|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Troca de dados com Suíça entra em vigor
Acordo de cooperação jurídica penal entre o Brasil e o país europeu deve facilitar investigações de crimes financeiros
Tratado deve agilizar a localização de contas em bancos suíços com somas oriundas de atividades criminosas, e sua restituição
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Depois de cinco anos de pendências, finalmente entrará em
vigor no dia 27 de julho o acordo de cooperação jurídica penal
entre Brasil e Suíça, cujo objetivo é facilitar a troca de informações sobre suspeitos de crimes
financeiros e corrupção.
A esperança das autoridades
brasileiras é que o acordo agilize a localização de contas em
bancos suíços com somas
oriundas de atividades criminosas, e sua restituição. O tratado, assinado em 2004, não inclui casos de evasão fiscal.
Ainda que reconheçam valor
jurídico e força política no
acordo, alguns especialistas
alertam que restarão várias
brechas na Suíça para que os
acusados provoquem atrasos
na troca de informações.
A última pendência para a
entrada em vigor do tratado era
um veto do STF (Supremo Tribunal Federal), que foi removido há dois meses.
No ano passado, o ministro
Marco Aurélio Mello suspendera o cumprimento de carta
rogatória na qual o Ministério
Público da Suíça pedia dados
sobre o escândalo conhecido
como "propinoduto", que envolveu auditores e fiscais.
Mello barrou a solicitação
por entender que ela deveria
ter sido feita pela Justiça Suíça,
e não pelo MP. Mas recuou ante
liminar do Ministério Público
Federal, que alertava para o risco de que a falta de cooperação
colocava em risco o bloqueio na
Suíça dos recursos desviados
pelo "propinoduto".
Nas investigações sobre o escândalo foi encontrada uma
conta na Suíça com US$ 36 milhões, que teriam sido desviados pelos fiscais e auditores.
Decisão do Judiciário brasileiro determinou o bloqueio da
conta, o que foi cumprido pelo
MP suíço. Para que o dinheiro
possa ser restituído, segundo a
lei da Suíça, todos os recursos
devem ser esgotados no Brasil.
Para o ex-deputado suíço
Jean Ziegler, que escreveu livros famosos e polêmicos sobre
a lavagem de dinheiro no país, a
entrada em vigor do acordo é
"uma boa notícia", já que simplifica os procedimentos e cria
um compromisso político para
que os pedidos de cooperação
não se arrastem.
Ele dá como exemplo o caso
dos recursos públicos que o deputado federal Paulo Maluf teria desviado para bancos na
Suíça quando era prefeito de
São Paulo. "Se esse acordo estivesse em vigor, ele não teria podido transferir o dinheiro para
outros paraísos fiscais" diz Ziegler. Maluf diz que nunca teve
dinheiro no exterior.
Apesar disso, Ziegler mantém-se cético sobre a agilização
que esse acordo dará na tramitação dos pedidos do Brasil à
Suíça. "O acordo ajuda porque
passa a existir uma lei que prevê a troca de dados. O problema
é a execução", diz Ziegler, lembrando que a Suíça demonstrou falta de vontade política
no passado em cooperar.
"Espero que, com o Brasil,
uma potência econômica
emergente que tem como retaliar, a Suíça tenha o cuidado para não atrasar os pedidos."
Com o acordo, o caminho jurídico para a troca de informações será abreviado de forma
significativa, passando a ser um
procedimento direto entre os
ministérios da Justiça, sem ter
que passar pelos canais diplomáticos, como ocorre hoje.
O próximo passo é a negociação de um acordo de bitributação, que está em estágio inicial,
para incluir troca de dados entre Brasil e Suíça também em
casos de evasão fiscal. Sob intensa pressão internacional, o
governo suíço admitiu fazer
concessões em seu polêmico
sistema de sigilo bancário, o
que já resultou em acordos de
cooperação com três países.
Texto Anterior: Investidor de São Paulo lidera disputa com ganho de 297,2% Próximo Texto: Regras do pré-sal se estenderão a novos campos de petróleo Índice
|