São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Confiança interna não segue risco-país

Índice que mede confiança dos investidores externos cai a menor patamar, mas expectativa dos empresários oscila pouco

Falta de reformas, alta carga tributária e histórico de crescimento irregular levam industriais a terem mais parcimônia em avaliação

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A melhora da imagem do Brasil no exterior -que tem reforçado a aposta do governo de que o país será alçado ao clube das economias de baixíssimo risco no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva- não convenceu o empresariado nacional.
Em 2004, o risco-país estava em 600 pontos e, neste ano, caiu para cerca de 150, numa indicação clara de que o investidor estrangeiro não teme mais um calote brasileiro, mas a confiança dos empresários locais não acompanhou esse ritmo acelerado de melhora.
O índice de confiança dos empresários na economia brasileira, no período, oscilou entre 50 e 60 pontos, alternando ligeiros avanços com alguns recuos. Com isso, o investidor estrangeiro segue avaliando melhor o Brasil e o setor privado local receia a falta de uma agenda de reforma na gestão Lula.
Apesar de os dois índices avaliarem expectativas diferentes, a relação entre eles já chama a atenção da equipe econômica, especialmente a dos diretores do Banco Central. Isso porque o risco Brasil está ligado ao comportamento dos indicadores externos e às expectativas de longo prazo dos investidores e é medido a partir do preço dos títulos do governo negociados no exterior.
Embora retrate avanços significativos da economia brasileira nos últimos anos, o risco-país tem relação também com o bom momento vivido no mundo e com a farta liquidez dos mercados internacionais.
A queda do risco tem reforçado o ingresso de dólares no país, o que ajuda a valorizar a taxa de câmbio, com reflexo favorável para a inflação. O problema é que essa é uma variável que foge ao controle do país.
Já a confiança empresarial mescla expectativas futuras com a satisfação em relação ao momento atual dos negócios. Os dois principais índices são calculados por CNI (Confederação Nacional da Indústria) e FGV (Fundação Getulio Vargas) a partir de uma pesquisa com industriais no país. Eles são considerados fundamentais para que o setor privado amplie suas unidades, aumentando a capacidade produtiva.

Reformas
"A sinalização para o longo prazo preocupa por falta de reformas, apesar de o ambiente global ser favorável", argumenta Pedro Luiz Passos, presidente da Natura, para justificar o descasamento entre o indicador dos investidores e o dos empresários. "Há uma questão básica para o empresário: a carga tributária tira toda a competitividade. O que podia ser feito pelo setor privado já foi", completa Antoninho Trevisan, presidente da BDO Trevisan.
Segundo ele, o setor privado "fez a lição de casa" para racionalizar seus custos, treinar pessoal, comprar máquinas. "Agora, se o governo não resolver a ponta de tributos, de burocracia, de redução do tamanho do Estado, vamos continuar com crescimento de 4% ao ano, o que é pouco para o Brasil."
Para o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, o Brasil vive um momento extremamente favorável. "Temos que trabalhar para sustentar esse crescimento e isso passa, entre outras coisas, por aumento da poupança pública, pelo governo conseguir deslanchar as PPPs [Parcerias Público-Privadas] e pelo aprimoramento dos marcos regulatórios."
Para o economista da Fundação Getulio Vargas Aloísio Campelo, que acompanha os indicadores de confiança do empresariado, "neste ano está havendo uma melhora [da confiança empresarial]. A economia já se recupera pelo mercado interno. Já o risco-país tem caído no mundo todo".
Gerente da Unidade de Pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Renato da Fonseca diz que parte do aumento da demanda doméstica em razão do maior crescimento da economia está sendo deslocada para importados. "E isso gera cautela nas expectativas dos empresários."
Ele destaca ainda que, desde a crise energética de 2001, o Brasil alterna períodos de crescimento mais forte com retrações da economia e isso também contribui para os empresários serem mais cautelosos.
Além disso, "há setores que estão conseguindo crescer exportando, outros estão indo para o buraco, e outros, se reestruturando". E tudo está refletido na confiança do empresário. "Normalmente quando a economia começa a se recuperar quem puxa é a indústria. Não é o que está acontecendo. Setores que competem fortemente com importados não conseguem o mesmo desempenho dos combustíveis."


Texto Anterior: Entidade estima que faltem 3.000 profissionais no país
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.