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Turbulência encarece o custo da dívida
Tesouro oferece títulos prefixados pagando 11,3% ao ano, contra 10,8% em julho, interrompendo trajetória de baixa
Órgão diz que manteve ofertas para mostrar que há demanda para papéis do país; vencimentos crescerão em setembro e outubro
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro Nacional está sendo obrigado a pagar juros mais
altos nos títulos que vende ao
mercado financeiro em razão
da crise que atinge os mercados
financeiros mundiais.
Nas últimas duas semanas, as
taxas cobradas pelos investidores na compra dos papéis que
têm os juros definidos no momento do leilão, os chamados
prefixados, voltaram para percentuais próximos ao que o governo vinha pagando em maio.
No início de julho, o governo
conseguia ofertar títulos prefixados com vencimento em
2009 pagando juros de 10,76%
ao ano. Na semana passada, a
taxa havia subido para 11,31%
ao ano. O mesmo aconteceu
nos títulos de dez anos: os juros
pré-crise eram de 10,75% ao
ano e subiram para 11,45% ao
ano. Já nos títulos de três anos,
o aumento foi de 10,8% ao ano
para 11,42% ao ano.
Na prática, isso significa que
o governo terá uma despesa
maior com juros no futuro. Segundo os cálculos feitos pela
Mauá Invest, o custo adicional
nos dois últimos leilões é de R$
24,7 milhões, considerando o
prazo final do vencimento dos
títulos. É um valor baixo, considerando que a dívida total do
governo alcançava em junho
R$ 1,198 trilhão. Mas a mudança interrompe a trajetória de
queda dos juros que o país paga
para financiar sua dívida.
Para evitar um prejuízo ainda maior, o Tesouro Nacional
mudou a sua estratégia desde o
dia 25 de julho, quando a crise
nos mercados mundiais se agudizou. Em 26 de julho, por
exemplo, não houve leilões.
Nas duas últimas semanas,
com a turbulência, o governo
decidiu reduzir os valor de títulos ofertados. Na semana pré-crise, por exemplo, foram colocados à venda R$ 4 bilhões em
papéis com vencimento em outubro de 2009. Nos dois últimos leilões, a oferta caiu para
R$ 1 bilhão e, num deles, o Tesouro aceitou vender apenas
R$ 210 milhões.
Permanecer no mercado
"Consideramos importante
que o Tesouro permaneça no
mercado. É uma forma de dar
tranqüilidade aos investidores
e de mostrar que temos demanda. O que fazemos é adotar uma
posição mais conservadora no
volume vendido", disse o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Paulo Valle.
Mas, enquanto agosto foi um
mês com vencimentos muito
baixos na dívida pública -só R$
3,7 bilhões-, permitindo ao
Tesouro reduzir a oferta de títulos, eles crescerão significativamente nos próximos meses:
cerca de R$ 50 bilhões em setembro e R$ 30 bilhões em outubro.
As vendas semanais do Tesouro, mesmo com juros mais
elevados, são consideradas importantes pelo economista
Caio Megale, da Mauá Invest.
Segundo ele, o custo ainda é
muito baixo diante da sinalização de que o governo continuará seguindo a estratégia de longo prazo, que é aumentar a participação dos prefixados na dívida pública, mesmo em momentos de volatilidade.
A alternativa aos juros mais
altos pedidos pelo mercado é o
governo usar as reservas internacionais que tem em caixa
-superiores a US$ 150 bilhões- para quitar a dívida que
vence enquanto durar a turbulência ou dar preferência aos títulos pós-fixados, cuja taxa de
juros varia diariamente.
"Não há a menor necessidade
de reduzir as emissões de prefixados. Se olharmos a taxa atual,
mesmo com a crise, ela é menor
do que o governo pagava no começo do ano. Esse é ainda um
estresse moderado para padrões brasileiros", disse o economista Joel Bogdanski, do
Banco Itaú.
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