São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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AVIAÇÃO

Preços das passagens de executivos caíram 9,26% até junho, apesar da alta de 24% divulgada por companhias

Empresa aérea faz reajuste de "ficção" em guerra de tarifas

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

As companhias aéreas efetuaram no primeiro semestre reajustes oficiais médios de 24% nos preços dos bilhetes, segundo o DAC (Departamento de Aviação Civil). A Folha apurou, no entanto, que esses reajustes não ocorreram na prática. A briga por um mercado concorrido fez que as empresas adotassem uma política extremamente agressiva de preços, até mesmo com redução de valores praticados em 2001. Isso explica a queda no faturamento das empresas neste ano.
Levantamento da Favecc (entidade que representa agências especializadas em intermediar passagens para executivos) mostra que os valores dos bilhetes para viagens domésticas na realidade baixaram em média 9,26% no primeiro semestre. Os preços caíram da média de R$ 386,35 dos seis primeiros meses de 2001 para R$ 350,54.
No caso das passagens internacionais, a queda foi maior: 22,4 %. Baixaram da média de R$ 3.546,88 para R$ 2.751,39.

Ficção
Os dados da Favecc provam que as remarcações de preços dos bilhetes das companhias aéreas muitas vezes são mera ficção, ao menos para os executivos que viajam frequentemente.
Empresas aéreas têm adotado, por exemplo, políticas de redução de preços para passagens adquiridas com maior antecedência. O objetivo é tentar sobreviver em um mercado superconcorrido, que fatura cerca de R$ 9 bilhões por ano.
Companhias como Varig, TAM, Vasp e Gol, além de internacionais como a American Airlines e a United Airlines, têm disputado os passageiros com políticas agressivas de venda de bilhetes para executivos, por exemplo.
Quem paga o preço caro da tabela oficial das empresas é muitas vezes quem sai de férias e compra bilhetes na última hora.
"Essa disparidade entre valores oficiais e os preços efetivamente cobrados nas agências ocorreu muito no primeiro semestre, quando as companhias entraram em uma guerra tarifária", afirma o consultor Carlos Martinelli.
Segundo ele, esse tipo de política é nociva às empresas porque o lucro sobre o assento vendido passa para patamares muito baixos, que não pagam as despesas das companhias. A Varig, por exemplo, adotou em maio e junho uma política de desconto de 50% nos preços de todos seus bilhetes domésticos. No primeiro semestre, teve um prejuízo recorde de R$ 1,041 bilhão.

Mercado
A Favecc representa 26 grandes agências especializadas em atender executivos. Elas respondem por 33% das vendas de passagens no Brasil. O levantamento sobre a queda dos preços não usou os dados da agência de viagens da American Express.
Mauro Swartzman, vice-presidente da entidade, afirma que a guerra de preços das companhias aéreas foi extremamente nociva para as agências. "Elas trabalharam mais, com ganhos menores nas comissões devido à redução dos preços", diz Swartzman.
O faturamento da venda de passagens aéreas das agências foi de R$ 1,454 bilhão no primeiro semestre, 2,8% abaixo do R$ 1,496 bilhão do mesmo período de 2001. "Faturamos de janeiro a junho de 2002 apenas 80% do que prevíamos."
Segundo um executivo de uma empresa de aviação, não faz sentido as companhias aéreas trabalharem com preços baixos enquanto não resolverem problemas administrativos como a ociosidade dos aviões. Ainda mais num país que tem empresas aéreas demais para pessoas com poder aquisitivo de menos.


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