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FOLHAINVEST
"RISCO-MENSALÃO"
Vendas de ações realizadas por pessoa física bateram as compras em R$ 727,1 milhões no mês passado
Crise espanta pequeno investidor da Bolsa
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O pequeno investidor voltou a
mostrar que realmente não tem
sangue frio o suficiente para
agüentar os momentos de maior
turbulência. Com o aprofundamento da crise política, o investidor pessoa física tem fugido do
mercado acionário.
Em julho, as vendas de ações na
Bolsa feitas pelo segmento de pessoa física superaram as compras
em R$ 727,1 milhões. Neste mês,
até o dia 10, as vendas feitas pela
categoria batem as compras em
R$ 252,4 milhões.
"Esse movimento comprova
que o pequeno investidor prefere
se arriscar menos quando os momentos são mais turbulentos",
afirma Eduardo Kondo, do departamento de investimentos da
corretora Concórdia.
Os analistas lembram que o que
tem ajudado a fazer com que a
Bolsa de Valores de São Paulo ainda mantenha um pouco de fôlego
neste período mais turbulento é o
fato de os estrangeiros estarem
apostando no mercado local. No
mês passado, o balanço dos negócios feitos na Bovespa com capital
externo ficou positivo em R$ 2,51
bilhões. Em agosto, até o último
dia 10, esse saldo está positivo em
R$ 42,23 milhões.
Categorias
O problema é que o investidor
pessoa física responde hoje por
cerca de 27% dos negócios realizados na Bolsa. Há uma década,
representava cerca de 10% do giro
total. Ou seja, há não muito tempo os impactos de movimentos
desse tipo eram menores.
Hoje são os estrangeiros que lideram as negociações, com aproximados 35% do giro financeiro
do mercado. Uma terceira categoria importante é a dos investidores institucionais -especialmente fundos de pensão-, que respondem por um percentual próximo ao de pessoas físicas.
"O investidor pessoa física costuma ficar mais nervoso com os
períodos de crise e turbulência.
Ainda vai levar um tempo para o
pequeno investidor ter mais sangue frio, posicionar-se em boas
ações e não fugir do mercado
quando o cenário não for muito
positivo", diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Sênior.
A atual crise política começou a
se tornar mais grave após as acusações do esquema do "mensalão" feitas pelo deputado Roberto
Jefferson em entrevista à Folha no
começo de junho.
O desempenho da Bovespa no
ano está bastante fraco em comparação a outras opções de investimento. A valorização registrada
pelo Ibovespa (principal índice e
referência do mercado doméstico) em 2005 está em 2,88%.
A caderneta de poupança, a
mais conservadora das aplicações
do mercado, tem uma rentabilidade de 6,07% no ano.
Riscos futuros
O que pode atrapalhar o fluxo
de capital externo para o mercado
doméstico é a escalada do petróleo. O barril do produto subiu durante toda a semana passada. No
ano, o petróleo já aumentou 54%
em Nova York. Esse cenário pode
estragar o humor dos investidores
internacionais e aumentar a aversão ao risco de ativos -papéis de
dívida, ações- de emergentes.
A concretização dessa possibilidade poderá ser bem ruim para a
Bovespa. "Pelo menos os estrangeiros ainda estão mais comprando que vendendo ações no mercado brasileiro e ajudando a dar ânimo à Bolsa", afirma Kondo.
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