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Confiança interna não segue risco-país
Índice que mede confiança dos investidores externos cai a menor patamar, mas expectativa dos empresários oscila pouco
Falta de reformas, alta carga
tributária e histórico de
crescimento irregular levam
industriais a terem mais
parcimônia em avaliação
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A melhora da imagem do
Brasil no exterior -que tem reforçado a aposta do governo de
que o país será alçado ao clube
das economias de baixíssimo
risco no segundo mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva- não convenceu o empresariado nacional.
Em 2004, o risco-país estava
em 600 pontos e, neste ano,
caiu para cerca de 150, numa
indicação clara de que o investidor estrangeiro não teme
mais um calote brasileiro, mas
a confiança dos empresários locais não acompanhou esse ritmo acelerado de melhora.
O índice de confiança dos
empresários na economia brasileira, no período, oscilou entre 50 e 60 pontos, alternando
ligeiros avanços com alguns recuos. Com isso, o investidor estrangeiro segue avaliando melhor o Brasil e o setor privado
local receia a falta de uma agenda de reforma na gestão Lula.
Apesar de os dois índices avaliarem expectativas diferentes,
a relação entre eles já chama a
atenção da equipe econômica,
especialmente a dos diretores
do Banco Central. Isso porque
o risco Brasil está ligado ao
comportamento dos indicadores externos e às expectativas
de longo prazo dos investidores
e é medido a partir do preço dos
títulos do governo negociados
no exterior.
Embora retrate avanços significativos da economia brasileira nos últimos anos, o risco-país tem relação também com o
bom momento vivido no mundo e com a farta liquidez dos
mercados internacionais.
A queda do risco tem reforçado o ingresso de dólares no
país, o que ajuda a valorizar a
taxa de câmbio, com reflexo favorável para a inflação. O problema é que essa é uma variável
que foge ao controle do país.
Já a confiança empresarial
mescla expectativas futuras
com a satisfação em relação ao
momento atual dos negócios.
Os dois principais índices são
calculados por CNI (Confederação Nacional da Indústria) e
FGV (Fundação Getulio Vargas) a partir de uma pesquisa
com industriais no país. Eles
são considerados fundamentais para que o setor privado
amplie suas unidades, aumentando a capacidade produtiva.
Reformas
"A sinalização para o longo
prazo preocupa por falta de reformas, apesar de o ambiente
global ser favorável", argumenta Pedro Luiz Passos, presidente da Natura, para justificar o
descasamento entre o indicador dos investidores e o dos
empresários. "Há uma questão
básica para o empresário: a carga tributária tira toda a competitividade. O que podia ser feito
pelo setor privado já foi", completa Antoninho Trevisan, presidente da BDO Trevisan.
Segundo ele, o setor privado
"fez a lição de casa" para racionalizar seus custos, treinar pessoal, comprar máquinas. "Agora, se o governo não resolver a
ponta de tributos, de burocracia, de redução do tamanho do
Estado, vamos continuar com
crescimento de 4% ao ano, o
que é pouco para o Brasil."
Para o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, o Brasil vive
um momento extremamente
favorável. "Temos que trabalhar para sustentar esse crescimento e isso passa, entre outras coisas, por aumento da
poupança pública, pelo governo conseguir deslanchar as
PPPs [Parcerias Público-Privadas] e pelo aprimoramento dos
marcos regulatórios."
Para o economista da Fundação Getulio Vargas Aloísio
Campelo, que acompanha os
indicadores de confiança do
empresariado, "neste ano está
havendo uma melhora [da confiança empresarial]. A economia já se recupera pelo mercado interno. Já o risco-país tem
caído no mundo todo".
Gerente da Unidade de Pesquisa da CNI (Confederação
Nacional da Indústria), Renato
da Fonseca diz que parte do aumento da demanda doméstica
em razão do maior crescimento
da economia está sendo deslocada para importados. "E isso
gera cautela nas expectativas
dos empresários."
Ele destaca ainda que, desde
a crise energética de 2001, o
Brasil alterna períodos de crescimento mais forte com retrações da economia e isso também contribui para os empresários serem mais cautelosos.
Além disso, "há setores que
estão conseguindo crescer exportando, outros estão indo para o buraco, e outros, se reestruturando". E tudo está refletido na confiança do empresário. "Normalmente quando a
economia começa a se recuperar quem puxa é a indústria.
Não é o que está acontecendo.
Setores que competem fortemente com importados não
conseguem o mesmo desempenho dos combustíveis."
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