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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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ANÁLISE

Se nada mais der certo, Fed pode tentar o Plano B

PHILIP COGGAN
DO "FINANCIAL TIMES"

Plano b . Essa é a expressão que os estrategistas da corretora Dredner Kleinwort Wasserstein vem empregando para descrever as medidas "não convencionais" que o Federal Reserve (banco central dos EUA) poderia adotar.
A idéia é que o Fed estaria agora o mesmo dilema que atingiu o Banco do Japão na década de 1990 e que continua a afligi-lo. As taxas de juros estão se aproximando do zero. (As taxas de juros norte-americanas estão em 1,25% ao ano) Não há muita margem para cortes.
Pior, se a deflação vier, o Fed perderia a iniciativa. As taxas nominais de juros não podem ficar abaixo de zero. Assim, se os preços estiverem caindo, as taxas reais de juros devem sempre ser positivas. Ben Bernanke, um dos diretores do Fed, deu a entender que o Fed fará tudo para evitar esse tipo de problema. Os cortes nas taxas de juros talvez não sejam o bastante. Daí surge a necessidade do Plano B.
O que o Plano B poderia envolver? O Fed poderia declarar que adotaria uma meta mais elevada para a inflação, mas é pouco provável que uma declaração desse tipo, se não for acompanhada por medidas práticas, seja o bastante.
Uma possibilidade seria que o Fed tentasse controlar as taxas de juros de prazo mais longo, por meio de aquisições nos mercados de títulos públicos. Em sua forma mais simples, a instituição poderia "rodar a gráfica" e imprimir dinheiro para a compra de papéis, e dessa forma injetaria liquidez na economia. Rendimentos mais baixos para os títulos poderiam estimular o setor empresarial a tomar mais empréstimos e a investir mais, particularmente se o Fed estipular uma meta explícita para o rendimento dos títulos.
Uma iniciativa como essa seria aceita sem dificuldades pelos investidores. Se os investidores temessem que uma medida assim levasse a uma alta posterior da inflação, poderiam forçar para cima os rendimentos de longo prazo, negando parte dos benefícios da ação do Fed.
O banco central talvez se visse compelido a adquirir outros ativos, tais como títulos municipais, debêntures ou até mesmo ações. Isso provocaria algumas interessantes questões políticas sobre uma nacionalização "clandestina" e sobre favorecimento na seleção dos ativos.
Alguns não acreditam que qualquer banco central, nem o Fed, seja realmente capaz de deter as forças deflacionárias mundiais que já em ação. Os pesados níveis de endividamento nos países desenvolvidos significam que as empresas e os consumidores vão querer ampliar sua poupança, reduzindo a demanda agregada, enquanto a indústria encontra problemas devido à globalização e à crescente ameaça da China.
Talvez um dos motivos para a recente alta das Bolsas seja o fato de que os investidores acreditem que o Plano B não está longe de ser implementado. De fato, o Fed vem bancando os mercados, exatamente como no final dos anos 90, quando os investidores acreditavam na disposição do BC de resgatar o setor financeiro diante da crise asiática e o colapso da corretora Long-Term Capital Management.
A equipe do Dresdner acredita que o Plano B vá terminar funcionando para reanimar a economia e que isso servirá de gatilho para que o banco abandone sua já antiga postura pessimista quanto às ações. Mas eles argumentam igualmente que as notícias teriam de ser muito ruins antes que o Plano B seja adotado. E é ação do Fed, e não conversa, que reanimará os mercados. Por isso, argumenta a Dresdner, não há motivo para otimismo, por ora.

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