São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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INTEGRAÇÃO

Com visões antagônicas sobre abertura, Williamson e Rodrik defendem redução de barreiras nos países ricos

Consenso contra pobreza pára na imigração

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os economistas Jeffrey Williamson e Dani Rodrik discordam em praticamente tudo quando o assunto é globalização, menos em uma coisa: ambos dizem que o relaxamento das leis de imigração dos países ricos faria a integração econômica mundial diminuir a pobreza nos países subdesenvolvidos.
Ambos ensinam na mesma instituição, a Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
A receita parece simples: se os trabalhadores dos países pobres pudessem migrar e procurar emprego no mercado de trabalho dos países mais ricos, poderiam ter acesso a salários melhores. A redução da oferta de trabalho, por sua vez, faria os salários subirem nas regiões mais pobres.
Mas as coincidências param por aí. Williamson é um defensor do processo de globalização e da abertura comercial, que, diz, ajudariam países pobres a alcançar o mesmo nível de desenvolvimento dos seus parceiros mais ricos.
Rodrik está no campo oposto e é um dos mais ferrenhos críticos das políticas de abertura e de desregulamentação, que ficaram conhecidas como o receituário do Consenso de Washington. Para Rodrik, ficou menos pobre quem ignorou parte da receita e adotou políticas hoje condenadas por instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Williamson recorre a 500 anos de história para tentar provar suas teses. Diferentemente de muitos economistas, para os quais Cristóvão Colombo teria inaugurado a era da globalização, ele afirma que o mundo demorou três séculos para começar a se integrar. "Os séculos que se seguiram aos grandes descobrimentos foram um período de antiglobalização", afirma. "Era um mundo de monopólios concedidos pelos governos, grandes barreiras ao livre comércio, pirataria e altos custos de transporte. O boom de comércio mundial teria sido muito maior sem essas intervenções."
A globalização começa, diz Williamson, a partir de 1820, quando os preços das mercadorias transportadas ao redor do mundo começaram a convergir, os custos de transporte cair e as políticas mercantilistas foram desmontadas e quando começam as grandes ondas de imigração.
"Mas o mundo globalizado entrou completamente em colapso durante as duas Guerras Mundiais. Barreiras à imigração foram impostas, restringindo a capacidade da população pobre de fugir da miséria e tentar encontrar algo melhor. Barreiras que existem ainda hoje, um século depois."
Uma nova onda de integração começou em 1950, diz o economista. Mas a liberalização ajudou os pobres? Ajudou alguns. Não todos, porque, afirma Williamson, a maior parte da liberalização do comércio ocorreu entre os países mais ricos.
Rodrik não vê os benefícios que o colega afirma terem ocorrido. Ao contrário, afirma, quem cresceu e se desenvolveu no período pós-guerra foram os países que ignoraram as políticas de abertura e desregulamentação.
O economista diz que não há receita única para o desenvolvimento. "Os europeus quiseram a integração e criaram um enorme sistema de proteção social. O Japão alcançou o ocidente combinando uma máquina exportadora dinâmica, com largas doses de ineficiência nos setores de serviços e agrícola. Muitos dos países asiáticos fizeram um milagre econômico lançando mão de políticas que há muito foram "banidas" pelas regras da OMC [Organização Mundial do Comércio]."
Os países deveriam copiá-los? Não, diz acreditar Rodrik. A história de cada região torna difícil seguir os mesmos caminhos e adotar as mesmas instituições de outras. "Não há a receita mais correta. A Escandinávia era a queridinha de todos nos anos 70, o Japão nos anos 80 e os EUA eram os reis indiscutíveis nos anos 90."


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