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TELEFONIA
Companhia não admite oficialmente, mas vem mudando atuação desde 2001
Vésper vira empresa de telefonia celular
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Aos poucos, a Vésper está se tornando uma empresa de telefonia
celular. Ela não admite oficialmente a transformação, para não
aguçar a ira das teles do setor, mas
a mudança começou no final do
ano passado, quando a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) permitiu que comercializasse o telefone "portátil".
A transformação começou discreta, com uma espécie de telefone sem fio de longo alcance, que
tinha um suporte fixo. Aos poucos, evoluiu para aparelhos tão
pequenos e modernos quanto os
celulares de última geração.
Na última sexta-feira, durante
reunião da Associação Brasileira
de Telecomunicações, no Rio, o
presidente da Vésper, Luiz Kaufmann, anunciou o passo definitivo: a empresa vai comprar licenças para explorar o serviço de telefonia celular em São Paulo e nos
outros 16 Estados onde tem autorização para operar no ramo de
telefonia fixa.
O investimento na compra das
licenças tem dois propósitos: acabar de vez com os atritos com as
atuais operadoras de telefonia celular, que não se conformam com
a mudança de foco da empresa, e
permitir que seus clientes possam
usar o telefone em qualquer ponto do país e não apenas na cidade
onde moram, como ocorre hoje.
Renascimento
A Vésper protagonizou a mais
impressionante história do mercado de telecomunicações brasileiro. No ano passado, ela foi ao
fundo do poço e parecia à beira da
falência. Mas, em ação inédita para padrões brasileiros, seus acionistas e fornecedores assumiram
perdas de quase US$ 2 bilhões, e a
empresa começou a renascer.
A Vésper nasceu de dois consórcios formados pela Bell Canada e por um grupo de empresas
americanas, entre elas a Velcom e
a Qualcomm. O consórcio pagou
R$ 130 milhões pelas licenças para
entrar no mercado como empresas-espelho (concorrentes) da Telefônica e da Telemar.
Os acionistas investiram US$
800 milhões e contraíram mais
US$ 1,3 bilhão em dívidas com
fornecedores (fabricantes estrangeiros de equipamentos de telefonia) para implantar a empresa.
Diferentemente das companhias
de telefonia fixa, as espelhos foram autorizadas pela Anatel a
usar tecnologia celular. Apenas os
aparelhos nas casas teriam fios.
Kaufmann, que assumiu a presidência da Vésper durante a reestruturação, no ano passado, avalia
que a crise da empresa foi provocada por erros estratégicos cometidos pelos acionistas, que já estão
sendo corrigidos.
O primeiro erro, segundo ele,
foi superdimensionar o cálculo
do tamanho do mercado. "Houve
um otimismo exagerado em relação às espelhos", afirmou.
As centrais telefônicas da Vésper têm capacidade para atender
6 milhões de assinantes, quando o
máximo de clientes que a empresa conseguiu conquistar foi de 500
mil. Mas esse erro, segundo o executivo, foi cometido em todos os
países, o que acabou resultando
na famosa "bolha" das empresas
de telecomunicações, que se traduziu numa forte crise do setor.
A empresa também errou o foco
e concentrou esforços nos clientes
das classes C, D e E e chegou a ter
50% de clientes inadimplentes.
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