São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Mulheres temem se afastar do mercado

Com alta competitividade, gestante até antecipa retorno

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
Ana Paula Andreoni, em licença-maternidade, com a filha, Nicole

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

As trabalhadoras estão recebendo bem a possibilidade de gozar mais dois meses de licença-maternidade. No entanto, elas admitem que, como acontece atualmente, nenhuma mulher conseguirá o "luxo" de se afastar completamente do trabalho no período. A alta competitividade no meio profissional e a rapidez com que empresas e mercados mudam exigem que as funcionárias continuem acompanhando os negócios; não são raras as que optam até por antecipar o seu retorno.
Segundo especialistas em recursos humanos, o tamanho da companhia é que determina quão fácil ou difícil será, para a mulher, administrar a gravidez e os cuidados com o filho.
Geralmente, dizem eles, empregadas de grandes corporações contam com maior apoio por parte do empregador nessa fase da vida. Logo no início da gestação, podem começar a planejar a licença, distribuindo entre os colegas as suas tarefas. Depois que saem, muitas executivas permanecem em contato com o escritório, checando e-mails, telefonando para os chefes. Para as que ocupam cargos elevados, as empresas chegam a montar escritórios completos nas suas residências.
"Existe muito medo de fazer essa pausa", diz Carmelina Nickel, da consultoria em recursos humanos DBM. "Porém, se a executiva está atuando em uma companhia madura, tem condições de negociar. E aí volta segura para as suas atividades."

Benefício
As vantagens de ter colaboradores mais satisfeitos foram sentidas na indústria de defensivos agrícolas paulista Fersol, quando a empresa decidiu implantar a licença-maternidade de seis meses para suas funcionárias. "A ausência programada do colaborador é muito melhor, para nós, do que vê-lo saindo correndo porque o filho está doente ou com problemas na escola. Quando passa mais tempo com os pais, a criança é mais saudável física e mentalmente", afirma Michael Haradom, presidente da Fersol.
A Nestlé é outra companhia que se adiantou à lei, adotando a licença de seis meses em setembro de 2007. Usufruindo dessa concessão, a analista de marketing Ana Paula Andreoni, 37, está em casa agora cuidando de Nicole, sua primeira filha, que nasceu em 21 de julho. "Tudo foi muito bem conversado com a gerência e a diretoria", conta. "Dois meses adicionais de licença proporcionam à mulher maior tempo para a amamentação e para curtir esse momento. Ao regressar, estamos tranqüilas."
A realidade é bem diferente nas pequenas empresas. "As funcionárias precisam usar a criatividade para aproveitar os quatro meses", explica Lúcia Garcia, coordenadora nacional das pesquisas de trabalho do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
"Não acredito que a extensão do período da licença vá reforçar o preconceito que existe contra a mulher no mercado profissional. A discriminação ainda persiste, mas de maneira difusa. Por exemplo, no caso daquela que vai ser mãe, a idade em que ela tem filhos se ampliou bastante, então fica difícil deixar de contratar uma funcionária por conta disso", afirma Garcia.
"Essa nova lei é uma expressão do avanço cultural da sociedade e do poder cada vez maior das mulheres, cuja participação no mercado de trabalho está crescendo. Ademais, elas são eleitoras", avalia.


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