São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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MERCADO FINANCEIRO

BC inicia reunião para decidir futuro dos juros, que podem cair até meio ponto, segundo analistas

Copom e pesquisa eleitoral ditam negócios

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central e resultados de uma nova pesquisa eleitoral deverão dominar a semana no mercado.
Uma parcela do mercado afirma que cresce a possibilidade de o BC decidir reduzir a taxa básica de juros, a Selic, na reunião que começa amanhã e acaba na quarta-feira. Para alguns analistas, a principal razão para que o BC corte a Selic seria a diminuição das oscilações do câmbio, em meio à melhora dos ativos, observada na semana passada .
A Bolsa de Valores de São Paulo acumulou alta de 4,2% na semana. O risco-país brasileiro, medido pelo JP Morgan, caiu 11,7% no mesmo período, enquanto o dólar registrou baixa de 2,4%.
A menor valorização do câmbio, dizem analistas, seria resultado de iniciativas do Banco Central e de conversas de seu presidente, Armínio Fraga, no exterior.
Embora o câmbio esteja mais comportado, parece estar difícil cruzar o dólar a R$ 2,80. Parte do mercado afirma acreditar que esse patamar seria um suporte, um ponto de compra.
O Copom, porém, pode valorizar a queda da volatilidade.
"Se o dólar permanecer em R$ 2,80, R$ 2,81, com menos oscilação, abre espaço para redução de 0,25 ponto percentual, até 0,5 ponto dos juros", diz Jorge Simino, diretor-executivo da Unibanco Asset Management. Saber em que patamar o dólar ficará é essencial para que a autoridade monetária possa imaginar se a inflação ficará dentro das metas.
Um cálculo importante no modelo econométrico usado pelo BC parte, em linhas gerais, da diferença entre o patamar em que o dólar está hoje (R$ 2,80) e o em que ele estava antes (R$ 2,60).
"Daí a importância do grau de volatilidade. Com muita oscilação cambial, não há confiança no cálculo, e o raciocínio fica muito vulnerável", diz Simino.
Segundo ele, com esse câmbio, aplicado o repasse da taxa, a inflação iria para cerca de 3,5%, "dentro da meta -estritamente dentro do modelo usado pelo BC. Seria factível uma redução de juros".
Outra corrente de analistas afirma defender o corte da taxa básica de juros porque a manutenção da Selic conservaria o país no atual mau humor, quando o mercado está carente de boas notícias.
"Reduzir 0,25 ponto percentual é a melhor alternativa em termos de inflação, reputação do BC e evita colocar o país no círculo vicioso de mau humor dos mercados", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV Banco.
"A decisão da última reunião do Copom [de manter juros em 18,5%] foi uma má decisão. Fez o país ingressar nesse círculo vicioso de mau humor. Repeti-la, será incorrer no mesmo erro."
Por outro lado, há quem considere que o corte não deveria ser superior a 0,25 ponto percentual para não dar margem à contestação da credibilidade do BC.
"Uma redução pequena (0,25 ponto) não afetaria a reputação do comitê que já havia colocado viés de baixa (possibilidade de corte da Selic antes da reunião seguinte)", afirma Barros.
O fato de o BC não ter usado esse viés suscita dúvidas em relação à possibilidade de a autoridade monetária optar por decisão menos conservadora.
"Acreditamos que o BC vá manter os juros, ainda que não se possa descartar a possibilidade de corte. Na última reunião, foi colocado o viés de baixa porque a turbulência poderia ser temporária. Mas o dólar pulou para mais de R$ 2,80", afirma Alexandre Bassoli, do HSBC.
O mercado deve conhecer entre hoje e amanhã os resultados da pesquisa eleitoral do Ibope, realizada na semana passada.


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