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AGROFOLHA
Crise alimentar turbina transgênicos
Quem prefere comprar soja e milho de origem convencional começa a encontrar dificuldade
Ágio para ração elaborada sem grãos geneticamente modificados chega a 16%, aponta especialista; cresce defesa da tecnologia
CLIVE COOKSON
DO "FINANCIAL TIMES"
As safras geneticamente modificadas (GM) são cultivadas
de forma tão extensa no mundo, hoje, para uso como ração
animal e como ingredientes de
alimentos industrializados,
que os importadores de ração
da Europa e da Ásia estão encontrando dificuldades para
atender clientes que procuram
por soja ou milho não-GM.
"É preciso pagar um ágio de
10% a 16% pelo milho não-GM.
Isso se você o encontrar", disse
Ross Korves, um renomado
economista agrícola dos EUA.
À medida que disparam os
preços dos alimentos e a escassez de alguns deles se agrava,
safras geneticamente modificadas parecem cada vez mais
tentadoras como forma de elevar a produtividade da agricultura sem usar mais energia ou
produtos químicos. Mesmo na
Europa, onde as safras GM enfrentam a mais forte resistência, há mais políticos, especialistas e líderes agrícolas saindo
em sua defesa. Sir David King,
ex-cientista chefe do governo
britânico, é uma das pessoas
que dizem que as safras GM são
a única tecnologia disponível
para resolver a crise nos preços
mundiais dos alimentos.
A declaração do G8 -grupo
que reúne os países mais industrializados- a respeito da segurança alimentar na cúpula recentemente realizada no Japão
reconhecia o potencial das safras GM, com o compromisso
de "promover análise de risco,
com base científica, inclusive
quanto à contribuição de variedades de sementes desenvolvidas por meio de biotecnologia".
Mas muitos grupos ambientalistas e de defesa do consumidor continuam opostos ao que
muita gente define como "comida Frankenstein", alegando
que as safras representam risco
para a saúde e para o ambiente.
Os críticos dizem que os alimentos GM não foram testados
devidamente em animais, antes de serem colocados em uso,
em 1996. Alguns dos poucos
testes conduzidos apresentaram resultados preocupantes,
como toxicidade hepática e renal. Os defensores dos alimentos GM rebatem alegando que
quaisquer efeitos de saúde se
teriam tornado claros após
uma década de uso por milhões
de pessoas.
Quanto ao ambiente, os oponentes dizem que as safras GM
reduzem a biodiversidade e
ameaçam as plantas e os animais silvestres. Os defensores
dizem que os benefícios ambientais propiciados, como a
redução no uso de pesticidas,
compensam efeitos adversos.
Na América e em certas regiões da Ásia, a área plantada
com safras GM vem crescendo
rapidamente nos últimos anos.
Segundo o ISAAA (sigla em inglês para Serviço Internacional
de Aquisição de Aplicações
Agrícolas de Biotecnologia), organização sediada nos EUA que
monitora o uso mundial de safras GM, a área cultivada mundial cresceu 12%, para 114 milhões de hectares, em 2007.
Clive James, presidente da
ISAAA, prevê que o cultivo de
safras GM mais que duplicará
nos próximos oito anos e cobrirá 20% das terras aráveis mundiais. Ele detecta uma grande
reversão de tendência. "A tendência vem sendo propelida
por duas preocupações", diz.
"Uma é a disparada nos preços
das commodities agrícolas e a
segunda é o avanço no conhecimento do que a biotecnologia
vegetal pode fazer para mitigar
o aquecimento global."
Virtualmente todo cultivo
realizado até agora envolve
apenas quatro safras: soja, milho, algodão e canola, e dois traços: resistência a herbicidas e a
pestes. Os oponentes das safras
GM apontam que essa primeira
geração de biotecnologia não
propicia aumento de safras de
forma direta. Cultivadas em
perfeitas condições, essas variedades não se saem melhor
do que as versões comuns das
plantas, sem genes adicionais.
Em lugar disso, o ponto é ajudar os agricultores a enfrentar
insetos e plantas invasoras.
Herbicidas e insetos
A tolerância a herbicidas
continua a dominar o mercado
de safras GM. A maior marca é
a Roundup Ready, da Monsanto. As sementes permitem que
agricultores eliminem as invasoras borrifando a plantação
com Roundup, um herbicida
agrícola barato.
O segundo traço em uso generalizado é a resistência a insetos. Um gene de um micróbio
chamado Bacillus thuringiensis
(Bt) é transferido para a planta,
que produz uma toxina capaz
de matar pestes vorazes. Estudo divulgado pela PG Economics, uma consultoria agrícola
britânica, concluiu que "a comercialização de safras biotecnológicas resultou em significativos benefícios econômicos
e ambientais em todo o mundo
e vem realizando contribuições
importantes para a segurança
alimentar mundial".
Graham Brookes, co-autor
do estudo, afirma que, "desde
1996, a adoção de safras biotecnológicas contribuiu para reduzir a liberação de emissões
do efeito estufa na agricultura e
o uso de pesticidas e propiciou
renda substancialmente mais
alta aos agricultores". Os benefícios econômicos líquidos às
fazendas equivalem a US$ 33,8
bilhões em 11 anos, divididos
mais ou menos igualmente entre elevação no volume das safras e redução no custo dos insumos de produção.
A despeito da oposição política e ambiental, a Europa não
é um continente inteiramente
livre de safras GM. O milho Bt,
única safra GM dotada de licença comercial na União Européia, é cultivado na Espanha
(cerca de 75 mil hectares) e em
escala menor na Alemanha, na
Eslováquia, na França, em Portugal, na República Tcheca e na
Romênia. A área plantada com
safras GM na Europa equivale
a apenas 0,1% do total mundial.
Muitos agricultores europeus estão zangados por não
poderem aproveitar os benefícios de safras GM, ao contrário
de seus colegas norte-americanos, diz Mick Willoughby, agricultor em Yorkshire e vice-presidente para a Europa da britânica Country Land and Business Association. "Até onde sei,
a vasta maioria dos agricultores europeus é a favor das safras GM", ele diz. "É mais dispendioso alimentar rebanhos
[na Europa do que nos EUA],
porque os regulamentos da
União Européia significam ausência de safras GM."
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