1,7% em
2005- explicaria a desaceleração
das importações dos europeus.
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