São Paulo, quarta-feira, 15 de julho de 2009

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ANÁLISE

O consumo não é o problema

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de dois meses de ligeiro recuo, não foi surpresa que as vendas do varejo tenham voltado a crescer em maio. Mas o seu ritmo de alta foi maior do que se esperava. Em relação a abril, o volume de vendas do varejo restrito (agrupamento que exclui automóveis, motos e material de construção) aumentou 0,8%, bem acima do 0,2% em que se concentravam as projeções dos analistas de bancos e de consultorias.
E a recuperação não se deveu a um ou dois segmentos isolados. Dos oito grupos que compõem o comércio varejista restrito, sete tiveram crescimento e seis apresentaram aceleração das vendas de abril para maio.
Um dos grupos cujo desempenho mensal não melhorou em maio foi aquele que reúne hipermercados, supermercados e demais estabelecimentos que vendem produtos alimentícios, bebidas e fumo. Esse grupo responde por cerca de 50% do varejo restrito, mas a desaceleração pontual de suas vendas não parece preocupante (de fato, no subgrupo que reúne apenas os híper e supermercados, houve aceleração da vendas em maio). Elas vinham em alta sustentada nos meses anteriores e situaram-se, em maio, expressivos 5,1% acima do seu nível de setembro do ano passado -o mês que antecedeu a interrupção do crescimento econômico no Brasil.
O único grupo em que as vendas caíram de abril para maio foi o das lojas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação. As vendas desse grupo têm oscilado bastante, sem definir uma recuperação firme. Elas foram, em maio, 10,7% menores do que em setembro de 2008.
Certamente isso está ligado ao fato de que muitas das compras desses itens são feitas não por famílias, mas por empresas, e estas, bem mais do que aquelas, continuam a sofrer com a escassez de crédito.
Outro grupo também apresentou vendas mais de 10% inferiores às de setembro: o das lojas de móveis e eletrodomésticos. A redução do IPI cobrado nas compras de geladeiras, fogões e máquinas de lavar, introduzida em meados de abril, estimulou as vendas desses bens, mas tudo indica que os móveis, não bafejados por uma redução de impostos, seguiram com vendas muito debilitadas.
Em suma, confirma-se que o consumo não é o elo preocupante na cadeia da atividade econômica. Sobretudo desde que, a partir de janeiro, a deterioração do mercado de trabalho começou a estancar e o crédito às famílias iniciou uma recuperação, os consumidores têm voltado às lojas e tenderão a continuar a fazê-lo.
As dificuldades para recuperação da atividade econômica concentram-se, portanto, no investimento, no crédito às empresas e nas exportações. As autoridades têm se mobilizado para atenuar os dois primeiros problemas, com um grau de sucesso até o momento pequeno, mas que promete aumentar.
Quanto às vendas ao exterior, embora o momento de retração mais aguda pareça ter ficado para trás, o caminho da recuperação ainda parece longo.


FERNANDO SAMPAIO é economista e sócio-diretor da LCA Consultores.


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