São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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FOLHAINVEST

"RISCO-MENSALÃO"

Vendas de ações realizadas por pessoa física bateram as compras em R$ 727,1 milhões no mês passado

Crise espanta pequeno investidor da Bolsa

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pequeno investidor voltou a mostrar que realmente não tem sangue frio o suficiente para agüentar os momentos de maior turbulência. Com o aprofundamento da crise política, o investidor pessoa física tem fugido do mercado acionário.
Em julho, as vendas de ações na Bolsa feitas pelo segmento de pessoa física superaram as compras em R$ 727,1 milhões. Neste mês, até o dia 10, as vendas feitas pela categoria batem as compras em R$ 252,4 milhões.
"Esse movimento comprova que o pequeno investidor prefere se arriscar menos quando os momentos são mais turbulentos", afirma Eduardo Kondo, do departamento de investimentos da corretora Concórdia.
Os analistas lembram que o que tem ajudado a fazer com que a Bolsa de Valores de São Paulo ainda mantenha um pouco de fôlego neste período mais turbulento é o fato de os estrangeiros estarem apostando no mercado local. No mês passado, o balanço dos negócios feitos na Bovespa com capital externo ficou positivo em R$ 2,51 bilhões. Em agosto, até o último dia 10, esse saldo está positivo em R$ 42,23 milhões.

Categorias
O problema é que o investidor pessoa física responde hoje por cerca de 27% dos negócios realizados na Bolsa. Há uma década, representava cerca de 10% do giro total. Ou seja, há não muito tempo os impactos de movimentos desse tipo eram menores.
Hoje são os estrangeiros que lideram as negociações, com aproximados 35% do giro financeiro do mercado. Uma terceira categoria importante é a dos investidores institucionais -especialmente fundos de pensão-, que respondem por um percentual próximo ao de pessoas físicas.
"O investidor pessoa física costuma ficar mais nervoso com os períodos de crise e turbulência. Ainda vai levar um tempo para o pequeno investidor ter mais sangue frio, posicionar-se em boas ações e não fugir do mercado quando o cenário não for muito positivo", diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Sênior.
A atual crise política começou a se tornar mais grave após as acusações do esquema do "mensalão" feitas pelo deputado Roberto Jefferson em entrevista à Folha no começo de junho.
O desempenho da Bovespa no ano está bastante fraco em comparação a outras opções de investimento. A valorização registrada pelo Ibovespa (principal índice e referência do mercado doméstico) em 2005 está em 2,88%.
A caderneta de poupança, a mais conservadora das aplicações do mercado, tem uma rentabilidade de 6,07% no ano.

Riscos futuros
O que pode atrapalhar o fluxo de capital externo para o mercado doméstico é a escalada do petróleo. O barril do produto subiu durante toda a semana passada. No ano, o petróleo já aumentou 54% em Nova York. Esse cenário pode estragar o humor dos investidores internacionais e aumentar a aversão ao risco de ativos -papéis de dívida, ações- de emergentes.
A concretização dessa possibilidade poderá ser bem ruim para a Bovespa. "Pelo menos os estrangeiros ainda estão mais comprando que vendendo ações no mercado brasileiro e ajudando a dar ânimo à Bolsa", afirma Kondo.

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