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LUÍS NASSIF
Brincando com o fogo
Ficar dentro da meta inflacionária não é um desafio que se encerra em 31 de dezembro de cada ano. É processo
continuado. A vitória se dá
quando o organismo econômico, sob equilíbrio, consegue
conviver com inflações baixas.
Esse "sob equilíbrio" é o nó da
questão. Se se atinge a meta
ocasionalmente sem se estar
sob equilíbrio, ao primeiro desafogo a mola se estende novamente, vai buscar um novo
equilíbrio, trazendo uma nova
inflação.
A lógica da política monetária é perseguir a meta de inflação gregoriana. Como parte da
inflação é dada -os preços administrados, que refletem a inflação do período anterior-,
para manter a meta, a política
monetária necessita pressionar
para baixo os preços livres.
Cria-se o efeito mola por meio
da apreciação do câmbio (reduzindo o custo dos insumos
importados) e da compressão
das margens.
Aí termina o ano, e suponhamos que a inflação tenha terminado dentro da meta. Significa que a batalha foi vencida?
Não. Significa que há um novo
ano pela frente, com a economia desaquecida, as empresas
com as margens comprimidas e
os preços administrados com
reajustes menores para o período seguinte.
Arrumada a casa, os juros começam a cair, conforme promessa dos sábios do Banco
Central. À medida que caem,
há um movimento natural de
saída de dólares. O câmbio se
desvaloriza novamente, com
impacto direto sobre o IPA (Índice de Preços no Atacado), que
é o principal componente do
IGP (Índice Geral de Preços),
que indexa os contratos de concessão. Recria-se o movimento
circular.
Se a economia começa a retomar e se as empresas estão com
margens comprimidas, ao primeiro sopro de recuperação seu
primeiro movimento será tratar de recuperar a margem. O
segundo será retomar os investimentos. Mas, se o crescimento
é abortado a qualquer movimento de recuperação de margem e se não se atua sobre oligopólios, como é que fica? Bateu de novo no limite da capacidade instalada, há aumento
de preço e ocorre novo aumento de juros.
Pior: sempre que o câmbio se
aprecia, esse movimento não é
acompanhado pela queda correspondente dos insumos dolarizados. Aumentam-se os preços em dólares para compensar
a queda em reais. Quando o
real começa a se desvalorizar,
mantêm-se o preço em dólares,
que sofrem todo o peso da desvalorização.
Essa lógica tem se repetido
sistematicamente na economia
brasileira, desde que se passou
a aplicar a política de metas inflacionárias por aqui. Tudo isso
em condições normais de vôo.
Não se estão incluindo nesse
moto-contínuo variáveis que o
governo Lula ainda não encontrou pela frente: crise internacional, crise na produção agrícola, terremoto eleitoral -conjunto de nuvens que estão se
formando no horizonte.
Todas as energias do governo
e dos setores responsáveis da
opinião pública estão voltadas,
neste momento, para debelar o
redemoinho Roberto Jefferson.
E se deixou de lado o tsunami
que está sendo montado pelo
Banco Central para o próximo
ano.
O país gosta de brincar com
fogo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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