São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEFONIA

Companhia não admite oficialmente, mas vem mudando atuação desde 2001

Vésper vira empresa de telefonia celular

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Aos poucos, a Vésper está se tornando uma empresa de telefonia celular. Ela não admite oficialmente a transformação, para não aguçar a ira das teles do setor, mas a mudança começou no final do ano passado, quando a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) permitiu que comercializasse o telefone "portátil".
A transformação começou discreta, com uma espécie de telefone sem fio de longo alcance, que tinha um suporte fixo. Aos poucos, evoluiu para aparelhos tão pequenos e modernos quanto os celulares de última geração.
Na última sexta-feira, durante reunião da Associação Brasileira de Telecomunicações, no Rio, o presidente da Vésper, Luiz Kaufmann, anunciou o passo definitivo: a empresa vai comprar licenças para explorar o serviço de telefonia celular em São Paulo e nos outros 16 Estados onde tem autorização para operar no ramo de telefonia fixa.
O investimento na compra das licenças tem dois propósitos: acabar de vez com os atritos com as atuais operadoras de telefonia celular, que não se conformam com a mudança de foco da empresa, e permitir que seus clientes possam usar o telefone em qualquer ponto do país e não apenas na cidade onde moram, como ocorre hoje.

Renascimento
A Vésper protagonizou a mais impressionante história do mercado de telecomunicações brasileiro. No ano passado, ela foi ao fundo do poço e parecia à beira da falência. Mas, em ação inédita para padrões brasileiros, seus acionistas e fornecedores assumiram perdas de quase US$ 2 bilhões, e a empresa começou a renascer.
A Vésper nasceu de dois consórcios formados pela Bell Canada e por um grupo de empresas americanas, entre elas a Velcom e a Qualcomm. O consórcio pagou R$ 130 milhões pelas licenças para entrar no mercado como empresas-espelho (concorrentes) da Telefônica e da Telemar.
Os acionistas investiram US$ 800 milhões e contraíram mais US$ 1,3 bilhão em dívidas com fornecedores (fabricantes estrangeiros de equipamentos de telefonia) para implantar a empresa. Diferentemente das companhias de telefonia fixa, as espelhos foram autorizadas pela Anatel a usar tecnologia celular. Apenas os aparelhos nas casas teriam fios.
Kaufmann, que assumiu a presidência da Vésper durante a reestruturação, no ano passado, avalia que a crise da empresa foi provocada por erros estratégicos cometidos pelos acionistas, que já estão sendo corrigidos.
O primeiro erro, segundo ele, foi superdimensionar o cálculo do tamanho do mercado. "Houve um otimismo exagerado em relação às espelhos", afirmou.
As centrais telefônicas da Vésper têm capacidade para atender 6 milhões de assinantes, quando o máximo de clientes que a empresa conseguiu conquistar foi de 500 mil. Mas esse erro, segundo o executivo, foi cometido em todos os países, o que acabou resultando na famosa "bolha" das empresas de telecomunicações, que se traduziu numa forte crise do setor.
A empresa também errou o foco e concentrou esforços nos clientes das classes C, D e E e chegou a ter 50% de clientes inadimplentes.


Texto Anterior: Mercado tenso: BC pode antecipar saque de parcelas do FMI
Próximo Texto: Debate: Evento em SP discute crise na Argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.