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Milionários mudam o "mapa da riqueza"
Mais brasileiros ganham acima de R$ 1 mi por ano fora do eixo Rio-SP
Cresce o número de ricos no Nordeste, no Centro-Oeste e no Norte; mudança faz empresas de luxo traçarem novos planos e estratégias
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento inédito feito
pela Receita Federal a pedido
da Folha revela que o número
de milionários brasileiros cresceu 64%, entre 2000 e 2003,
chegando a 18.541 pessoas. Segundo o secretário da Receita,
Jorge Rachid, esses são os últimos dados disponíveis.
Para liberar os números mais
recentes, o governo teria de pagar R$ 15 mil ao Serpro (Serviço Federal de Processamento
de Dados), empresa pública
que presta serviços em tecnologia da informação.
Segundo a consultoria americana The Boston Consulting
Group (BCG), existem 130 mil
milionários no Brasil, sete vezes o número declarado à Receita Federal. Afinal, o que explica essa diferença? O levantamento da Receita considera os
rendimentos anuais provenientes do trabalho e das aplicações financeiras.
"Ele não inclui o total investido pelo contribuinte em instituições financeiras", explica o
ex-secretário da Receita Everardo Maciel. Na conta do BCG
entram tanto o montante principal como os rendimentos por
ele gerados, diferença que faz o
número de milionários aumentar consideravelmente.
Além disso, os valores utilizados pelos sistemas bancários
são atualizados por índices de
mercado. "Os dados da Receita
são históricos", diz Maciel. Não
bastasse, muitos contribuintes
costumam depreciar o valor de
seus bens para pagar impostos
mais baixos.
A novidade no levantamento
é que, pela primeira vez, o mapa da riqueza no país mostra a
pulverização das grandes fortunas. Entre os dez Estados
que registraram maior crescimento no número de milionários, três são do Centro-Oeste
(MT, MS, GO), três do Nordeste (AL, MA e RN), dois do Norte (RO e TO), outro do Sul (SC)
e um do Sudeste (ES).
Entre 2000 e 2003, quadruplicou o grupo dos rondonienses que ganharam mais de R$ 1
milhão, passando de 8 para 32.
O único Estado que registrou
queda foi o Acre, que tinha nove e passou para cinco. Em Roraima, o grupo dos milionários
não recebeu integrantes no período considerado.
À procura dos mais ricos
As empresas acompanham
essas mudanças há anos. Antes
de lançarem seus produtos,
elas costumam encomendar
pesquisas para avaliar o poder
aquisitivo dos consumidores de
uma região. "Esses indicadores
são estratégicos para os negócios", diz Gisele Lupiani, gerente do instituto Ipsos, um dos
mais conceituados.
Para as marcas de luxo, esses
números não bastam. Na hora
de atacar praças fora do eixo
Rio-São Paulo, elas também
contratam consultorias especializadas. A líder MCF acompanhou a movimentação de 60
dessas marcas e preparou um
estudo no início deste ano sobre seus planos de expansão.
Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e
Florianópolis são as cidades
que receberão mais lojas neste
ano. "Isso reflete o aumento do
poder de compra", diz Carlos
Ferreirinha, dono da MCF.
Em Recife, a butique Dona
Santa é o palácio do luxo do
Nordeste, atendendo clientes
de diversos Estados. A loja de
1.600 m2 vende Prada, Ferragamo, Ermenegildo Zegna, Dolce&Gabanna, Armani, Chloé,
entre outras. Segundo Juliana
Santos, uma das proprietárias,
as bolsas da nova coleção da
Prada chegaram na quarta-feira da semana passada.
Quinze foram vendidas e há
fila de espera de 30 interessadas. O preço por unidade: R$
7.000. A empresária Cristiane
Bittencourt é uma das clientes
mais assíduas.
"Lá me sinto em casa", diz.
Casada com um dos donos da
Bittencourt Empreendimentos
Imobiliários, Cristiane costuma almoçar no bistrô da Dona
Santa duas vezes por semana.
"Aproveito para checar as novidades."
A Swarovski, conhecida por
seus cristais, está abrindo lojas
em Porto Alegre e em Curitiba.
Louis Vuitton escolheu Brasília e já está mirando Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Salvador. Ziza Meneses, supervisora da Salvatore Ferragamo,
afirma que o público com mais
apetite para as compras está no
Centro-Oeste e no Nordeste.
"Antes ele ia comprar em São
Paulo e no Rio de Janeiro", diz
Christian Hallot, embaixador
da H. Stern no Brasil. "Agora as
marcas estão mais próximas
desses clientes."
Os empreendimentos imobiliários fora do eixo Rio-São
Paulo são outro termômetro
dessa pulverização. Segundo a
Gafisa, apartamentos de R$ 1
milhão em Manaus, Cuiabá
(MT), Belém, Fortaleza, Recife
e Salvador costumam esgotar
seis meses após o lançamento.
"O luxo deixou de ser ostentação e virou necessidade", diz
Antonio Ferreira, diretor da
construtora. E é isso o que faz
girar o motor desse negócio
que movimenta US$ 200 bilhões por ano no mundo.
Os outros US$ 200 bilhões
são garantidos pelas vendas aos
ultramilionários, que pagam
pequenas fortunas pelo supra-sumo da exclusividade.
(JULIO WIZIACK e ISABELLE MOREIRA LIMA)
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