São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Mazelas do comércio exterior

Os dados da balança de abril geraram um certo otimismo, mas a conjunção de fatores favoráveis não será eterna

A DIVULGAÇÃO DE estatísticas da balança comercial do mês passado criou um certo clima de otimismo em relação ao comércio exterior do país. Pela primeira vez no ano, o crescimento mensal das exportações (26,6% em relação a abril do ano passado) foi maior do que o das importações (22,5%).
Em abril, ocorreu o maior superávit mensal da história do comércio exterior brasileiro, de US$ 4,2 bilhões. No período janeiro-abril houve outro recorde: superávit acumulado de US$ 12,9 bilhões, com exportações de US$ 46,4 bilhões e importações de US$ 33,4 bilhões.
Nada contra o otimismo, um combustível poderoso. Mas é preciso ter cuidado ao examinar números isolados, para evitar a criação de um ambiente inibidor de correções necessárias na área do comércio externo.
A taxa de expansão das importações caiu em abril por razões fortuitas. A Petrobras comprou menos combustíveis no exterior porque um navio atrasou e houve menor entrada de bens de consumo, tendência que certamente não será mantida. Apesar disso, no primeiro quadrimestre, a expansão das importações de bens de consumo foi vigorosa: 35%.
As exportações brasileiras, assim como as mundiais, crescem em razão de uma forte demanda por parte dos países industrializados, principalmente os EUA, e dos grandes emergentes, especialmente a China. No caso brasileiro, a expansão do volume exportado tem sido pequena. Uma variável importante é o preço das commodities.
A revista "The Economist" publica regularmente um quadro estatístico com o índice de variação da cotação das commodities. Vale a pena examiná-lo. Nos últimos 12 meses até 1º de maio, a cotação média das commodities agrícolas aumentou 15% em dólares. As industriais, como minérios e metais, fartamente exportados pelo Brasil, subiram em média 16% em 12 meses. Essa tendência não é de hoje. Desde 2000, as commodities em geral tiveram alta de 102%, e as industriais, de 160%.
Nos preços dos manufaturados, não houve aumentos médios dessa magnitude. Reajustes nessa área, quando obtidos, vêm sempre a conta-gotas e a custo de penosas negociações. Por isso, as exportações cresceram menos, apenas 11,6% no quadrimestre. E muitos setores apresentaram quedas: automóveis (-13,4%), motores (-10,5%), aparelhos transmissores (-22,6%) e calçados (-0,2%).
O peso dos produtos básicos na pauta brasileira de exportações subiu muito nos últimos anos. Esses itens, que representavam 23% da pauta em 2000, representam hoje 30%. Enquanto isso, a participação dos manufaturados, em torno de 54% da pauta, é a menor desde 1984.
É preciso ter cuidado, portanto, com análises apressadas. A demanda mundial está em ascensão, a safra brasileira é boa, as cotações das commodities estão elevadas e, além disso, a cruzada contra o aquecimento global cria um clima favorável à expansão dos biocombustíveis brasileiros.
Mas essa conjunção de fatores favoráveis não vai durar para sempre. É fundamental que as exportações parem de perder força na área de manufaturados, setor em que a demanda mundial e os preços são normalmente mais estáveis. Essa tendência não é um bom sinal. Indica que, apesar do sucesso da balança, é preciso cuidar das mazelas que ameaçam o comércio externo do país, entre elas o câmbio desajustado, os custos elevados pela deficiência de infra-estrutura logística e a tributação excessiva.


BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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