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Brasil pode sobretaxar
produtos americanos
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil quer usar autorização
da OMC (Organização Mundial
do Comércio) para retaliar os Estados Unidos e barganhar com o
parceiro concessões comerciais.
O país prepara uma lista de produtos norte-americanos que poderiam ser sobretaxados.
Segundo o secretário-executivo
da Camex (Câmara de Comércio
Exterior), Mário Mugnaini, não é
interesse do governo brasileiro
aplicar sobretaxas a esses produtos, mas a lista pode ser usada pelo país como um trunfo em outras
negociações.
A OMC autorizou um grupo de
países a retaliar os Estados Unidos devido à aplicação da chamada "Emenda Byrd". O dispositivo
permite que as sobretaxas cobradas de outros países por dumping
sejam revertidas para as empresas
que reclamaram da prática.
A decisão da OMC garante ao
Brasil o direito de retaliar os norte-americanos em cerca de US$ 3
milhões por ano. Até agora, o governo brasileiro não tinha se posicionado sobre o assunto.
"A lista vai ser feita. Os ministros [que compõem a Camex] decidirão, então, se uma eventual retaliação será aplicada", disse
Mugnaini.
Ele lembra, porém, que o Brasil
nunca retaliou parceiros comerciais. Além disso, segundo ele, o
país não importa produtos supérfluos dos EUA. Isso significa que
uma retaliação -leia-se sobretaxa- poderia prejudicar os próprios brasileiros e encarecer produtos comercializados no país.
A lista de produtos passíveis de
retaliação pode, no entanto, ser
usada pelo Brasil na negociação
de outras disputas comerciais
com os Estados Unidos. Mugnaini cita como exemplo o caso do
camarão brasileiro.
"Carta na manga"
Os EUA impuseram sobretaxas
ao camarão importado do Brasil
que podem chegar a 70%. Em seis
meses, a perda dos produtores
brasileiros já soma US$ 30 milhões. "A lista é uma carta na
manga", declarou o secretário-executivo da Camex.
O assunto foi discutido ontem
na reunião da câmara. Participaram do encontro os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento)
e Guido Mantega (Planejamento),
além de representantes do Itamaraty e do Ministério da Agricultura.
Mugnaini explicou que o Brasil
tem cerca de três meses para apresentar uma comunicação à OMC
sobre o conteúdo da lista. "Estamos numa fase muito preliminar."
Não é primeira vez que o Brasil
tem o direito de retaliar um parceiro comercial. No caso Embraer/Bombardier (empresas
produtoras de aviões), o governo
brasileiro também obteve o direito de sobretaxar importações do
Canadá. Na época, os canadenses
também conseguiram permissão
da OMC para criar barreiras às
exportações do Brasil. Nenhum
dos países usou o direito.
Colaborou André Soliani,
da Sucursal de Brasília
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