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Petrobras ameaça recorrer ao Bird contra Morales
"Não vou admitir ser expulso da Bolívia", diz o presidente da empresa brasileira
Gabrielli afirma que tribunal de arbitragem do Banco Mundial pode determinar ressarcimento dos investimentos brasileiros
TALITA FIGUEIREDO
SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Antes de o governo da Bolívia
confirmar que havia congelado
a medida de se apossar das receitas das refinarias da Petrobras, o presidente da estatal,
José Sérgio Gabrielli, dissera
que não aceitaria que a empresa fosse "expulsa" do país e que
ela iria "aonde for preciso para
defender seus investimentos"
no país. Ele reforçou a posição
do ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) de que a resolução do Ministério dos Hidrocarbonetos e Energia da Bolívia
inviabiliza a presença da Petrobras no refino de petróleo.
"Vou sair, mas num processo
que tem que ter resolução dos
contratos, eliminação de pendências, ressarcimento de
meus investimentos. Vou sair,
mas não vou ser expulso da Bolívia. Vou sair da forma legal, da
forma que eu entrei. Não vou
admitir ser expulso da Bolívia."
Gabrielli disse que o primeiro passo, se o governo Evo Morales vier a levar a medida
adiante, será recorrer ao próprio ministério com o objetivo
de que seja revogada a resolução do ministro Andrés Soliz
Rada. A empresa tem dez dias
para apresentar o recurso. Caso
ele seja desprezado, a empresa
irá à Justiça boliviana para tentar anular a decisão.
Se o recurso for em vão, a Petrobras vai recorrer ao Centro
Internacional para Arbitragem
de Disputa sobre Investimento,
órgão do Bird (Banco Mundial),
em Washington. A subsidiária
da empresa na Bolívia pertence
à empresa que a Petrobras tem
na Holanda, segundo Gabrielli.
Esse recurso só pode ser apresentado seis meses após o início das negociações.
O presidente da empresa
afirmou que o centro não tem
poderes para revogar a resolução do governo boliviano, mas
que, se considerar que o governo brasileiro foi prejudicado
pelo boliviano, poderá exigir
um ressarcimento dos investimentos realizados. A Petrobras
pagou US$ 100 milhões pelas
duas refinarias.
"Se ele [o governo boliviano]
se recusar [a cumprir a decisão
do Centro Internacional], serão afetadas as relações da Bolívia no mercado internacional."
"Consideramos também que
há uma certa imprecisão e uma
certa indefinição de quais são
os rumos reais e para onde quer
ir o governo boliviano nas negociações com a Petrobras."
Gabrielli rechaçou a declaração de Soliz Rada de que a empresa teve lucro de pelo menos
US$ 320 milhões no período
em que mantém as refinarias
na Bolívia e disse que o número
apresentado é um "equívoco"
do ministro. O presidente informou que, nos últimos seis
anos, a empresa obteve lucro de
US$ 85,3 milhões.
Gás natural
Gabrielli disse que a questão
do gás natural não está contemplada na atual disputa entre a
estatal e a Bolívia. Segundo ele,
o contrato de fornecimento de
gás natural produzido na Bolívia para o Brasil não será afetado pela atual crise.
O contrato tem validade até
2019. Trata do fornecimento de
30 milhões de metros cúbicos
de gás natural por dia. Metade
do consumo brasileiro é importada da Bolívia.
"A resolução do ministério
da Bolívia refere-se essencialmente à área de refino, à comercialização de GLP, diesel e
gasolina. Portanto, não tem nada a ver com gás natural. A situação do contrato de venda de
gás natural para o Brasil é totalmente separada", afirmou ele.
Anteontem, de acordo com
Gabrielli, técnicos da Petrobras
e do ministério da Bolívia encerraram uma nova rodada de
negociações a respeito do gás
natural sem que tenha havido
divergência ou referências à situação de crise deflagrada pelo
governo boliviano em relação
ao refino. Novas reuniões sobre
o assunto foram marcadas para
o final deste mês.
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