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ANÁLISE
O consumo não é o problema
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de dois meses de ligeiro recuo, não foi surpresa
que as vendas do varejo tenham
voltado a crescer em maio. Mas
o seu ritmo de alta foi maior do
que se esperava. Em relação a
abril, o volume de vendas do varejo restrito (agrupamento que
exclui automóveis, motos e material de construção) aumentou 0,8%, bem acima do 0,2%
em que se concentravam as
projeções dos analistas de bancos e de consultorias.
E a recuperação não se deveu
a um ou dois segmentos isolados. Dos oito grupos que compõem o comércio varejista restrito, sete tiveram crescimento
e seis apresentaram aceleração
das vendas de abril para maio.
Um dos grupos cujo desempenho mensal não melhorou
em maio foi aquele que reúne
hipermercados, supermercados e demais estabelecimentos
que vendem produtos alimentícios, bebidas e fumo. Esse
grupo responde por cerca de
50% do varejo restrito, mas a
desaceleração pontual de suas
vendas não parece preocupante (de fato, no subgrupo que
reúne apenas os híper e supermercados, houve aceleração da
vendas em maio). Elas vinham
em alta sustentada nos meses
anteriores e situaram-se, em
maio, expressivos 5,1% acima
do seu nível de setembro do
ano passado -o mês que antecedeu a interrupção do crescimento econômico no Brasil.
O único grupo em que as vendas caíram de abril para maio
foi o das lojas de equipamentos
e materiais para escritório, informática e comunicação. As
vendas desse grupo têm oscilado bastante, sem definir uma
recuperação firme. Elas foram,
em maio, 10,7% menores do
que em setembro de 2008.
Certamente isso está ligado
ao fato de que muitas das compras desses itens são feitas não
por famílias, mas por empresas,
e estas, bem mais do que aquelas, continuam a sofrer com a
escassez de crédito.
Outro grupo também apresentou vendas mais de 10% inferiores às de setembro: o das
lojas de móveis e eletrodomésticos. A redução do IPI cobrado
nas compras de geladeiras, fogões e máquinas de lavar, introduzida em meados de abril, estimulou as vendas desses bens,
mas tudo indica que os móveis,
não bafejados por uma redução
de impostos, seguiram com
vendas muito debilitadas.
Em suma, confirma-se que o
consumo não é o elo preocupante na cadeia da atividade
econômica. Sobretudo desde
que, a partir de janeiro, a deterioração do mercado de trabalho começou a estancar e o crédito às famílias iniciou uma recuperação, os consumidores
têm voltado às lojas e tenderão
a continuar a fazê-lo.
As dificuldades para recuperação da atividade econômica
concentram-se, portanto, no
investimento, no crédito às empresas e nas exportações. As
autoridades têm se mobilizado
para atenuar os dois primeiros
problemas, com um grau de sucesso até o momento pequeno,
mas que promete aumentar.
Quanto às vendas ao exterior, embora o momento de retração mais aguda pareça ter ficado para trás, o caminho da recuperação ainda parece longo.
FERNANDO SAMPAIO é economista e
sócio-diretor da LCA Consultores.
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