São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Milionários mudam o "mapa da riqueza"

Mais brasileiros ganham acima de R$ 1 mi por ano fora do eixo Rio-SP

Cresce o número de ricos no Nordeste, no Centro-Oeste e no Norte; mudança faz empresas de luxo traçarem novos planos e estratégias

DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento inédito feito pela Receita Federal a pedido da Folha revela que o número de milionários brasileiros cresceu 64%, entre 2000 e 2003, chegando a 18.541 pessoas. Segundo o secretário da Receita, Jorge Rachid, esses são os últimos dados disponíveis.
Para liberar os números mais recentes, o governo teria de pagar R$ 15 mil ao Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), empresa pública que presta serviços em tecnologia da informação.
Segundo a consultoria americana The Boston Consulting Group (BCG), existem 130 mil milionários no Brasil, sete vezes o número declarado à Receita Federal. Afinal, o que explica essa diferença? O levantamento da Receita considera os rendimentos anuais provenientes do trabalho e das aplicações financeiras.
"Ele não inclui o total investido pelo contribuinte em instituições financeiras", explica o ex-secretário da Receita Everardo Maciel. Na conta do BCG entram tanto o montante principal como os rendimentos por ele gerados, diferença que faz o número de milionários aumentar consideravelmente.
Além disso, os valores utilizados pelos sistemas bancários são atualizados por índices de mercado. "Os dados da Receita são históricos", diz Maciel. Não bastasse, muitos contribuintes costumam depreciar o valor de seus bens para pagar impostos mais baixos.
A novidade no levantamento é que, pela primeira vez, o mapa da riqueza no país mostra a pulverização das grandes fortunas. Entre os dez Estados que registraram maior crescimento no número de milionários, três são do Centro-Oeste (MT, MS, GO), três do Nordeste (AL, MA e RN), dois do Norte (RO e TO), outro do Sul (SC) e um do Sudeste (ES).
Entre 2000 e 2003, quadruplicou o grupo dos rondonienses que ganharam mais de R$ 1 milhão, passando de 8 para 32. O único Estado que registrou queda foi o Acre, que tinha nove e passou para cinco. Em Roraima, o grupo dos milionários não recebeu integrantes no período considerado.

À procura dos mais ricos
As empresas acompanham essas mudanças há anos. Antes de lançarem seus produtos, elas costumam encomendar pesquisas para avaliar o poder aquisitivo dos consumidores de uma região. "Esses indicadores são estratégicos para os negócios", diz Gisele Lupiani, gerente do instituto Ipsos, um dos mais conceituados.
Para as marcas de luxo, esses números não bastam. Na hora de atacar praças fora do eixo Rio-São Paulo, elas também contratam consultorias especializadas. A líder MCF acompanhou a movimentação de 60 dessas marcas e preparou um estudo no início deste ano sobre seus planos de expansão.
Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Florianópolis são as cidades que receberão mais lojas neste ano. "Isso reflete o aumento do poder de compra", diz Carlos Ferreirinha, dono da MCF.
Em Recife, a butique Dona Santa é o palácio do luxo do Nordeste, atendendo clientes de diversos Estados. A loja de 1.600 m2 vende Prada, Ferragamo, Ermenegildo Zegna, Dolce&Gabanna, Armani, Chloé, entre outras. Segundo Juliana Santos, uma das proprietárias, as bolsas da nova coleção da Prada chegaram na quarta-feira da semana passada.
Quinze foram vendidas e há fila de espera de 30 interessadas. O preço por unidade: R$ 7.000. A empresária Cristiane Bittencourt é uma das clientes mais assíduas.
"Lá me sinto em casa", diz. Casada com um dos donos da Bittencourt Empreendimentos Imobiliários, Cristiane costuma almoçar no bistrô da Dona Santa duas vezes por semana. "Aproveito para checar as novidades."
A Swarovski, conhecida por seus cristais, está abrindo lojas em Porto Alegre e em Curitiba. Louis Vuitton escolheu Brasília e já está mirando Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Salvador. Ziza Meneses, supervisora da Salvatore Ferragamo, afirma que o público com mais apetite para as compras está no Centro-Oeste e no Nordeste.
"Antes ele ia comprar em São Paulo e no Rio de Janeiro", diz Christian Hallot, embaixador da H. Stern no Brasil. "Agora as marcas estão mais próximas desses clientes."
Os empreendimentos imobiliários fora do eixo Rio-São Paulo são outro termômetro dessa pulverização. Segundo a Gafisa, apartamentos de R$ 1 milhão em Manaus, Cuiabá (MT), Belém, Fortaleza, Recife e Salvador costumam esgotar seis meses após o lançamento.
"O luxo deixou de ser ostentação e virou necessidade", diz Antonio Ferreira, diretor da construtora. E é isso o que faz girar o motor desse negócio que movimenta US$ 200 bilhões por ano no mundo.
Os outros US$ 200 bilhões são garantidos pelas vendas aos ultramilionários, que pagam pequenas fortunas pelo supra-sumo da exclusividade. (JULIO WIZIACK e ISABELLE MOREIRA LIMA)


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