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Boom concentra riqueza e leva empresários à política
Investimentos contrastam com pobreza e infra-estrutura e acirram disputa por poder
Maior cidade da região, com
130 mil habitantes, Barreiras
perde terreno para a vizinha
LEM, onde condomínios têm
campo de golfe e pista de kart
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO OESTE DA BAHIA
O prefeito tucano de Barreiras, Saulo Pedrosa, 67, malha
três vezes por semana na hora
do almoço. Se sai para a academia dez minutos após o previsto, acaba preso em um dos vários congestionamentos que
entopem a cidade, de apenas
130 mil habitantes.
Normal, já que mais de 2.500
carretas pesadas, muitas com
até nove eixos, atravessam o
centro de Barreiras diariamente, levantando nuvens de poeira e arrebentando o pavimento.
Por isso, Pedrosa se apressa.
Entre os habitantes de Barreiras, alguns querem mais é
botar o prefeito para correr. "Se
ele vem aqui, o povo mata ele.
Saulo é muito melhor cirurgião
do que prefeito", diz Helena Jaguarari, 44, que vende temperos no mercado em frente à
prefeitura, do outro lado da BR-242, que corta Barreiras.
Embora possa, o baiano Saulo Pedrosa não é candidato à
reeleição. Se diz decepcionado
e quer voltar à medicina.
Barreiras tem uma dívida total de R$ 80 milhões e depende
quase que exclusivamente de
transferências da União e do
Estado. Sem sistema de georeferenciamento para acompanhar fatos geradores de impostos no agronegócio, a sonegação em Barreiras grassa no
campo e na cidade: 85% dos
moradores, muitos latifundiários, não pagam IPTU.
Por isso, sobra muito pouco
para investimentos, como o
anel rodoviário planejado há
anos para desafogar a cidade.
Um dos poucos orgulhos de
Pedrosa foi a construção de
uma escola no bairro pobre de
Santa Luzia, onde se concentra
a maior parte das 7.715 famílias
beneficiárias do Bolsa Família.
Em Barreiras, há outras 7.011
famílias pleiteando o benefício,
como a do ex-agricultor Edivaldo Oliveira, 25. Ele compra lenha a R$ 8 por carroça cheia e
vende o mesmo material "picado" a padarias por R$ 20.
Oliveira já trabalhou no rico
agronegócio local, mas deixou a
atividade. Foi empurrado para
fora pelas máquinas e por más
condições de trabalho. "Muitas
fazendas aqui só fazem a gente
sofrer. Não compensa", afirma.
Com menos de 12% de sua
população no campo, onde a
mecanização impera, a situação de Barreiras é o contraste
do que ocorre no agronegócio.
"O desemprego é muito grande.
A gente aqui fica só olhando, de
braços cruzados, as carretas e o
progresso passarem pela BR",
resume, resignado, o prefeito.
Mas, há 95 km de Barreiras,
há um grupo político emergente, vindo do Sul, de olho na cadeira do prefeito Pedrosa.
A estratégia do paranaense
Oziel Oliveira, 43, duas vezes
prefeito pelo PP da vizinha Luís
Eduardo Magalhães, ou LEM, é
fazer prefeita de Barreiras a sua
mulher, a deputada federal
Jusmari de Oliveira (PR-BA),
também original do Paraná.
Em LEM, é tido como favas
contadas que Oliveira fará seu
sucessor o colega de atividades
privadas Humberto Santa
Cruz, 52, cearense educado no
Rio e fazendeiro e empresário,
assim como o prefeito.
O sonho do grupo político de
LEM é agregar Barreiras à onda
de "rápido desenvolvimento"
por que passa esse pequeno
município de 40 mil habitantes, onde a maioria veio de fora.
A impressão é que há mais loiros e sotaque gaúcho em LEM
do que morenos e baianos.
"Somos de direita, mas não
temos problemas com o governo Lula ou com o governo estadual do PT. Nosso projeto é claro: atrair empresas para agregar valor à produção agrícola",
diz Oliveira, elencando vários
investimentos em gestação.
O prefeito se orgulha de ter
assumido LEM em 2001 gerando receita mensal de R$ 450
mil e de estar entregando a cidade com giro de R$ 5 milhões.
"No período, a população cresceu cinco vezes. A receita, dez."
Mal comparando, LEM é
uma espécie de Dubai tupiniquim no oeste da Bahia. Em vez
do petróleo dos Emirados Árabes, o dinheiro brota do agronegócio e de seus agregados.
Mas, assim como Barreiras,
LEM tem uma estrada, a BR-020, no meio do caminho -e
crescentes problemas sociais.
Há 30 anos, LEM não passava de um posto de gasolina, o
Mimoso do Oeste. O entorno
do posto cresceu e virou distrito de Barreiras, até a emancipação com o nome de LEM. O
posto continua lá, no miolo da
cidade, cercado de caminhões e
prostitutas durante à noite.
De um lado da movimentada
BR-20 em LEM, há bairros e
residências mais pobres e modestas. Do outro, condomínios
fechados com imóveis na casa
do milhão, campo de golfe, circuito de kart e pista de pouso de
terra batida nos arredores.
Nesse mesmo lado, figuram
ainda um hotel novo, com elevador panorâmico, e o Avenida
Lounge, o primeiro bar-restaurante da cidade a mimetizar as
influências do Sul-Sudeste.
Há duas semanas, o jornal local "Classe A" resumia na capa
dois destaques de LEM: a feira
Bahia Farm Show e suas "novas
tecnologias"; e o Jardim das
Acácias, onde vive mais de um
quarto da população da cidade
envolta em "uma onda de assaltos e violência no bairro".
O problema seria carência de
segurança, iluminação e políticas públicas. Já o concentrado
agronegócio cresce sem parar.
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