São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Turbulência encarece o custo da dívida

Tesouro oferece títulos prefixados pagando 11,3% ao ano, contra 10,8% em julho, interrompendo trajetória de baixa

Órgão diz que manteve ofertas para mostrar que há demanda para papéis do país; vencimentos crescerão em setembro e outubro

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional está sendo obrigado a pagar juros mais altos nos títulos que vende ao mercado financeiro em razão da crise que atinge os mercados financeiros mundiais.
Nas últimas duas semanas, as taxas cobradas pelos investidores na compra dos papéis que têm os juros definidos no momento do leilão, os chamados prefixados, voltaram para percentuais próximos ao que o governo vinha pagando em maio.
No início de julho, o governo conseguia ofertar títulos prefixados com vencimento em 2009 pagando juros de 10,76% ao ano. Na semana passada, a taxa havia subido para 11,31% ao ano. O mesmo aconteceu nos títulos de dez anos: os juros pré-crise eram de 10,75% ao ano e subiram para 11,45% ao ano. Já nos títulos de três anos, o aumento foi de 10,8% ao ano para 11,42% ao ano.
Na prática, isso significa que o governo terá uma despesa maior com juros no futuro. Segundo os cálculos feitos pela Mauá Invest, o custo adicional nos dois últimos leilões é de R$ 24,7 milhões, considerando o prazo final do vencimento dos títulos. É um valor baixo, considerando que a dívida total do governo alcançava em junho R$ 1,198 trilhão. Mas a mudança interrompe a trajetória de queda dos juros que o país paga para financiar sua dívida.
Para evitar um prejuízo ainda maior, o Tesouro Nacional mudou a sua estratégia desde o dia 25 de julho, quando a crise nos mercados mundiais se agudizou. Em 26 de julho, por exemplo, não houve leilões.
Nas duas últimas semanas, com a turbulência, o governo decidiu reduzir os valor de títulos ofertados. Na semana pré-crise, por exemplo, foram colocados à venda R$ 4 bilhões em papéis com vencimento em outubro de 2009. Nos dois últimos leilões, a oferta caiu para R$ 1 bilhão e, num deles, o Tesouro aceitou vender apenas R$ 210 milhões.

Permanecer no mercado
"Consideramos importante que o Tesouro permaneça no mercado. É uma forma de dar tranqüilidade aos investidores e de mostrar que temos demanda. O que fazemos é adotar uma posição mais conservadora no volume vendido", disse o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Paulo Valle.
Mas, enquanto agosto foi um mês com vencimentos muito baixos na dívida pública -só R$ 3,7 bilhões-, permitindo ao Tesouro reduzir a oferta de títulos, eles crescerão significativamente nos próximos meses: cerca de R$ 50 bilhões em setembro e R$ 30 bilhões em outubro.
As vendas semanais do Tesouro, mesmo com juros mais elevados, são consideradas importantes pelo economista Caio Megale, da Mauá Invest. Segundo ele, o custo ainda é muito baixo diante da sinalização de que o governo continuará seguindo a estratégia de longo prazo, que é aumentar a participação dos prefixados na dívida pública, mesmo em momentos de volatilidade.
A alternativa aos juros mais altos pedidos pelo mercado é o governo usar as reservas internacionais que tem em caixa -superiores a US$ 150 bilhões- para quitar a dívida que vence enquanto durar a turbulência ou dar preferência aos títulos pós-fixados, cuja taxa de juros varia diariamente.
"Não há a menor necessidade de reduzir as emissões de prefixados. Se olharmos a taxa atual, mesmo com a crise, ela é menor do que o governo pagava no começo do ano. Esse é ainda um estresse moderado para padrões brasileiros", disse o economista Joel Bogdanski, do Banco Itaú.


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