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LUÍS NASSIF
A nova doutrina
O país está atravessando
atualmente uma mudança de paradigmas similar ao
que ocorreu na primeira metade dos anos 90. Na época, as
mudanças refletiam a queda
do Muro de Berlim e a abertura da economia brasileira.
Agora, refletem dois fenômenos: a eleição do primeiro partido de esquerda, o PT, sua tentativa de ocupar o espectro do
centro-esquerda; e o início do
processo de pensar o país como
nação e de o tema interesse nacional começar a entrar no debate público.
Esses dois fenômenos dão um
nó na maneira convencional
de pensar o país e explicam o
comportamento de perplexidade de muitos analistas. O
conceito de interesse nacional,
se bem colocado, subverte completamente a lógica do conflito
que sempre imperou nas relações econômicas e sociais.
O conceito do interesse nacional tem que ser inclusivo,
tem que somar forças, tem que
ser projeto de nação, não de
partido ou de governo. Não é
coincidência que surja no momento em que o país avançou
em muitas frentes na idéia da
colaboração.
Hoje em dia, os pactos nas
cadeias produtivas substituem
os freqüentes atritos do passado, entre compradores e fornecedores. No sindicalismo,
vêem-se as centrais sindicais e
a CNI (Confederação Nacional
da Indústria) discutindo projetos de país.
No plano ideológico, o que
ocorre é o encurtamento do espaço da esquerda mais radical,
hoje restrita ao PSTU e às universidades públicas. No campo, o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem
Terra) continua dependente
do Estado e do desemprego.
O fato de o Brasil ter se convertido em uma sociedade
complexa muda o cenário do
embate das idéias. O velho
conceito de doutrinação tem
que ser substituído por processos menos rígidos. As doutrinas (como corpo fechado de
idéias) floresciam porque havia uma sociedade simples,
não organizada, com os demais setores não desenvolvendo conceitos ou paradigmas
próprios.
Em uma sociedade complexa, a quantidade de atores políticos é muito mais ampla. É o
CEO da multinacional, é a
grande empresa nacional, são
os sindicatos, é a comunidade
científico-tecnológica, são os
grupos de qualidade, são as pequenas empresas, em um emaranhado matricial. Por exemplo, é possível que o mesmo
conjunto de empresas tenha
sua comunidade de soldados
da inovação, da qualidade, do
voluntariado, ou entre os mesmos grupos ou em grupos diferentes.
Essa sofisticação impede a
pasteurização de pensamento
-característica do ativismo
doutrinário. Exige que as
idéias fortes, integradoras, sejam difundidas, não impostas
e apropriadas pelos diversos
grupos sociais e técnicos.
Por exemplo, as idéias da
mundialização, da integração
com a América do Sul, da integração competitiva do país são
suficientemente fortes e horizontais para serem integradoras. Permitem que cada soldado da qualidade e da inovação, cada executivo, cada sindicato vislumbre o mesmo objetivo final na sua ação. É essa
visão de conjunto, não imposta, que permitirá romper com
a dependência mental que caracteriza as sociedades subdesenvolvidas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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