São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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Socorro do governo para aviação é insuficiente, afirma dono da Vasp

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O empresário Wagner Canhedo, 66, dono da Vasp, afirma que, a exemplo do que ocorreu em 2001, a empresa irá, neste ano, apresentar lucro no balanço, apesar de toda a crise que atravessa o setor. No ano passado, a Vasp foi a única das grandes empresas aéreas a fechar o balanço no azul, com um lucro de R$ 36 milhões.
"A Vasp é a que está menos ruim nesse mercado", diz. Sobre a fusão entre as três maiores companhias aéreas (Varig, Vasp e TAM), Canhedo diz que essa é a melhor solução para o setor. Para ele, a fusão não aconteceu ainda porque falta uma decisão das outras companhias.
Canhedo considera também o pacote aéreo do governo insuficiente para resolver os problemas do setor. Ele espera medidas adicionais, como o fim da cobrança do ICMS sobre os combustíveis, "Seria um alívio". A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - O que o sr. achou do pacote aéreo do governo?
Wagner Canhedo -
Foi pelo menos o primeiro passo, mas o setor necessita de muito mais. O pacote não atende as necessidades das empresas aéreas e o governo tem consciência disso, tanto que está estudando outras medidas para melhorar as condições do setor.

Folha - Que medidas seriam essas?
Canhedo -
Não sabemos o que o governo vai decidir. Há uma série de medidas que o governo pode tomar para ajudar o setor. A eliminação do ICMS sobre o combustível, por exemplo, é uma reivindicação do setor e, se fosse adotada, iria dar uma grande ajuda às companhias, já que teria um efeito imediato sobre o caixa das empresas. Nós estamos precisando de medidas que possam melhorar o nosso caixa.

Folha - A Vasp também irá recorrer ao BNDES?
Canhedo -
A Vasp está aguardando a decisão do BNDES em relação ao pedido da Varig para também seguir o mesmo caminho. Nós vamos solicitar ao BNDES o que for possível.

Folha - Como estão as finanças da Vasp?
Canhedo -
A Vasp é a que está menos ruim nesse mercado. A situação da Vasp não é ótima, mas ninguém está numa situação ótima. Afinal, nós vendemos em real e compramos em dólar.

Folha - A que o sr. atribui o fato de a "Vasp ser a menos ruim do mercado'?
Canhedo -
Eu acho que fizemos o dever de casa antecipadamente. Foi isso que nos ajudou a termos a posição confortável de agora. Nós cortamos custos, paramos de fazer viagens internacionais, adaptamos a empresa à realidade. A Vasp promoveu duas grandes reestruturações desde quando compramos a empresa (em 1990). Hoje, temos quatro mil funcionários para 32 aeronaves. Ou seja, pouco mais de 100 funcionários por aeronave, praticamente sem terceirização. Nós já tivemos mais de o dobro de pessoal por aeronave.

Folha - As empresas de aviação estão operando no vermelho. Quais são as perspectivas da Vasp para este ano?
Canhedo -
Nós não estamos no vermelho. Nós fecharemos o ano no azul.

Folha - E a dívida?
Canhedo -
A dívida da Vasp é pequena (só ao INSS, a Vasp deve R$ 600 milhões), mas, além disso, temos créditos a receber do governo federal. Esses créditos são suficientes para quitarmos a dívida. Só estamos aguardando a decisão final da Justiça. Quando isso acontecer, vamos fazer uma limpeza no nosso balanço. Na verdade, vamos até ter créditos a receber.

Folha - O que o sr. acha da fusão entre as empresas aéreas?
Canhedo -
Sou totalmente favorável à fusão das três grandes empresas (Varig, Vasp e TAM). Essa será a solução do futuro e, se pudermos antecipá-la, vamos ganhar tempo e dar mais conforto aos passageiros.

Folha - O que falta para a fusão?
Canhedo -
Acho que está faltando uma decisão comercial das outras companhias.

Folha - Como se daria a fusão?
Canhedo -
Não vejo muitas dificuldades. Se partirmos para uma fusão, acho que o que precisa ser considerado é o ativo real e não o valor intangível das empresas.

Folha - Quais os planos da Vasp para o futuro?
Canhedo -
A Vasp está pronta para crescer. Nós devemos dobrar o número de aeronaves dentro de um a dois anos. Para isso, estamos conversando com a Embraer, a Airbus e a Boeing. A Vasp irá dar seu grande salto.


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