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Lula critica "sacanagem" de Evo a poucos dias da eleição
Contrariado por ter sido surpreendido pela 2ª vez, presidente ordenou reação mais enérgica
Planalto endureceu o tom após fracasso nas primeiras tentativas de levar a Bolívia a recuar de medidas
que afetam a Petrobras
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que
achava "uma sacanagem" a decisão do presidente da Bolívia,
Evo Morales, de rebaixar as
duas refinarias da Petrobras a
prestadoras de serviço no país.
E julgava "uma sacanagem
maior ainda" fazê-lo a duas semanas do primeiro turno das
eleições no Brasil, segundo
apurou a Folha em conversas
reservadas com integrantes da
cúpula do governo.
Contrariado por ter sido pego de surpresa pela segunda
vez nas relações com o colega
boliviano, Lula deu ordem direta ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para
que a estatal endurecesse o discurso e as ações internacionais
contra o país vizinho. O petista
endureceu o tom após tentativa fracassada anteontem de levar o governo boliviano a recuar da decisão anunciada na
última terça-feira.
Ao final do dia, Lula e auxiliares comentavam que a oposição brasileira já fazia uso da
nova crise com a Bolívia. A cúpula do governo trabalha com o
cenário de reeleição de Lula em
primeiro turno (1º de outubro).
E tem buscado evitar problemas que coloquem essa possibilidade em risco. À noite, o governo boliviano informou que
havia congelado a medida por
tempo indeterminado.
Em maio, o governo Morales
anunciou a nacionalização das
reservas de hidrocarbonetos e
de multinacionais que exploravam tais produtos na Bolívia.
Lula foi surpreendido, mas reagiu com moderação. O presidente disse a auxiliares que não
o pedissem para ser duro com
um país pobre como a Bolívia.
Ele apoiou publicamente a
eleição de Morales.
A reação moderada rendeu
críticas a Lula, que orientou
seus ministros a negociar com
o governo Morales um novo
preço para o gás que o Brasil
compra do país vizinho, além
de uma eventual indenização
pelos investimentos da Petrobras em solo boliviano.
No início da semana, resolução do governo boliviano determinou que a estatal YPFB
passa a exercer o direito de
propriedade sobre toda a produção de derivados de petróleo
e de GLP (gás de cozinha).
O ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz
Rada, também defendeu um
encontro de contas para indenizar a Petrobras.
Anteontem, emissários de
Lula conversaram com o governo boliviano, que não recuou. Ontem a pressão brasileira deu resultado, com o recuo do governo Morales anunciado à noite.
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