São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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Globalização inexiste, diz pesquisador inglês

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto muitos economistas debatem os efeitos e consequências da globalização, Alan Rugman, da Universidade Indiana e do Templeton College de Oxford é taxativo: "globalização, da maneira como muitos a colocam, não existe e nunca existiu".
Rugman diz que são poucos os setores em que faz sentido falar em globalização. Excluídas áreas como a eletrônica, diz, não faz sentido que as empresas adotem estratégias mundiais. Não só não faz sentido, diz o pesquisador, como elas realmente não o fazem.
Longe de serem globais, as empresas concentram seus negócios em poucas regiões. A maior parte do comércio e da produção das grandes multinacionais, diz Rugman, concentra-se no que ela chama de tríade: Japão, Europa e América do Norte.
Mesmo assim, poucas das 500 maiores empresas do mundo atuam nas três regiões. A maioria, afirma Rugman, concentra suas atividades em uma ou duas delas.
"Os fatos falam por si: mais de 85% dos carros produzidos nos EUA, são feitos por empresas norte-americanas. Mais de 90% dos carros produzidos na União Européia são vendidos na região."
Os livros de negócios, diz Rugman, ensinam que a globalização, de acordo com uma definição simples e direta, leva à produção e distribuição de produtos homogêneos em escala mundial. Ou seja, os mesmos produtos seriam vendidos em Londres, Nova York, Lima ou São Paulo. "Mas a realidade é diferente da teoria."
Não existem produtos globais, diz Rugman. "As multinacionais tem que adaptá-los. Não existe, por exemplo, um carro global. O Camry, da Toyota, que está entre os mais vendidos nos EUA, vende muito pouco no Japão."
Para o pesquisador, existem limites estreitos para a padronização de produtos. "Cultura ainda importa quando nós vamos escolher nosso carro ou o meio pelo qual vamos lavar nossa roupas."
Não são só as dificuldades para vender a mesma coisa no mundo todo que torna as empresas menos globais. Segundo o economista, as empresas também têm tido resultados frustrantes em seus investimentos internacionais.
Rugman elabora todos os anos um índice de lucratividade das operações internacionais das 500 maiores empresas do mundo. A primeira constatação da pesquisa foi justamente que poucas delas atuam no mundo todo. A segunda: das que atuam, muitas não têm sido bem sucedidas.
Algumas companhias têm operações muito lucrativas. Mas uma parte significativa viu suas tentativas de ganhar com a globalização ter resultados, no mínimo, muito menos atraentes do que o esperado. O desempenho ruim, diz Rugman, já teria iniciado um período de reavaliação, com as empresas voltando a concentrar-se em suas regiões de origem.
A tendência, diz o pesquisador, é que cada vez mais as empresas atuem e se instalem em "clusters" -regiões onde um grupo grande de companhias que estão no mesmo mercado atuam. É o caso, por exemplo, do Vale do Silício, nos EUA, onde concentra-se um grande número de empresas de tecnologia e internet.


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