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BENJAMIN STEINBRUCH
Mazelas do comércio exterior
Os dados da balança de abril geraram um certo otimismo, mas a conjunção de fatores favoráveis não será eterna
A DIVULGAÇÃO DE estatísticas
da balança comercial do mês
passado criou um certo clima
de otimismo em relação ao comércio exterior do país. Pela primeira
vez no ano, o crescimento mensal
das exportações (26,6% em relação a
abril do ano passado) foi maior do
que o das importações (22,5%).
Em abril, ocorreu o maior superávit mensal da história do comércio
exterior brasileiro, de US$ 4,2 bilhões. No período janeiro-abril houve outro recorde: superávit acumulado de US$ 12,9 bilhões, com exportações de US$ 46,4 bilhões e importações de US$ 33,4 bilhões.
Nada contra o otimismo, um combustível poderoso. Mas é preciso ter
cuidado ao examinar números isolados, para evitar a criação de um ambiente inibidor de correções necessárias na área do comércio externo.
A taxa de expansão das importações caiu em abril por razões fortuitas. A Petrobras comprou menos
combustíveis no exterior porque
um navio atrasou e houve menor entrada de bens de consumo, tendência que certamente não será mantida. Apesar disso, no primeiro quadrimestre, a expansão das importações de bens de consumo foi vigorosa: 35%.
As exportações brasileiras, assim
como as mundiais, crescem em razão de uma forte demanda por parte
dos países industrializados, principalmente os EUA, e dos grandes
emergentes, especialmente a China.
No caso brasileiro, a expansão do volume exportado tem sido pequena.
Uma variável importante é o preço
das commodities.
A revista "The Economist" publica regularmente um quadro estatístico com o índice de variação da cotação das commodities. Vale a pena
examiná-lo. Nos últimos 12 meses
até 1º de maio, a cotação média das
commodities agrícolas aumentou
15% em dólares. As industriais, como minérios e metais, fartamente
exportados pelo Brasil, subiram em
média 16% em 12 meses. Essa tendência não é de hoje. Desde 2000, as
commodities em geral tiveram alta
de 102%, e as industriais, de 160%.
Nos preços dos manufaturados,
não houve aumentos médios dessa
magnitude. Reajustes nessa área,
quando obtidos, vêm sempre a conta-gotas e a custo de penosas negociações. Por isso, as exportações
cresceram menos, apenas 11,6% no
quadrimestre. E muitos setores
apresentaram quedas: automóveis
(-13,4%), motores (-10,5%), aparelhos transmissores (-22,6%) e calçados (-0,2%).
O peso dos produtos básicos na
pauta brasileira de exportações subiu muito nos últimos anos. Esses
itens, que representavam 23% da
pauta em 2000, representam hoje
30%. Enquanto isso, a participação
dos manufaturados, em torno de
54% da pauta, é a menor desde 1984.
É preciso ter cuidado, portanto,
com análises apressadas. A demanda mundial está em ascensão, a safra
brasileira é boa, as cotações das
commodities estão elevadas e, além
disso, a cruzada contra o aquecimento global cria um clima favorável à expansão dos biocombustíveis
brasileiros.
Mas essa conjunção de fatores favoráveis não vai durar para sempre.
É fundamental que as exportações
parem de perder força na área de
manufaturados, setor em que a demanda mundial e os preços são normalmente mais estáveis. Essa tendência não é um bom sinal. Indica
que, apesar do sucesso da balança, é
preciso cuidar das mazelas que
ameaçam o comércio externo do
país, entre elas o câmbio desajustado, os custos elevados pela deficiência de infra-estrutura logística e a
tributação excessiva.
BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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