São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Crescimento faz empresas importarem engenheiros

Pedidos de estrangeiros para exercer profissão no país subiram 132% em 2006

Estagnação econômica por 20 anos desmontou setor, dizem especialistas; vagas estão em várias áreas, como siderurgia e petroquímica

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento econômico está obrigando empresas de várias áreas a importar engenheiros, por não encontrar no país mão-de-obra especializada ou em quantidade suficiente para atender a suas necessidades.
O número de trabalhadores trazidos ao país não é grande em números absolutos, mas indica a tendência. Segundo o Confea (conselho federal de engenharia), que concede autorização a engenheiros estrangeiros exercerem a profissão no Brasil, os pedidos de autorização passaram de 34, em 2005, para 79 no ano passado.
O crescimento é de 132%. Já o número de concessões passou de 19 para 37, com elevação de 94%. Em 2007, a tendência também é de alta.
"Esse é mais um dos gargalos do crescimento", afirma Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea. "O país, que tinha uma estrutura complexa e reconhecida internacionalmente de engenharia, permitiu que esse parque fosse desmontado por ficar 20 anos sem crescer. Que país pode permitir isso? Nós perdemos a estratégia de sustentabilidade."
Sem alternativas para atender seus projetos, as empresas buscam empregados em países tão diferentes quanto Reino Unido, China, México, Índia e Hungria. A fabricante de papel International Paper (IP) trouxe quatro engenheiros civis dos Estados Unidos, quando decidiu investir US$ 300 milhões para fazer do Brasil sua plataforma de exportação para Europa, EUA e América Latina.
"A boa notícia é que o país está crescendo", afirma Maximo Pacheco, presidente da International Paper. "A má é que isso acontece num momento em que a economia do mundo está aquecida e falta mão-de-obra qualificada não só aqui como em outros países."
A situação é tão crítica que Pacheco proibiu a demissão de engenheiros da IP. Na empresa de software Tata Consultancy Services (TCS), a situação não é diferente. A desenvolvedora indiana trouxe 40 engenheiros de seu país de origem para treinar e formar equipes de trabalho.
"Também faltam recursos humanos na Índia", afirma Sérgio Rodrigues, presidente da TCS. "Só que hoje eu não encontraria profissionais com esse tipo de conhecimento, com a rapidez e na quantidade que eu preciso para crescer no Brasil."
O engenheiro eletricista Sreenivas Dssdp, 33, foi um dos profissionais importados pela TCS. Há dois anos no Brasil, ele diz que se preocupou com a violência e com a possibilidade de ele e sua família terem dificuldades com a língua. A adaptação, no entanto, foi fácil.
"Minha filha de 9 anos fala perfeitamente o português, fizemos vários amigos e o Brasil foi muito receptivo", diz Dssdp, que ocupa o cargo de diretor de operações da fábrica de software da TCS em Campinas. "Os profissionais brasileiros têm certa dificuldade com métodos e processos mais rígidos, mas eles são importantes para garantir a qualidade."
Como a TCS, a Construtora Tenda foi buscar no exterior profissionais para uma área na qual os engenheiros brasileiros não têm expertise: a de casas populares. Encontrou-os no México, onde os projetos habitacionais em larga escala já são realidade.
Segundo Adriana Boock, gerente de marketing da Tenda, a intenção é trazer os conhecimentos mexicanos para as diversas áreas da empresa. A idéia é que, depois de treinados, os funcionários brasileiros terão o conhecimento necessário para o futuro da empresa.
Maior empresa de recrutamento no país, a Michael Page é exemplo do aquecimento desse mercado. Enquanto a companhia cresceu 70% em número de negócios neste ano, a área de engenharia avançou 100%.


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