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POLÊMICA
Projeto da Lei de Biossegurança deve ser votado no Senado amanhã
Governo tenta aprovar, de vez, plantio de soja transgênica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo tenta aprovar amanhã o projeto de Lei de Biossegurança, que liberará de uma vez o
plantio de soja transgênica no
Brasil e, pela primeira vez, permitirá a comercialização das sementes geneticamente modificadas.
Os líderes do Senado marcaram
para hoje de manhã uma reunião
no gabinete de Aloizio Mercadante (PT-SP), líder governista, para
negociar os últimos detalhes de
um acordo. Para garantir a votação no plenário, o governo teria
que conseguir, antes, votar uma
medida provisória e um projeto
de lei que estão travando a pauta.
A última versão da Lei de Biossegurança, divulgada ontem, é
uma derrota para os ministérios
da Saúde e do Meio Ambiente. Favorece a Monsanto, a bancada ruralista no Congresso e os setores
do governo mais favoráveis ao
uso de transgênicos.
O projeto apresentado pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB)
mantém o poder da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) de emitir pareceres
conclusivos sobre os riscos de
biossegurança de um produto
transgênico. Isso significa que os
ministérios do Meio Ambiente e
da Saúde não terão poder para vetar decisões da CTNBio, como a
liberação comercial de um produto geneticamente modificado.
Na versão aprovada na Câmara,
a comissão tinha só o poder de
autorizar de forma definitiva as
pesquisas. A autorização final para comercialização era prerrogativa da Saúde e do Meio Ambiente.
Os dois ministérios já haviam
sofrido essa derrota na primeira
votação que o projeto teve na Comissão de Educação no Senado. O
senador Osmar Dias (PDT-PR) já
havia retirado esse poder da Anvisa e do Ibama.
A versão de Suassuna, no entanto, limita um pouco a força da
CTNBio. No projeto de Dias, se
um dos órgãos da Saúde ou do
Meio Ambiente discordassem da
decisão, eles teriam de recorrer à
própria CTNBio. Agora, o recurso
será feito ao CNBS (Conselho Nacional de Biossegurança).
Suassuna também retirou a cobrança de uma contribuição sobre a comercialização de transgênicos. Com isso, não haverá mais
a criação de um fundo para financiar pesquisas na área.
Liberação da soja
Com relação ao uso da soja
transgênica, Suassuna foi mais
flexível. Em vez de incluir um artigo que libera o cultivo para a safra
2004/2005, o senador decidiu autorizar o plantio da semente
transgênica para sempre.
Segundo ele, o texto desobriga
que em todos os anos seja necessário a aprovação do plantio e da
colheita de soja transgênica. A
primeira vez que o governo autorizou a venda de soja geneticamente modificada foi em 2003,
por meio de uma medida provisória. Naquele mesmo ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
editou MP que liberou o plantio
na safra passada (2003/2004).
O senador também autorizou a
venda de sementes de soja transgênica, que eram proibidas pela
medida de Lula. Isso significa que
a Monsanto poderá vender as
suas sementes no Brasil. Na safra
passada, foi autorizado apenas o
cultivo de sementes que foram reservadas pelo próprio agricultor.
Segundo a Folha apurou, o que
menos preocupa a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) é a
aprovação definitiva da soja
transgênica e de suas sementes.
O Meio Ambiente e a Saúde estão preocupados é com os poderes excessivos da CTNBio, que retira a capacidade dos órgão vinculados aos ministério de intervir
diretamente no processo.
Problemas
Se aprovado no Senado, o texto
terá de voltar à Câmara devido às
alterações feitas pelos senadores.
Parlamentares ouvidos pela Folha afirmaram que não há uma situação favorável na Câmara para
a aprovação do projeto em tempo
hábil para o plantio e a colheita da
soja transgênica.
Eles apontaram duas soluções
para a questão da safra 2004/2005.
Na primeira, um parágrafo que
permita a comercialização da soja
transgênica seria adicionado a
uma MP que já está em votação
na Câmara. A oposição, no entanto, vem obstruindo a pauta da Casa. A outra opção seria a edição de
uma nova MP.
Ao repetir o que já havia dito o
presidente Lula, o ministro José
Dirceu (Casa Civil) disse ontem
que o governo não pretende editar nova medida provisória sobre
transgênicos.
O texto está sendo analisado pelas comissões de Assuntos Sociais,
de Assuntos Econômicos e Constituição Justiça e Cidadania. Foi
acertado que o texto de Suassuna
seria apreciado hoje, de uma única vez, nas três comissões. A votação no plenário está prevista para
amanhã, mas Osmar Dias disse
que não apoiará a aprovação do
relatório de Suassuna.
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